Rugas
São como a rosa-dos-ventos, disparam em todas as direcções. Aquelas
que mais me agradam são as rugas belas. Aquelas do sorriso e da idade.
São elas que vincam um rosto. Lhe imprimem carácter. Lhe dão a sua
definição de ser.
Falo-vos de um rosto, envelhecido, certo, no entanto formoso,
corajoso, brilhante e, na sua infelicidade, feliz.
Olhos vivos e vivazes. Atentos, penetrantes. Um rosto de quem criou
sete filhos só, após a perda do marido.
Um corpo seco, musculado, perna hirta por um joelho estilhaçado pelo
coice da mula e que, com tenacidade e energia, corre rua acima, rua abaixo.
Azáfama constante e imparável!
Eram as hortas, as sementeiras, as regas, as colheitas,… Todas
deixaram as suas rugas num rosto belamente envelhecido.
Tempos livres? Artista, com certeza! Rodilhas multicoloridas, remendos
impecáveis, roupagens grosseiras mas costuradas com esmero. Também cinzelaram o
rosto belamente envelhecido.
Ralhar e chamar à atenção davam vida às rugas que, muitas vezes,
mudavam de direcção quando sorria ou lançava uma gargalhada. “ Á Coura!”
Na cama, encostada ao quentinho do seu corpo, as rugas eram
tranquilas, serenas. Paz!
O rosto, belamente envelhecido, era o rosto da minha avó. A minha avó
Clotilde.
Com saudade.
Lena
Comentários
Enviar um comentário