Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2019

Uma Maria Pires mais propriamente

E assim se optou por um determinado caminho. Escolhas que afastaram pessoas e levaram-nos a outras. Escolhas que nos fizeram perder algumas oportunidades, mas ganhar outras. Vou falar-vos de um caminho que não estava nos meus planos – Izeda. Terra pequena, pacata demais! E lá fui encontrar a Conceição. Ganhei uma oportunidade. Sim, há uma Conceição na minha vida. Uma Maria Pires mais propriamente. Minha amiga! Mulher decidida! Singular ligação! Uma riqueza! Age com retidão e franqueza! Em vez de ficar numa secura atroz, como de resto era política generalizada do local onde nos encontrámos, abria a bocarra e desatava a espingardar verdades.  Incomodava porque trabalhava com a energia típica dos loucos e sonhadores. E este último pormenor fazia, para mim, toda a diferença. E abraça como ninguém! Daqueles abraços de braços abertos de quem está habituada a abrir as portas de sua casa e convidar à entrada sem hesitações. Acontecia quase sempre aparecer, logo pela manhã, com uma energia e

crer, ver, escrever

Um pequeno, mas eficaz instrumento (rudimentar, diga-se de passagem) chamado Lápis. Diz a História que o lápis já se impôs de forma implacável – e era azul. E um outro elemento se lhe junta, também eficaz e algo rudimentar – o caderninho! O meu caderninho que é a minha companhia rudimentar para todo o lado! Há quem defenda os formatos digitais, mas eu sou apologista da escrita à mão, do sarrabisco, dos esqueletos de ideias em papel que vão tomando forma à medida do risca e torna a riscar. Quando coloco, a jeito, este meu lápis, ele é capaz de trejeitos hilariantes que fazem escorregar, para este meu caderninho, desenhos que são letras e que se vão combinando em desenhos que são palavras. E essas palavras são o reflexo daquilo que me vai no espírito, acionadas pela minha mão abusadora que tudo concretiza. Às vezes, fico até perturbada por ver este bico de lápis desbravar tanto! Caio em mim, por vezes, e, outras tantas, faz com que caia nos outros. E todos eles entram neste caderninho d

Sei que vives sozinha, mas eu não posso!

Pois, pois, à janela… com grande angústia, a assistir à passagem acelerada da sua vida monótona e dos carros e dos camiões, barulho ensurdecedor das motoretas que já nem ouve. Esta velha pariu cinco filhos. No tempo em que ter cinco filhos era coisa de coragem. Agora, não tem ninguém que tenha coragem a não ser eu própria que a vejo todos os dias. E há já muito tempo que eu costumo reparar naquela velha à janela. Todos os dias, ao levantar-se às seis, vai religiosamente à janela ver se ali continua a manhã. E a manhã tem estado lá sempre. Ainda não chegou o fim (e respira de alívio!). E eu vejo-te daqui deste alpendre. Nunca te vou visitar porque não posso. Tenho coragem, mas não tenho tempo. Sei que vives sozinha, mas eu não posso! Tenho o meu tempo tomado por completo. Agora que te vejo daqui, consigo adivinhar essas tuas faces rosadas e luzidias de há largos anos assim como uns ombros largos que se prolongariam por braços espantosos, assim como uma boca deliciosa e uns peitos dig

Poderosa alfinetada que rebentou o balão...

Era assim que passava por entre a maioria das gentes que circulava naquelas ruas da cidade. Corpo de água, cabeça de ar.  Havia algo de etéreo na sua figura esguia, de cabelo esguedelhado e claro. Babava-se constantemente e amparava a baba com um lenço algo sebento. Ficava assim estática, cheirando o vento com olhos de espanto, olhando a gente por dentro no meio da rua. Os dentes podres, as unhas pretas. Causava incómodo e, para tranquilidade de todos, chamavam-lhe a louca. Debaixo do braço carregava sempre uns galhos secos, levava lenha para onde não tinha fogo onde arder. Teimosa e malcriada, gritava, por vezes no meio daquela gente toda, e os gritos atroavam as esquinas e assustava quem passava limpinho. Parecia um turbilhão de águas salgadas e agrestes! As gentes pareciam formigas solenes em procissão, encurralados até aos ossos, mas ela… liberta de jugos.  Um dia, cruzou-se com um galante de colarinhos lavados e exageradamente engravatado. Jeitosinho até às pontas dos pés! El