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A mostrar mensagens de abril, 2022

SOL!

Entro devagar na água até à cintura  e deixo-me levar… em baloiçar de ondas a água sobe e desce o corpo inunda-se de balanços tudo se torna leve e deixo-me deslizar… elevo-me a boiar fixo o céu azul  e o dia escorre por mim adentro em paz e deixo-me ficar…

são palavras que se desmastigam e me avisam

decidiu o meu corpo dar ordens de ataque e sou ninho evoluindo por entre ácidos são pedaços e pedaços minúsculos boiando regozijando-se em líquidos enredados  uma azia, um friozinho, uma agonia no estômago que vai crescendo sou eu e eu degladiando-se em excessos e embaraços embrulharam-se-me as palavras que surgem em emaranho e sobem trilhando o caminho inverso de baixo para cima empurram-nas os movimentos peristálticos e ganham forma e surgem em bocejos, arrotos e outros gemidos internos, sílabas, bocados de verbos que se vão constituindo em fonemas cada vez mais intrincados a garganta e a língua à mistura já nem respondem  são palavras que se desmastigam e me avisam que o melhor será ficar calada e aprender a respeitar as minhas entranhas

artes dançantes com fato de surfista

e pronto! -  és nadadora exímia aprendeste, portanto, as artes dançantes recupera, agora, a magia das salas vazias  e o fôlego de andar contra as correntes

à espera que a tarde acabe

À espera que a tarde acabe um vento morno que trespassa na pele dos meus braços nus e entra suave camisola adentro leve tão leve um fio outro fio de cabelo as costas cansadas as mãos descansadas tombam em teus braços o sol vai descendo devagarinho desafiando a nossa paciência E de repente começa a soar uma música louca que lembra que existe paraíso na Terra Há mesmo coisas que nunca se entenderão… mas existem porque nos atravessam como este vento morno que passa à espera que a tarde perpasse

assim

a felicidade de ser um lugar que de tão pequenino e insignificante mais ninguém quer.

não fiques de colher suspensa que a sopa arrefece*

A vida não te repete e avisa apenas uma vez Implacável. Com precisão. Sussurra com sabedoria e lentidão. E quando chega, sabes bem que é. E diz: - Não queiras ter asas desta vez atines ou desatines, está tudo na tua mão já não é responsabilidade de ninguém chegou a hora de assentares os pés no chão vai por onde julgues melhor para que sejas tu outra vez. ( o título é de Alexandre O'Neill)

Mas é casa esperança que é sempre a última a morrer

 Esta porta invariavelmente indomável,  que detesta chaves e não tem batente,  é cartão de visita desta casa imponente.  Não foi arquitetada para largos corredores ou escadarias,  nem sequer está preparada para salas de luxo.  É morada pequenina de paz e de pés,  de mesas baixas e arranjadinhas,  de móveis de todas as cores,  de vasos com flores,  de esboços e sorrisos.  É casa alegria.  É casa imperfeita e modesta,  mas com os olhos postos no mar.  É paixão. É vício. É surpresa.  De hoje em diante, eu sou esta casa como quem veste uma segunda pele. Sou casa movediça de janelas pequenas a crescer por entre as rochas.  Delas se desprendem as cortinas que esvoaçam e há calor E delas espreito o imenso oceano e tudo se ilumina.  Sei perfeitamente que nem tudo é cintilante porque há uma raiva que subsiste,  uma urgência em esquecer,  um silêncio que se impõe e que assombra.  Mas é casa esperança que é sempre a última a morrer.