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A mostrar mensagens de setembro, 2019

na mesma página

São curiosas as voltas da vida! As voltas nossas, as humanas… E dessas voltas e voltas, resultou virmos parar à mesma página Esta, agora, onde nos encontramos e que esconde revelando a mesma raíz…  esta origem inefável, irremediável esta insustentável leveza do ser E da raíz presa às entranhas da Terra surge a minha e a tua a vontade de ver surgir uma flor Esta, agora, que vemos e admiramos e de onde surge a razão do mesmo perfume dos teus dias e dos meus e nos vai amparando Em voltas e voltas de fazer virar uma e outra páginas em admirável e corajosa viagem frágil do ser! Mónica Costa

Maldita Poesia!

Mas que raio de técnica esta a da maldita poesia que não me larga uma técnica infalível e a qual contraria quase sempre a regra psicanalítica: interessa o que quer dizer mas nunca o que diz! Mónica Costa

impertinências

Uma friagem danada de exigir casaquinho e surgia a manhã em nevoeiro. E foi uma folhinha impertinente a que, de imediato, se veio pôr a meus pés Veio e pousou lenta, de verde desbotado e com insistentes achaques de amarelado. Pensava, talvez, que lhe fosse prestar a devida vénia, mas ali ficou, desprezada. Contornei-a e segui o meu caminho. Na volta, já despontava algum sol por entre as nuvens e eu, ainda bebendo a sua sombra devagar, e por dentro de mim o som do mar. Contornei-a e insiste ela em meu caminho… a mesma folha impertinente a exigir outono, a exigir intimidades. E se as folhas do outono cismarem aqui à minha porta todos os dias? convidando-me aos castanhos e amarelados? a obrigar-me a não ficar presa ao verão? anunciando que está a acabar, quando eu estou sempre disposta a começar? Mónica Costa

É esta a nossa escapatória e a nossa força!

Ainda me lembro desse dia. Era um corredor comprido e estreito cheio de portas de madeira. A meio do corredor estava a minha sala de aula. E eu pequeníssima. Não havia confusão nos corredores, apenas uns quantos jovens, circulando sem grande entusiasmo. Era uma escola secundária, daquelas que tinham estilo e cheiro de antigas escolas industriais. Nesse corredor, havia duas portas que me chamaram desde logo a atenção. A porta da sala dos professores. Fixei-a, imaginando uma nuvem de fumo (sempre achara que os professores fumavam muito). Era uma sala de porta sempre fechada e quando se abria era entreaberta apenas por alguns segundos e logo se cerrava. Era o reino da sabedoria (pensava eu). É que sempre olhei os professores como ricos (de dinheiro e sabedoria!!). Depois havia a porta da biblioteca. Escura, cheia de armários fechados de madeira escura, uma longa mesa no centro escura e livros de capa dura e com cheiro a velho. Dali a uns dias, haveria de descobrir o prazer de abrir livro

Em verdade vos digo: estou descansada! Pousei a espada…

Em verdade vos digo: estou descansada! Pousei a espada… Atirei com o elmo e afastei o escudo para bem longe E são três da tarde. Uma mesa sombreada, daquelas de esplanadas direitas e sossegadas num recanto de rua primaveril que, à partida, não serve para nada. O verão está a chegar ao fim. Não há tristeza. Há uma aragem, uma brisa suave… um quente que persiste, algumas folhas de árvore um silêncio. Pousei a espada… Há também um sol, leve sol e uma pele algo dourada Está macia e ouve o vento suave que diz: - Qualquer dia, somos outono. Estás feliz? E eu respondo que sim, claro que sim! - E porquê? E eu respondo. - Escolhi uma razão para ser alegre sem hesitação. Uma minúscula razão! Que por mais pequena que seja, ou pateta, ou ingénua, ou banal ou extravagante me possa dar à luz sem hesitação. Em defesa do que é belo e bom nesta vida. Mónica Costa (foto retirada de Pinterest)

versos pingos de mel

É também a fruta um poema Esta que agora se apresenta Tem sabor que nasce por dentro Destes versos pingos de mel Figos que se abrem e desvendam Cinco figos bem cheiinhos Prontos para a minha batalha Desbravo um, desbravo os cinco Trinco-os de uma assentada! Mónica Costa

Do Retorno...

...tudo começa com um simples e pequeno papel que recorda, de imediato, a papelada que me espera em mais um ano de serviço (bem, será se não houver novo Árctico Orçamental!). Estacionei o carro e, de imediato, deu-me aquela sensação de bílis, sabor acre e corrosivo e que, segundo estudos, fazem muito mal ao tracto gastrointestinal. O emaranhado de gente que vislumbrei, também não me entusiasmou muito a entrar no edifício... "Olá. Dá cá um beijinho!"...não sou muito de beijocar, sou mais de abraços, apertados e sentidos, mas, enfim, a sociabilidade assim o requer. "Eu sei que não gostas de beijos, mas dá cá um."...suspiro e obedeço. (Re)começou o ciclo: o ano de 2019/2020...Somos, creio eu, dos poucos que desejam Bom Ano em Setembro o que significa que a cena do Pai Natal e assim, há muito que está desactualizada. O Retorno, e sim rábulas já circulam, é pago. Não é muito, mas simboliza uma quantidade de dinheiro que vou ter de gastar ao longo do ano para exe

Molha tolos

Há uma maturidade incrível na evidência de certas crianças e uma infantilidade quase cómica na nossa vida de adultos. Fazemos anos (ou desfazemos). O quê? 40? 50 anos de birras já suficientemente fortes para nos afirmarmos enquanto indivíduos de vontade própria. Passamos de forma atabalhoada pela fase da visibilidade e, agora, que estamos a atingir o patamar da invisibilidade (que é um poder fantástico), fazemos birras por tudo e por nada só para dar nas vistas! Como dizia alguém, vivemos no limbo porque ninguém se preocupa connosco por ainda não sermos velhos, mas também ninguém se interessa verdadeiramente por já não sermos novos. Enfim, é uma chuva miudinha… é o que é! Um molha tolos!  Mónica Costa