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A mostrar mensagens de 2022

irónico

O senhor Joga Seguro sempre teve medo de voar. Fez a mala. Beijou os filhos, em jeito de despedida. E esperou. Uma vida inteira.  E nunca chegou a partir.  O avião caiu.  Aliviado, disse: «Ainda bem!» Irónico, não? Soube a chuva em dia de casamento, a dádiva pré-paga ou a bom conselho recusado. É que este senhor joga sempre pelo seguro e, portanto, já estava à espera. E esperou uma vida inteira. A vida tem a sua piada, um certo jeito sub-reptício, algo cobarde, de te ajudar quando tudo corre bem e de te afundar ainda mais quando tudo corre mal. Irónico, não? A vida tem a sua piada. Sabe, por vezes, a engarrafamento quando já estás atrasado. Parece que soa a placa do «É proibido fazer!» quando te preparas para o fazer. Sabe à sorte de teres dez mil colheres quando precisas apenas de uma faca. Sabe à angústia de encontrares, finalmente, o teu príncipe encantado com a sua encantadora companheira. Irónico, não? O senhor Joga Seguro sempre teve medo de voar. E nunca chegou a partir. Por uma

aqui em Boémia

quem és? de onde vens?  somos ou não somos inimigos? sou apenas um pobre rapaz já nem pretendo que me cresçam as asas já é tarde demais e é grande a perda já nada importa porque tal como facilmente tudo chega também muito facilmente tudo se vai é seguir em frente e encarar a verdade sou o teu companheiro ajudante uma espécie de Mefistófeles, tal mal compreendido mas, afinal, o único que entende a forma como todos somos tratados e te ajuda na fuga aqui em Boémia, correm mais rápidos os dias,  e talvez nem estejas de volta a esta hora amanhã… sabes, perfeitamente, que contamos ambos com a colaboração daquele que sabe escapar a qualquer tipo de situação Scaramouche!  Scaramouche!

vento que passa

Quantas estradas mais terão de ser percorridas? Quantos mares sobrevoados, ó branca pomba? Quantas balas mais terão de ser disparadas? Quantos anos mais existirás, ó mar,  com essa montanha ao teu lado? Quantas vezes mais conseguirás olhar sem fingir que não vês? Quantas vezes mais serás capaz de ouvir e ficar indiferente ao choro dos que estão do teu lado? Quantas mortes mais terão de acontecer? Quantas pessoas mais terão de sobreviver sem liberdade? A resposta, meu amigo, ….

amálgama feliz

e do incómodo que é vê-los dançar o do sapato fino e o do pé descalço numa amálgama feliz livres (a partir de um pormenor do fresco de Júlio Pomar, 1947, em Cinema Batalha, Porto)

na ponta do iceberg

na ponta do iceberg  fomos fugindo um do outro fomos fugindo de todos fomos fugindo de nós próprios  até ficarmos sozinhos  agarrados aos mortos e ao que já passou... não nos demos ao trabalho de arranjarmos um da nossa espécie  temos, agora,  como única bandeira uma insignificante folhita de oliveira  que nos priva de quase tudo de avançar, por exemplo não aprendemos a nadar e temos um dilúvio cá dentro e o raio da nau ganha raízes - das profundas com braços de torga que nos devora o cérebro e nos impede de ver o óbvio (trabalho artístico de Catarina Paulo)

numa qualquer praia - imensa e deserta

numa qualquer praia  - imensa e deserta mesmo que longe, mesmo que bela areal sossegado, alvura em onda foi-se o sol mas o corpo branco tremendo agarra-a se é que aprendeste a amar

então, me aviso

assim como eu que sempre escrevi e escrevo para regressar a mim de cada vez que há o perigo de um pequeno desvio então, me aviso

flor

É flor é nuvem é calor É bomba atómica é cravo é rumo É onda é átomo é árvore É asa é nódoa é rasgo é cor É ternura É sabor É coração a pulsar É querer um pouco mais de ti.

agora é que te provoca

dos que palpitam  docemente feitos da carne temperada e de sangue a ferver agora é que te provoca agora é que há tanto que se sabe agora é que há tantos dos que palpitam docemente agora é que há tantos versos para viver

um mais um é um

Um mais um é um Um só lugar O nosso lugar E, como dizia a canção,  A vida costumava ser tão difícil E agora é tão fácil  É a nossa casa! Sempre foi! Tão fácil, tão simples, tão certa!

marcas

Há mar e marcas marcas que a onda apaga e outras que o mar afaga

sometimes it takes you a long time to sound like yourself *

Miles Davis disse, a certa altura, que por vezes leva muito tempo até podermos “soar” a nós mesmos. Nada mais acertado e poético. Acertado porque levamos uma vida para nos conhecermos e encontrar. Poético por via da metáfora da afinação, como se fôssemos um instrumento musical. Depois de ler este pensamento muitos outros me assaltam. Por exemplo, pensar quantas vezes desafinamos porque não conseguimos lidar com uma situação. Quantas vezes tocamos fora de tom porque a pauta se torna complexa e difícil de ler… ou ainda, as vezes que destoamos porque algures na orquestra, em que habitualmente tocamos, alguém toca desafinado… Acredito cada vez mais nessa ideia de evolução por camadas. Há quem prefira tratar por fases, mas eu gosto mais da ideia das camadas, como se, com passar do tempo, fôssemos descascando a cebola até chegar ao seu bolbo, ao fulcro ou à essência daquilo que somos. Há dias li uma frase que sugeria imaginarmos ter 99 anos, estarmos no nosso “leito de morte”, em que nos ser

chegar em sorrisos

Chegar. Há um encontro marcado. E chegar em sorrisos. Como quem se dispôs a estar connosco simplesmente porque nos faz sentir em paz porque se sente em paz.

olha só, povo azarado

 Quem os vê daqui de cima tão pequeninos, tão juntinhos alguns tão fartinhos de tudo outros tão isoladinhos Quem os vê daqui de longe parecem todos perfeitinhos e sobrevivem no seu mundo tão belo tantos são os que sorriem com vontade de chorar e é mais um dia agradecendo, padecendo de males variados outros tantos choram de tanto festejar pelas alegrias alcançadas  coitadinhos, todos juntinhos Quem os vê daqui de cima tão pequeninos, tão frágeis parecem soldadinhos de chumbo tão insignificantes saltando ao pé coxinho e cheios de medo à espera do veredito final Quem os vê daqui de cima atrapalhando-se todos afinal acotovelam-se já são oito mil milhões e já nenhum deles sabe do destino do planeta que os une estão em guerra

indelével

 um movimento de queda          não da trágica e pesada                                   de uma pedra                         mas a tão airosa e leve            indelével                 de uma folhita outonal          certeira e fatal                            não verde                                    laranja imperial                      quase carmim             que volteia         e enleada em suas voltas pousará livre no chão

Quanta intimidade!

Quanta intimidade quando o sol dispara! É por isso que os olhos se fecham e a boca se abre E respiras numa última tentativa de liberdade!

sonho meu

  Sinto o canto da noite na boca do vento fazer a dança das flores no meu pensamento Traz a pureza de um samba sentido, marcado de mágoas de amor Um samba que mexe o corpo da gente o vento vadio embalando a flor sonho meu

de uma vírgula mal colocada

Um dia, O perigo da expressão inacabada de uma vírgula mal colocada talvez Um dia,  quando os oceanos permitirem, ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,

apreciar as coisas simples que te são dadas

Outono é sentir, de nariz orvalhado, o primeiro arrepio da manhã. É aprender a receber as nuvens de sorriso nos lábios. Outono é sentir a chuva. É praia com nevoeiro. É sentir a gola do casaco a subir. Outono é sentir o cheiro a castanhas assadas no largo da cidade. Outono é reparar na natureza a explodir de cor.  O outono pede-te um chá quentinho. Outono é sentir o teu calor. É saborear a compota de abóbora em pão de nozes. É ver um filme em família. É pijama fofinho.  É conversa morna à lareira. É usufruir do sofá. É estar por querer estar. É sentirmo-nos abençoados. O outono é mais uma oportunidade para apreciar as coisas simples que te são dadas.

E eu nem gosto de gatos. E os ratos são astutos.

As árvores. Frondosas. Vigorosas. Espreguiçam-se em sombra pelos passeios sentam-se nos bancos  mesmo por cima das pessoas esticam-se em braços fininhos já sem folha, já só galho já sem fruto, já nem flor São apenas frondosas. Aparentam vigor. E já tudo aconteceu uma e outra vez uma e outra vez cenas repetidas mil vezes E não gosto nada de assistir à mesma cena vezes sem conta como se fosse sempre a primeira vez simulando cara de espanto  perante jogo tão intrincado já nem gato, já nem rato E eu nem gosto de gatos. E os ratos são astutos.

bailemos juntos: areias e vento, rocha e mar!

Ó rocha dura e crua mas eu como tu, mar intenso! Ó areias tão finas e cruéis  como se envaidecem ao sabor do vento! Junta-te, ó vento imponente e cruel  intento de ar e pó! Façam-me onda gigante em desalinho E assim, indiferente, às areias no ar e já refeito neste mundo de rochas cruéis bailemos juntos: areias e vento, rocha e mar!

grão de areia

Vai deixando a tua marca devagarinho sem grandes alardes  Vais andando cada dia mais um bocadinho como quem compõe  o seu tesouro cada passo empreendido cada sorriso distribuído  pelos lugares onde fores é um pedacinho teu que engrandece quem o recebe  é testemunho que passas Vai deixando a tua marca devagarinho sem grandes alardes

wild blue

a alegria quase infantil a ansiedade do « É agora?»  o que de mais secreto carregamos e tão forte e sincero guardamos  que se transforma corajosamente finalmente em concretizações evidentes.

simples e bom

o dia em si limpo delicado acolho-o assim simples e bom escolho-o penso-te pensas-me limpos como este dia simples, mas bom E pensarmo-nos neste dia é a nossa salvação.

luz

que o medo em luz que a guerra em paz se faça que cada noite em manhã aconteça que a pedra em flor e o silêncio em grito nunca de dor que a espada em mão desejo loucura união que o eu em nós desfaça a solidão

plano inclinado

Vós que pensais que sou aparentemente credível e que, aparentemente, existo sem sobressalto desvendo-vos que o que me cativa é este plano inclinado um não-chão que escorrega para o desconhecido um deslizar sobre lâminas aguçadas vibrando com o êxtase do desafio admirando o belo recorte das falésias

eu-paisagem

Confundiam-se ar e água, água e terra.  Fundi-me eu própria na paisagem em vulto transformada.

sim.

só os verdadeiros loucos os loucos de vida é que sentem e dão sem querer receber nada em troca ajudam e deixam ir como verdadeiro ato de amizade e guardam em si não ressentimento ou dor mas alento para com o mesmo fervor continuar a distribuir com Amor

um silencioso bater de asas

e nem um grito saiu,  só um sorriso um silencioso bater de asas tímidos, soando a fardo promessa de arranjo temporal que nem se sentiu Como era tarde naquela rua…

happiness looks good on you

É um outono que se desvenda em azul Um verão que não se quer render São horas de paz! Bebemos um chá a ver o mar  como se fossemos primaverando e nem se dá conta de a hora chegar…

pequenas manifestações

E eu insisto e persisto É Amor é energia força invisível que subsiste  longe ou perto Existe! E por muito que se faça E por muito que se contrarie não há como a enganar Insiste Persiste Subsiste nas mais pequenas e subtis manifestações.

agora sabes

 Eras inocente, tão jovem e não sabias nada sobre a extensão da tua doçura e do incomensurável poder do teu corpo agora sabes. (Marguerite Duras)

deixa-me

Deixa-me estar. Deixa-me passar. Deixa-me rodar este vestido airoso que é desta dona que o exibe e que está encantada. E nem sabe bem porquê!  Deixa-me ficar assim comigo. É sempre bom estar do lado dos que se encantam com pequenas insignificâncias como esta de sentir o rodar deste vestido airoso. (foto   i.pinimg.com )

ganhou o lado de dentro

Da terra eu, firme firme contemplei o longe longe. E tão firme firme quanto o chão que me sustenta vislumbrei-te tão perto perto E guardei-te. Eu, firme firme asseguro-te que ganhou o lado de dentro.

É aceitar seguir sem pré- juízo definitivo

É aceitar a verdade. Acreditar no desvio. Saber acordar com o abismo. É aceitar seguir sem pré- juízo definitivo.

Lugar do tamanho da nossa gente

Se há coisa que aprendi nestes últimos tempos é que há sempre um lugar.  O nosso.  E por muitas voltas que se queira dar, retornamos sempre aonde nos esperam.  Somos hábitos de um único cheiro e de um único lugar do tamanho da nossa gente.

Ai, as meninas!

 As meninas que escrevem versos. Não as queiras! Só pensam, só pensam… Marulham em lutas e espantos! São donas de um olhar radioso! Bebem-te os gestos, destilam magias! E decifram bem demais os que recebem muito mas dão pouco… Ai, as meninas que escrevem versos! Não as entende ninguém! Quantas vezes dando à costa! Quantas vezes preferindo o além! Quantas vezes serpente, quantas ave! Quantas vezes glórias inúteis, quantas vezes vontade! (As meninas, Diego Velásquez)

ansiando a Água que nos foi roubada e que nos faça nascer de novo

fomos da Água acolhidos, protegidos, escondidos e de rompante expulsaram-nos do paraíso atirados ao Ar em grito, choro repentino e aflito,  mas sopro de vida caímos nas malhas do tempo sem pedirmos para nascer mas surgimos escorregadios e lamacentos depressa vento e chuva, depressa fome e sede atirados aos ossos de todos, embalados pelas carnes dos outros carne da nossa carne e rapidamente nos vimos em chão esgaravatando na Terra seca (nós que fomos da Água) de olhos esbugalhados, amedrontados pelo Fogo tão desprotegidos e tão à vista de todos é, então, que nos atiramos ao Ar em novo grito tonitruante tentando levantar os pés do chão por medo de Fogo que nos queime ansiando a Água que nos foi roubada e que nos faça nascer de novo

porto seguro

Grão a grão vai-se trilhando a rota semeando a horta e, na roda do vento, - por mais que custe domar a impaciência - não queiras colher antes do tempo. Melhor será que se faça de cada grão semeado o alento  que transforme a semente em porto seguro.

quinta feira

 Sigo rios porque eles correm para o Mar.

Instituo, por decreto íntimo, Setembro como o mês das despedidas

Despede-se o Verão com os seus dias de ócio e de calor. Despede-se da cepa que lhe deu vida e acolheu o cacho farto de uva. Despedem-se de ti o meu olhar, as minhas mãos, todo o meu corpo e, com pontual solidariedade, a alma. Recolho as mãos, dispensadas do ofício da ternura. Cubro, de novo, o coração para os dias frios que o esperam. Instituo, por decreto íntimo, Setembro como o mês das despedidas. Texto de Luísa Félix

porque depois do começado

 Um frenesim de quem sabe que este corpo tem mais alma. Que já não se satisfaz com pouco. Porque depois do começado não há volta atrás. É seguir viagem. Pus-me neste estado. Fiz-me amanhecer. E eu cá ando à luz do dia na senda do arrepio que sabe que esta alma quer mais mar.

delícia

O poema obriga-me a ser quem sou. E nada há de mais delicioso do que sermos. Nós próprios com todas as nossas pequeníssimas coisas que nos tornam únicos.

ternura

 E agora, sim. Olho bem para mim.  Com a mesma ternura que nutro pelos outros.

eu começo onde me descubro*

 O café é sem açúcar mas o poema é doce A caneta de uso obediente mas a mão é vagabunda Talvez me quisessem como o café ou provavelmente como a caneta  mas esta minha vontade esbanja claridades a respiração é vadia, a agenda é longa E este poema combina com o nosso café que é motor para mais caminho. ( o título deste meu texto é da autoria de André Tecedeiro)

ninguém sobrevive sozinho

Ninguém sobrevive sozinho e basta pensar de imediato na noite de natal ou na hora H e não estou a referir-me à hora da morte mas a todas as horas que sobram antes dela Portanto vou pôr a mesa pratos, talheres e guardanapos a condizer dos de pano, dos que não se deitam fora, que se lavam e guardam para sempre vou dispor as cadeiras de par em par e abrir a porta Sim, tinhas razão.  As salas são bonitas com candeeiros de pé iluminados  e as lareiras fogosas no inverno, mas com quatro pés no mínimo entrelaçados nas almofadinhas do sofá E mesmo que te depares comigo aqui sozinha a apreciar a paisagem neste alpendre estamos doravante nisto juntos Todos os que nos decidimos ficar para nos regalarmos na noite de natal  para nos suportarmos nesta hora H Porque ninguém sobrevive sozinho.

a lei do não retorno

Qual Gretel, já sem Hansel, aprendeu. Aprendeu a enfeitar de pedras o caminho não para construir castelos não para preparar regressos mas para firmar o não caminho do retorno. (foto de Sebastião Salgado)

Isto não é um quadro de Van Gogh

Isto não é um quadro de Van Gogh.  E este Van Gogh nem é pintor.  Nem estes girassóis são um quadro.  Isto é apenas um Oh! Ou um Ah!  Tem qualquer coisa de interjeição.  E, como é interjeição, não pode ser encarada a ponto final... Hoje, isto que não é quadro de Van Gogh nem muito menos estes girassóis são uma pintura surgiu contundente na minha mochila.  Assim. Cheio de pontos de exclamação.  Como quem retira um excerto ao texto.  Sem aspas.  E é tão fácil meter a mão ao saco.  Mesmo sendo bolsa de mulher... O difícil e altamente perturbador  é ter tido a pontaria exata de te encontrar.

a.d.o.r.o.

 Adoro. Combinação perfeita: esta música e o meu mar.

trans(b)for(d)mar

Transformar. Isto é o verbo transbordar que ganha, finalmente, nova forma. Isto é ser ela que não se põe à janela de corpo iluminado mas mostra o universo aos animais de caça quando desce ao mercado. Ela que desce nos cabelos das estrelas bem nas barbas dos fantasmas que aprendeu a desmontar e acaba a transformá-los em brinquedos. (Manel Cruz mastigado por mim)

viagem no tempo

 e se voltassemos aos anos 20 e encontrassemos Dua Lipa?

mais vale o relógio do sol

um dia foi a sério dei em disparar e foi tiro certeiro explodi com o relógio de cuco esse instrumento trapaceiro com seu tic tic, tic tac  um martelar prescrustante que se me impunha desleal  um cuco fiteiro que ilude que nos atende  mas, afinal, nem espera pela gente (foto de Imke Jurgens Braun)

o que me atrai em ti é o mistério

Alguém me sussurrou - o que me atrai em ti é o mistério – Também a mim o que me atrai é um mistério… neste ponto estamos em acordo.

voz

 Descobri-lhe a voz. Magnífica.

das palavras e das terras de que gosto

Das palavras e das terras de que gosto não me afasto Do que me dá consolo e alegria (entre elas a poesia mais o calor) não descarto Tanto para ver e tanto para sentir É o melhor. E é quando sopra o vento que me enche o corpo e ganho alento Porque é melhor uma ideia ao fogo Da neve nada quero, é fria De promessas anda o mundo cheio prefiro esta minha certeza que me dá consolo e alegria: a das terras de que gosto e da sua poesia.

É a loucura! Já estão todos em plena confraternização!!!

Partilho convosco um momento único de cumplicidade entre mim, as panelas e os respetivos ingredientes que são as personagens desta receita. Embora não goste muito de cozinhar nem de comer (e cada vez menos…), há alturas que justificam uns minutinhos na cozinha. São razões de ordem afetiva e que têm quase sempre a ver com os meus entes queridos e com a vontade de lhes proporcionar momentos de fofura e conversa doce. Ora aqui vai todo o processo… (se tiverem paciência para ler esta estranha receita de bolo de maçã com canela… ) Portanto, e em primeiro lugar, há que ver se têm em casa uns ovitos (4), a tradicional farinha (100 gramas), o açúcar (pouco, para mim, 80 gramas, mas para os mais gulosos, 150 gramas), 1 copito de leite, 1 colher de sopa de manteiga, uns pozinhos mágicos de essência de baunilha e mais 1 colherinha do famoso fermento, 1 limão, umas 4 maçãs e, claro, muuuuuita canela! Com todo este arsenal à vossa frente, o mais natural é desistirem imediatamente, mas tenham calma,

Conheço bem este retrato

Conheço bem este retrato colocado ao centro do móvel conheço bem quem lá está sei quem fotografou e em que dia sei que o sorriso não foi só para a fotografia conheço bem cada degrau da escada que me subo conheço bem a que porta devo bater

escapar ao seu círculo em vertigem

Já há muitos anos visitei uma exposição no Museu de Serralves e, a certa altura, bem no centro da sala de exposições um quadro gigante com meia dúzia de traços atirados para uma tela branca. A minha ignorante visão deu para questionar o porquê de uma obra, aparentemente tão insignificante, figurar ali como o centro do evento.  O guia, de forma assertiva, explicou algo que não compreendi efetivamente. Ali estava o trabalho de alguém experiente que usava a técnica da garatuja descontrolada. Traços que um desprendimento infantil consegue alcançar, mas que a mão de um artista experiente se vê em trabalhos extenuantes para os conseguir registar. Conseguir tais traços tão libertos de expetativas e desejos é admitir que parou o movimento, que se conseguiu escapar ao seu círculo em vertigem. O resultado parece ser um trabalho simples, no entanto, encerra todo um processo dos mais difíceis de toda uma vida. Agora que se aprendeu é preciso desaprender. É preciso pararmos em nós próprios, estarmo

onde estás?

 Fui fraco por ser forte. (projeto interessante de Miguel Gizzas)

melão e melancia

Já pouco peço nesta vida que não seja a paz e a alegria de me encontrar com alguém que goste de mim também E é quando estás assim a sós comigo que sinto como é bom este momento em que os meus olhos são o teu abrigo e os teus gestos são o meu alento

aguenta, coração

 Agora que já se faz tarde descansa Mona Lisa!  Pode ser que terça surja mais harmoniosa e pronta para a arte...

damos um passo ao lado

Tem momentos da nossa vida em que estamos como um hamster numa roda giratória em que corremos, lutamos, esforçamo-nos e não saímos do mesmo lugar. Cansamo-nos, irritamo-nos, desesperamos e por mais que tentemos correr mais rápido, não conseguimos sair do mesmo lugar. A solução está ali ao lado, mas não a vemos. E não é fácil, mas é imperativo que abrandemos, mudemos de ciclo mental até à roda parar de girar. Aí, damos um passo ao lado, e veremos todo um mundo incrível que a roda em movimento nos impedia de ver. Este passo ao lado não é um ponto final, mas sim, o início de um bonito caminho por descobrir.  Abrandar, dar o passo ao lado, e ver o que a vida tem para nos mostrar.  Gustavo Carona

tempo das coisas simples em abundância

Verão é levantar cedo com vontade de cheirar a rua. É receber a luz de sorriso nos lábios. É tomar café descansada. Verão é gelados. É chinelo ou pé descalço. É andar de roupa folgada e cabelo em tótó. Verão é cair no mar e rolar na areia. É transbordar. É saborear o petisco do senhor José. É trincar o pêssego no final da tarde. É ver o pôr do sol com mantinha. É piquenique. É conversa pegada. Verão é esplanada. É ficar cá fora até mais tarde. É virar o relógio ao contrário. É ouvir música acompanhada. É estar por querer estar. É conseguir dormir destapada de janela escancarada para deixar as estrelas entrar. Verão é tempo das coisas simples em abundância.