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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2021

até

  até que alguém pronunciou de uma só assentada que o chegar é só a triste presunção de vitória que o mais que vale é saborear a caminhada

à descoberta do novo centro fértil e húmido

Vai a enxada do ar à terra, numa atitude precipitada com a urgência de a causticar e esta terra já de si tão seca e gretada…  mas a mulher que empunha a enxada,  também ela tão gretada e seca, suspende por um breve instante a terrível golpada.  É nesse preciso segundo (tinha estado a tarde quente)  que, surpreendentemente, surgem firmes e vigorosas bagadas.  Confundem-se as águas das lágrimas e do suor.  Misturam-se as águas do corpo e do céu.  Chove que Deus a dá! Fica a terra aliviada!  É então que a mulher e a terra molhadas  ganham novo fôlego e, num golpe inflexível,  conduzem com temperança a enxada  à descoberta de novo centro fértil e húmido!

deslumbramento

Apenas cumpri o que me estava delineado.  Porque as pessoas só aprendem à custa da dor ou do deslumbramento! É preciso que alguém apareça assim Irascível ou Afável.

deixar a música seguir o caminho do corpo

E nasce a tua magia cosida com linhas de fogo apertando num lugar algures cá dentro e dizes, satisfeito Feliz daquele que tem a capacidade de deixar a música seguir o caminho do corpo porque a música ensina-nos a desfilar com elegância fora dos trilhos.

Assim Eu. Em pronome pessoal.

 Um dia. E atiramo-nos de forma melancólica para o passado. Um dia. E atiramo-nos de forma heróica para o futuro.  Se é verdade que o incipit das histórias da carochinha tem o dom de nos iniciar em episódios fabulosos, também todos temos consciência que são a forma de nos bombardearem com verdadeiras lições de vida. E nós estamos irremediavelmente condenados a aprender. Portanto, aquele artigo indefinido que insistentemente acompanha aquele dia reforça o carácter intemporal dessas mensagens. Os episódios vão-se repetindo ao longo dos tempos e a aprendizagem, numa perspetiva de castigo, vai-se perpetuando, para consolo de alguns.  Mas a expressão «Um dia» remete também para o futuro. O início de um projeto, a esperança do que não existe, mas que pode existir, o alimento da alma, a meta como pretexto para aguentarmos este dia, na esperança de alcançar aquele dia. Só um, um qualquer, pode ser o melhor de todos, o mais perfeito. E todos sabemos como estamos irremediavelmente condenados ao

coisas...

E por falar em coisas… Há coisas que são umas coisas…

preparando a primavera

 Sim, está sereno... de braços cruzados à espera alberga este inverno mas prepara a primavera sabe bem que nem tudo está perdido porque é banco que promete espanto e já está habituado a tudo arrecadou serenidades! sabe bem que agora parece pouco mas que já foi e há de ser tanto! 

ternura

  Por muito que a vida te doa ataca sempre da melhor maneira: com ternura!

sorte de nos sentirmos caminhantes

um certo murmúrio, um tal aperto algo que existe tão grande dentro de nós  que não cabe como se uma mão nos segurasse e uma boca por dentro nos devorasse uma vontade tão grande de pequena uma onda por dentro em desconcerto algo que nos dá vida apesar da morte sorte de nos sentirmos caminhantes devorados pelo longo caminho a norte dias de sentirmos a pequenez  de pertencermos a algo grande e belo  … mas ardendo! E esta grandeza é tão difícil para gente pequena apenas alma, apenas saltitos, apenas vento… 

É este o verdadeiro testemunho de amizade que podemos passar de uns para os outros!!

Um dos mais difíceis empreendimentos nesta vida é saber aceitar! Há situações que não pedimos para acontecer! Há coisas que não nos pertencem, há mundos magníficos a que gostávamos de pertencer ou sítios que gostaríamos de visitar, mas, simplesmente, não é para nós! E há as coisas que sempre foram nossas, mundos magníficos à nossa espera! Há pessoas que vão surgindo na nossa vida: umas ficarão, firmes e seguras – são as nossas pessoas! Outras passam por nós, suaves como o vento ou demolidoras, e vão, seguem o seu caminho!  Haja humildade e sensatez para aceitar! E ter a noção de que tudo no Universo, quando é forçado, não compensa! Mais vale confiar na ordem natural das coisas. Ficarmos felizes com o pouco que temos e saber fazer do pouco muito. É uma tarefa árdua! Gigantesca! Mas se conseguirmos cumprir com o nosso papel neste Universo, acreditando que tudo tem um sentido, em respeito por nós próprios e pelos que nos rodeiam, tudo fica mais fácil!  E não é por acaso que as pessoas aco

Um dia, somos.

Às vezes, é exatamente assim.  É a compaixão do Universo.  É a vida que achavas ser um enorme definitivo. De repente, vai-se transformando num mar de possibilidades. A fuga ao ordinário. É esta a visão!  É poder escolher! Ou não ter alternativa! Às vezes, é exatamente assim.  A nossa natureza terrível à flor da pele.  Um dia, somos. É exatamente assim. Uma revelação.  É como se uma grandiosa visão nos assaltasse. Uma revelação que, no entanto, vem sob a forma de coisa pequenina. Fica ali a remoer… insiste, persiste, desestabiliza, muda tudo.  Tudo no sítio certo? (desenho de Francisco Simões)

não há galo que cante

Reparei, hoje pela manhã, que já não há galo que cante… E as galinhas continuam silenciosas (como sempre). Nem uma cacareja! Não há ovo que se ponha!  A estranheza que se coloca é a seguinte: mesmo assim, ainda há pessoas que conseguem acordar. E não sei o que as move!... mas acordam. E com energia! Mesmo sabendo que, agora, o canto é outro. Talvez seja bom pensar que ainda há gente que acredita e que consegue, rapidamente, arranjar outra música que a levante. É pena é não se poder dar azo à alegria deste tão raro e luxuoso acordar porque anda meio mundo triste. E quando a maioria vai triste, devem estar tristes os felizes. É assim que tem de ser, não há volta a dar. A alegria, já se sabe, é gratidão. E a gratidão é pesada. A tristeza é vingança. E a vingança é doce.  Se demonstras alegria e entusiasmo é porque estás bem e, neste momento, a frase mais adequada é «Tudo vai ficar bem!», mas ainda não está bem. Portanto, tu, que conseguiste arranjar outra música que te sustem, faz de cont

não serem já todos do mesmo tamanho

 Eram quase todos do mesmo tamanho da altura suficiente para não enxergar na totalidade Vinham descalços, pernas ao léu, roupa por engomar sem o menor pingo de preocupação sem saber se era quinta ou sábado… tanto faz Havia apenas dois prazeres dignos de lembrança Contar até dez e ficar de papo para o ar E à noite ouvir de olhos fechados os grilos cantar sem o menor pingo de preocupação reconfortados pelos toques de tambor e os sons do violão Lambiam crostas de pão de milho com marmelada Corriam ao sabor do vento despenteados e chamavam aos cães ursos amestrados Era este o jeito de ser e tão leve ideia esta a de viver! Não precisavam nunca de guarda-chuva e nunca gramavam secas por mais de cinco segundos soltando um Tanto faz! decidido, Eram índios à solta à espera de ser Homens felizes por não saber que um dia tudo acabaria por acabar e haveria males e conflitos por resolver como o de não serem já todos do mesmo tamanho (obra de Apolo Torres)