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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2018

Acredita!

Há uma certa melancolia, qualquer coisa de despedida… quando finda um ano! O sentimento da não duração. Uma espécie de resignação, um abatimento, um balanço mal engendrado do ter e haver, uma certa subtração…Há um abotoar do casaco e um enfiar de mãos nos bolsos. Há mesmo quem procure, como único refúgio, os ditames de um horóscopo favorável que transforme o ano seguinte numa possível segunda oportunidade… algo a dizer-nos «falhaste! tenta outra vez» e é como se adquiríssemos pós mágicos que transformam a vida num ciclo recomeçado, mas sem medo. Séneca dizia «Onde não há esperança, não há medo.». Portanto, tenhamos medo!  Há uma certa alegria, qualquer coisa de mágico… quando se inicia um novo ano! Uma esperança na mudança para que nos aperfeiçoemos, coragem para assumir o inesperado, o inédito, a surpresa, o novo olhar sobre as coisas e as pessoas. Só a capacidade de pensarmos que aquilo que aí vem vai ser muito melhor do que aquilo que já passou, é vida! Sermos capazes de uma viag

homenagem ao texto de jeito que nunca chegou a nascer

Ainda vais a tempo… (desafia o corvo) Pega nesta caneta e escreve sem anestesista! Escreve um texto de jeito por uma vez na vida Exibe-te em jeitos de malabarista Transforma o meu presságio em golpe de sorte, em jogo de palavras, em ás de ouros. Se conseguires, tiro-te o chapéu! Mónica Costa (imagem de Soisick Meister)

Nascimento!

Eram três, três estrelas e meia numa manhã clareada e sem fim, pautada pelo ritmo da dor que ora chegava ora abalava. Depressa se transformaram em dez, dez nuvens numa manhã que rasgava a janela. Eu estava na cozinha só à espera. Eram cinco, cinco minutos, de cinco em cinco minutos. A ansiedade estalava as paredes silenciosas da casa. Eram vinte e quatro, vinte e quatro dias da manhã do dia vinte e quatro! Pesava a cabeça de uma criança que parecia puxar-me para o chão, os rins pareciam inchar. Urgia uma partida, mas controlei-me: é que o amor de cá de fora suplantava a dor que vinha de dentro. Transpirava a calma do mundo… inspirava, retinha e expirava levemente. Parti! De repente, tudo se apressou. Uma porta, uma porta se fechava. A dor intensificava-se, as águas brotaram, tudo se abria à sua chegada. E eu passeava por entre belas paisagens com montras de brinquedos – tudo cheirando a natal. De quando em vez, colava-me à parede para aguentar a dor. Exausta, deitei-me. Era uma vez, m

Natal 4

Abre, abre fogo! Fica aí na tua trincheira que me dói Assobia, assobia! Faz de conta que não dás por nada Afinal tudo o que importa é que é natal E o que de grave e útil existe, está do outro lado onde desfilam rostos calados colados ao chão. Repara! A camisola tem nódoa e está rota O aspeto é de pobre que não se endireita Cheiro a mofo e a tédio… A tua camisola está lavada Não tem um buraco sequer… Abre, abre fogo! Mas não te esqueças O teu aspeto também é de pobre porque afinal somos todos valas enlameadas carpimos mágoas guardadas em arcas fechadas embora alguns exibam faces de gumes perfeitos escondidos nas suas trincheiras. Mónica Costa (imagem retirada de https://plus.google.com/)

natal 3

Estava a caixa encostada atrás da porta há um ano. Tanto pó! E tu a protestares! Havia já uma considerável camada de pó. Lá dentro um pinheirito de plástico todo encolhido. Foste lá buscá-lo para quê? É todos os anos a mesma coisa. Já sabes o que te vai acontecer... Tiras o pinheiro da caixa cuidadosamente e ficas esticando nervosamente as hastes verdes para cima e para baixo para dar corpulência ao pinheiro raquítico. De repente, reparas que o pinheiro está torto e não se endireita, falta-lhe uma das partes do tripé. Não pode ser! Comprar outro está fora de questão! E tu a protestares! Portanto, vai-se à dispensa e traz-se o escadote. Colocas-te no cimo da escadaria e arrebitas o nariz para cima da prateleira mais alta onde existem umas ripas de madeira que poderão servir de pé disfarçado para esta árvore que todos os anos dá sinais de fraqueza. Esticas-te um pouco mais e… caíste? Oh, não! Está tudo bem? Sempre o mesmo! Sempre aos tombos! Não tinhas prometido que ias melhorar quanto

Natal 2

Acreditar no pai natal é magia Deixar de acreditar no pai natal é desilusão Não acreditar no pai natal com veemência é alívio medíocre… damos ar de fortes e de seres orgulhosos pela perda de virgindade porque agora experientes e sábios … mas desconsolados e medíocres ninguém nos avisou que a única coisa que nos vale é a magia!... Mónica Costa (imagem retirada de https://www.bioorbis.org)

Natal 1

Vai aparecendo o natal devagarinho e choca…Vem camuflado… diluído na hipocrisia social que nos abafa! Não o sentimos verdadeiramente e, no entanto, construímo-lo subtilmente… e vai sendo engolido pela engrenagem económica. Corre o povo à procura do presente ideal!!!! E há sempre um anjinho que, a medo, se aventura a recordar: «Natal é nascimento!» E o povo continua na sua azáfama consumista… e faz de conta que nem ouve. Desmontar a máquina dá trabalho… é lutar contra a corrente. E, por descargo da consciência, desata-se com uma série de campanhas solidárias para os necessitados que são de todo o ano. Porque é este o tempo da fome e da vulnerabilidade!... Não dos que passam fome todo o ano (esses já estão habituados…), mas a vulnerabilidade de quem consegue estar em paz nas suas casas quentes sem pensar nos da rua frios. Mónica Costa (pintura de Rafael Sanzio)

Que bela lhe apareceu a vida naquele instante!

Diante daquela janela estendiam-se campos e campos verdes. Eram vinhedos e árvores ao alto. Era essa sempre a perspetiva de quem se estendia ao comprido no alpendre e dava com os olhos em linha sempre segura e acreditável. Mas, naquela tarde, o olhar subiu indisciplinado e ficou fascinado pelo desenho invulgar das nuvens. O céu estava um espanto em movimento de lento azul e havia uma montanha de branco espantoso que se espraiava em rasgos de dança.  Foi assim tão fácil! Nada trazia nas mãos e, de repente, ficou de mãos e olhos cheios! Tudo estava tão tranquilo. Deixou-se, portanto, encantar!  Foi então que se ergueram três figuras esguias em jeito de bailarinas equilibradas nas pontas dos pés.  E rodopiavam! Airosas, com vestidos de tule branco leve, leve, levíssimo.  Eram nuvens dançando com o vento? Ou pernas de mulheres alinhadas em três?! Puro bailado: rodopiavam e inclinavam-se para recolher em abraços os últimos ares outonais. E por cada movimento, desenhavam-se

Fake news

Cuidado com as histórias que ouves! Hoje, mais do que nunca, deverás ter cuidado com as histórias da carochinha que te impingem.  E é exatamente para desconstruir este tipo de enredos fantasistas que, naquela longínqua floresta, se prepara uma conferência de imprensa. E tudo por causa do disse que disse. Não é possível continuarmos sempre a contar a mesma história. Não é possível viver sempre das mesmas certezas. Os tempos mudam e as verdades também. O mundo está preparado para problematizar!  E a verdade é que, neste preciso momento, a famosa Avozinha prepara cartazes apelativos capazes de dar a devida visibilidade ao acontecimento, apostando numa boa sinalização dos pontos-chave para que nenhum dos jornalistas convidados se perca e cheguem todos atempadamente ao local escolhido. Há quanto tempo não havia agitação naquela floresta! Como moderador desta conferência, escolheu-se o afamado Caçador, misantropo voluntário, conhecido pela sua frieza e antipatia por tudo o que se pode c