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Nascimento!

Eram três, três estrelas e meia numa manhã clareada e sem fim, pautada pelo ritmo da dor que ora chegava ora abalava. Depressa se transformaram em dez, dez nuvens numa manhã que rasgava a janela. Eu estava na cozinha só à espera. Eram cinco, cinco minutos, de cinco em cinco minutos. A ansiedade estalava as paredes silenciosas da casa. Eram vinte e quatro, vinte e quatro dias da manhã do dia vinte e quatro! Pesava a cabeça de uma criança que parecia puxar-me para o chão, os rins pareciam inchar. Urgia uma partida, mas controlei-me: é que o amor de cá de fora suplantava a dor que vinha de dentro. Transpirava a calma do mundo… inspirava, retinha e expirava levemente. Parti! De repente, tudo se apressou. Uma porta, uma porta se fechava. A dor intensificava-se, as águas brotaram, tudo se abria à sua chegada. E eu passeava por entre belas paisagens com montras de brinquedos – tudo cheirando a natal. De quando em vez, colava-me à parede para aguentar a dor. Exausta, deitei-me. Era uma vez, mais uma vez o cenário repetido, essa dor de estalar o corpo. Eram duas, duas luzes… e inspirava e expirava, puxando fortemente. Tão exausta! Parecia desistir, mas logo recuperava o fôlego e, num último balanço de amor, expeli-o.
Nunca as palavras «Menino Jesus» fizeram tanto sentido: era o meu Simão!

Mónica Costa






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