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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2022

agora sabes

 Eras inocente, tão jovem e não sabias nada sobre a extensão da tua doçura e do incomensurável poder do teu corpo agora sabes. (Marguerite Duras)

deixa-me

Deixa-me estar. Deixa-me passar. Deixa-me rodar este vestido airoso que é desta dona que o exibe e que está encantada. E nem sabe bem porquê!  Deixa-me ficar assim comigo. É sempre bom estar do lado dos que se encantam com pequenas insignificâncias como esta de sentir o rodar deste vestido airoso. (foto   i.pinimg.com )

ganhou o lado de dentro

Da terra eu, firme firme contemplei o longe longe. E tão firme firme quanto o chão que me sustenta vislumbrei-te tão perto perto E guardei-te. Eu, firme firme asseguro-te que ganhou o lado de dentro.

É aceitar seguir sem pré- juízo definitivo

É aceitar a verdade. Acreditar no desvio. Saber acordar com o abismo. É aceitar seguir sem pré- juízo definitivo.

Lugar do tamanho da nossa gente

Se há coisa que aprendi nestes últimos tempos é que há sempre um lugar.  O nosso.  E por muitas voltas que se queira dar, retornamos sempre aonde nos esperam.  Somos hábitos de um único cheiro e de um único lugar do tamanho da nossa gente.

Ai, as meninas!

 As meninas que escrevem versos. Não as queiras! Só pensam, só pensam… Marulham em lutas e espantos! São donas de um olhar radioso! Bebem-te os gestos, destilam magias! E decifram bem demais os que recebem muito mas dão pouco… Ai, as meninas que escrevem versos! Não as entende ninguém! Quantas vezes dando à costa! Quantas vezes preferindo o além! Quantas vezes serpente, quantas ave! Quantas vezes glórias inúteis, quantas vezes vontade! (As meninas, Diego Velásquez)

ansiando a Água que nos foi roubada e que nos faça nascer de novo

fomos da Água acolhidos, protegidos, escondidos e de rompante expulsaram-nos do paraíso atirados ao Ar em grito, choro repentino e aflito,  mas sopro de vida caímos nas malhas do tempo sem pedirmos para nascer mas surgimos escorregadios e lamacentos depressa vento e chuva, depressa fome e sede atirados aos ossos de todos, embalados pelas carnes dos outros carne da nossa carne e rapidamente nos vimos em chão esgaravatando na Terra seca (nós que fomos da Água) de olhos esbugalhados, amedrontados pelo Fogo tão desprotegidos e tão à vista de todos é, então, que nos atiramos ao Ar em novo grito tonitruante tentando levantar os pés do chão por medo de Fogo que nos queime ansiando a Água que nos foi roubada e que nos faça nascer de novo

porto seguro

Grão a grão vai-se trilhando a rota semeando a horta e, na roda do vento, - por mais que custe domar a impaciência - não queiras colher antes do tempo. Melhor será que se faça de cada grão semeado o alento  que transforme a semente em porto seguro.

quinta feira

 Sigo rios porque eles correm para o Mar.

Instituo, por decreto íntimo, Setembro como o mês das despedidas

Despede-se o Verão com os seus dias de ócio e de calor. Despede-se da cepa que lhe deu vida e acolheu o cacho farto de uva. Despedem-se de ti o meu olhar, as minhas mãos, todo o meu corpo e, com pontual solidariedade, a alma. Recolho as mãos, dispensadas do ofício da ternura. Cubro, de novo, o coração para os dias frios que o esperam. Instituo, por decreto íntimo, Setembro como o mês das despedidas. Texto de Luísa Félix

porque depois do começado

 Um frenesim de quem sabe que este corpo tem mais alma. Que já não se satisfaz com pouco. Porque depois do começado não há volta atrás. É seguir viagem. Pus-me neste estado. Fiz-me amanhecer. E eu cá ando à luz do dia na senda do arrepio que sabe que esta alma quer mais mar.

delícia

O poema obriga-me a ser quem sou. E nada há de mais delicioso do que sermos. Nós próprios com todas as nossas pequeníssimas coisas que nos tornam únicos.

ternura

 E agora, sim. Olho bem para mim.  Com a mesma ternura que nutro pelos outros.