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Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2019

Falemos então de facilitismos, Sr. Costa

"Não é justo que a escola, que é a única esperança de mobilidade social para muitos, em vez de eliminar as assimetrias sociais à entrada, as reproduza ou, por vezes, as acentue." Comecemos, então.  Há aqui uma expressão que ouço muito no meu dia-a-dia profissional. "Não é justo"...  ...pois, deixe que lhe diga que, a massa mais jovem tutelada pelo Sr. Secretário de Estado, à qual o Sr. diz que a escola só pode dar esperança através da mobilidade social, usa este vocabulário quando, por exemplo, lhes refiro que o colega A, devido a dificuldades "diagnosticadas" na alínea tantas do normativo tantos, irá "beneficiar" de uma estratégia de avaliação um pouquito diferente das dos restantes colegas. Esta diferenciação, para si quiça redutora, já vem, por si só, acentuar as assimetrias dentro da minha sala de aula. Sabe, certamente, que a sala de aula é o habitáculo privilegiado da minha profissão, em seu entender espaço onde defraudo os a

mãos ao alto!

Vou-te dizer que estou quieta e rendida nesta noite que é lugar de paixão lugar - escrita de espontânea combustão Tu, lua, que me vês daí alto tiroteio e apontas a tua arma de luz e ameaças Vou-te dizer - eu estou de mãos ao alto e frágil neste alpendre que é lençol de silêncio e restinho de suavidade doce amparo Não sei se me vale de muito, mas é o único momento de contabilidade segura e faço balanços não de braços cruzados ou mãos nos bolsos eu estou de mangas arregaçadas e de frente para esta rua fui eu que a escolhi e onde tu te vieste encostar Vou-te dizer, lua feiticeira, estou quieta e nua - de nada vale a tua prepotência eu me rendo coração batendo… Mónica Costa

Era um olhar tão cheio… que sorria!

Vou-vos falar do pasmo perante um olhar que me fustigou! E era tal o pasmo! (não o dela, o meu) Era ali debaixo da oliveira que aquela mulher espantava olhar louco que, a esta distância, incendiou (e nós ansiosos por ver a loucura alheia…) Ela, assobiando com o vento, perguntava: - Que casa é esta que me escapa? - Que roupa aquela na corda não estendida? (ela tinha o presente por coisa esquecida!) Aventurei-me mais perto, mas era um olhar abençoado E de olhos a leste e vagabundos imaginava que andava para trás - a tarefa agora era desconstruir! - … e trauteava, trauteava, por entre lábios maculados uma música que a enaltecia suave (e o calor da tarde que me pesava…) Afinal não era a loucura alheia!... Era a minha vida ainda tão vazia que não a entendia debaixo daquela oliveira Eram umas mãos tão cheias de terra! E de flores um coração tão cheio! Era um olhar tão cheio… que sorria! Mónica Costa (foto de Réhahn)

Orgia Educacional e Intenção de Voto

O bacanal orgástico dura desde 2005! Já se assemelha ao sexo tântrico que exige treino específico e vontade de prazeres apurados. O meu patrão tem andado bem atarefado com produções lexicais, qual Hidra neo-moderna, cuja utilidade é nula. Até cerca de 2005, eu sabia-me orientar pelas papeladas e pedagogias teóricas, sedimentadas pela experiência. Presentemente, ando baralhada, não me apetece especialmente destrinçar as mensagens codificadas do que querem que eu faça. Do pouco que vou apurando, e sempre fruto de uma necessidade específica, concluo que nada de novo se impõe.  Minto!...impõe-se uma retórica mística de blábláblá redundante que me obriga a "formalizar" práticas, já as posso adjectivar de ancestrais, em papel, papelinhos, papeluchos e afins, cujo último reduto será o Papelão. Abençoada celulose! Essa gente, vestida de peles bem curtidas, barba longa (estudos actuais comprovam que possivelmente são foco intenso de bicharada!), cabelos ensebados, perdão, molda

Ó António, pede-lhe namoro!

Nome fictício, não se enganem! Tocou. A rapaziada aproxima-se da sala de forma ruidosa e enérgica. Penso que as Feiras e as Bolsas de Mercadores já pouco lhes interessará...mas o ano ainda não terminou nem o sacrossanto programa! Amén. Suspiro, preparando-me para a avalanche de vida que entrará, em escassos segundos, na minha sala. Penso na semana que se arrasta, interminável. Nas hormonas que florescem neste clima propício. No calor que abrasa os ambientes, com cheiro a férias...ainda distantes, mas que saboreio em antecipação.  Recebo uns 20 "Olá, stôra!", aos quais vou respondendo, sorrindo de forma mecânica. A coisa demora...Como digo, está calor, os amores andam pelos ares... Chamo a atenção de que está na altura de se acalmarem. Bora lá,..."Na última aula..." e por aí fora. Uns pretendem manter-se actualizados. Outros querem saber de tudo o que se passa, menos o que já foi escrito, virando matéria. Outros, embrenhados em olhares lânguidos ou envergon

hbjjgfttruuuommdndhtiiiiiiiiii

Nove horas da noite e uma nesgazinha de lua embaciada na janela. A média luz, lá vou eu formulando palavras cobertas do dia que passou rapidamente. E porque continuo sem saber como se constrói um livro, vou-me entretendo com textos dispersos. Começo por colocar a mão a jeito neste lápis tosco, que já vai a meio, e pousá-lo nesta folha já gasta de tantas riscadelas. Ao princípio, julgo sempre as letras separadas e, à medida que as vou juntando em palavras, fico com a sensação de não ter escolhido as melhores. Umas aparecem possantes e triunfais, outras são arrastadas para dentro de um texto sob protesto. É o princípio do prazer do inesperado.  É que isto de juntar consoantes e vogais é como pôr um carro em andamento. Se se pensa demais, confundem-se os pedais. Portanto, para que este carro ande, é necessário, em primeiro lugar, deixar fluir. (De repente, e nem sei porquê, lembrei-me do meu instrutor de condução que me mandava parar o carro bruscamente só para ver como é que eu reagia

movimento relativo

Agora que o verão, dizem, está quase a chegar é que penso na primavera que qualquer dia termina Espantada ando, é como digo, porque nada me faz acreditar que houve outono e inverno pelo meio em surdina e não dei conta da chuva nem do torvelinho de folhas a esvoaçar entendi que andei sempre em verão, em areia fina parece que fiquei parada em lume brando naquele mar! Se a isto chamam movimento relativo Deixem-me em eterna energia positiva que permite não perceber o outono nem o inverno e levitar em felicidade eficaz e inofensiva… Mónica Costa

em jeito vertical

Abriu-se uma porta gigantesca para um pátio axadrezado. Ditava-se, doravante, uma série de contrastes em sinais claros e escuros que indicavam caminho.  Pus o pé bem assente no chão, sentindo todos os tremendos ossos que o compõem e preparei-me para a subida. Lá vou em jeito vertical. Até quando? E iam surgindo degraus, um a um em espiral. Eu bem sei que cada um imagina as suas próprias rosas e sei que não há rosas sem espinhos. E era a pensar nisto que iniciava a subida íngreme em escadas finas. E dava à perna nestes degraus infernais! De quando em vez, ía parando para observar, distraída, através de janelinhas minúsculas, a sumptuosidade do Sol e das ondas do Mar Azul que acenavam a sorrir-me sarcásticos lá em baixo. Às vezes afundo, mas, neste dia particular, subia. E subia arfando! Peito insuflado! E a mansidão que me elevava em cada degrau feminino contrastava com o dia violentamente masculino que dita a vida curta e a morte certa. E, por cada degrau, qual malmequer, contava qu

Uma leveza tão grande de tamanho!

Quando era pequena muito pequena pequena de tamanho brincava às escapadelas encostava-me a uma parede quente de tardes quentes e ía escorregando por ela abaixo até assentar o traseiro no chão ali ficava de pernas abertas e estendidas atirava os chinelos para longe fechava os olhos colocava as mãos a selá-los e ficava desse jeito tapada do mundo! Ninguém me via porque eu não via ninguém! E aquela lógica era interessantíssima! Era deste modo que eu escapava quando queria tudo escuro, mas limpo catarse momentânea apagão natural assim descalça e sincera comigo mesma ficava quieta no silêncio de mim e esquecia o tremer de tudo Uma leveza tão grande de tamanho! Pudesse eu agora esvaziar-me tão facilmente de tudo… Mónica Costa (foto de Robert Doisneau)

Do "ranking" dentro das escolas...

Considerando hilariante a indignação de Nuno Melo sobre o ranking de eurodeputados ( "é uma fraude, uma treta"), redijo esta pequen a exposiçã o. Todos nós, Professores, temos consciência que dentro das escolas, de forma  "natural", a distribuição de serviço está intimamente ligada ao status quo vigente com as suas vicissitudes seculares e hereditárias fossilizadas. Não há "...cidas" que os consiga exterminar! Situação que se agravou com as medidas "pedagógico-funcionais" implementadas pelo Sr. Inominável, assistido pela sua meretriz Srª Inominável, lá para os idos de 2004/2005. Não pretendo, de forma alguma, ser ofensiva ou subversiva. Os "lambúzi@s sorridentes"... ...sorridentes, qual anúncio Colgate, que circulam pelo espaço como Afrodites de linhagem pura. Aparentam competência q.b., mas que nunca sabem de nada a não ser da vida dos outros a qual fazem questão de partilhar com as Entidades Competentes. Os "lambúzi@s sor

manobras deliciosas

Ela anda armada em escritora e anota todos os dias qualquer coisa engraçadita em folha colorida para sair impune das desgraças da vida de manhã, mal se levanta, ensaia uns passos de dança toda a tarde fica extenuada de aliterações e outras alegrias embrenha-se na noite, refúgio dos momentos e seus balanços anda armada em atleta e corre desalmadamente todos os dias atira a matar sempre que pousa o seu rosto em doce descanso tomando o gosto das palavras mais belas que, por magia, aparecem combinadas em suave e doce remanso Ela anda distraída! … e parece que se rendeu às manobras deliciosas da poesia… Mónica Costa

Atirei-o à terra como quem atira uma semente que quer ver crescer!

Há pensamentos que nos assolam. Pobres surpresas que nos surgem e que vêm derrubar as mais fundamentais e lógicas teorias.  Que raio de ternura pode existir num pássaro?! Um pobre pássaro que conseguiu viver enjaulado durante treze, catorze anos (?). Viveu tanto tempo! E não estamos a falar daquele tipo de animal que nem um cão que espera ansiosamente a chegada do dono a dar sinais de fidelidade e obediência.  Não! Estamos perante um fenómeno simples: aquele tipo de ser que se desfaz em trinados ao sol a seu bel-prazer e lá está na vida dele, à espera que lhe satisfaçam os prazeres imediatos: alpista, água limpa e uma alface fresquinha de vez em quando. Assim… só isto! Um raio de pássaro é o que é! … que só por ter estado presente durante treze ou catorze anos seguidos é digno de um texto num qualquer blogue. Ainda por cima, escolheu um dia tão emblemático para morrer - o dia do trabalhador! Ele que nunca fez nada na vida a não ser encantar-me!  Atirei-o à terra como quem atira um