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Uma leveza tão grande de tamanho!

Quando era pequena
muito pequena
pequena de tamanho
brincava às escapadelas
encostava-me a uma parede
quente de tardes quentes
e ía escorregando por ela abaixo
até assentar o traseiro no chão
ali ficava de pernas abertas e estendidas
atirava os chinelos para longe
fechava os olhos
colocava as mãos a selá-los
e ficava desse jeito tapada do mundo!
Ninguém me via
porque eu não via ninguém!
E aquela lógica era interessantíssima!
Era deste modo que eu escapava
quando queria
tudo escuro, mas limpo
catarse momentânea
apagão natural
assim descalça e sincera comigo mesma
ficava quieta no silêncio de mim
e esquecia o tremer de tudo

Uma leveza tão grande de tamanho!

Pudesse eu agora esvaziar-me tão facilmente de tudo…

Mónica Costa
(foto de Robert Doisneau)




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