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A mostrar mensagens de dezembro, 2021

esse teu teto escancarado se confunde com a lua

Quando te disserem para calares, sorri com os olhos e grita! Quando te lembrarem que já é tarde, vai na mesma e acredita Mais vale tarde que nunca! Quando te pedirem prudência, transforma-a em urgência É essa a tua taça de glória! Vieste ao mundo para seres tu de novo cem mil vezes, se preciso for porque esse «teu teto escancarado se confunde com a lua.»* (* verso de Jorge Palma)

beleza e força

É muito interessante quando se sente que as palavras que vamos deixando aqui e ali transportam uma boa energia, entram nos outros que as absorvem à sua maneira e as convertem na sua própria linguagem. Estas pinturas que aqui se apresentam são a visão de quem sente a árvore como um ser vivo que conta uma história, que envolve, que protege, um símbolo de resiliência... A beleza e a força aliadas num desafio... Esta é a perspetiva de quem escreve às pinceladas. (produção artística de Marta Bastos Silva)

O canto?...

 Mar... esse teu mistério e essa tua força  Podia perder-me em ti e para sempre ficar. Deixar-me flutuar nessas tuas ondas que oscilam entre tempos de calmaria e outros de fúria apaixonada.  Deixa-me enamorar e mergulhar nessas tuas águas! Os meus pés de bailarina dançam ao teu sabor e os meus braços desenham movimentos que vão de encontro a ti. Sou feliz! Conta-me os teus segredos e mistérios que guardas nesses teus mares tão profundos! Conta-me histórias de marinheiros e piratas e em troca dou-te a dança das sereias! O canto?... o canto, esse sim é composto pelo idílico som do rebentar das tuas ondas e a dança de todo o meu ser! C.T.

Quando os olhos se habituam

Só te queria dizer que estou bem. Não te preocupes. Os fios do meu cabelo andam sempre em desalinho, conforme já sabes, ganhando vento. Os meus dez dedos… esses andam sempre abertos à espera de um abraço. A cabeça anda no ar (sempre), os braços ao alto em sereno sobressalto. Por vezes, a vida é toda chão, mas logo, logo, sou toda movimento e sou já sem chumbo à espera que me nasçam asas nos pés. E tenho sorte porque há sempre um de repente que me empluma ou um contra repente que me faz escorrer para o desapego. Sou cada vez mais uma nuvem gigante e cada vez menos osso ou carne. É este o desígnio. Não há nada a fazer… Há dias em que passo menos bem, tão precisada que ando de socorro, assim tão enleada, quase vapor, mas subo e subo às alturas do meu ser e viro (não pedra nem caco) mais uma gota já sem noção do espaço. Puxo da garganta palavras de peso que me elevem do chão e fico muda às voltas pelo ar. Tenho quase a certeza que sou bicho, fervendo de alma e inebriado de mar. Uma espécie

boa surpresa!

  Isto de ser professora tem muito que se lhe diga. Às vezes cansativo, outras frustrante. Tantas vezes, especial! E, um dia, eis que reaparece à nossa frente a rapariguita que conhecemos no 8º ano, mas com mais alguns anos em cima – transformada em mulher! Vem com um quadro na mão, pintado por si… qual onda a chamar por mim! Que boa surpresa, hoje! (trabalho de Clara Santos)

foste ao mar fui ao mar

Um chegar a tempo e com tempo.  Um sentar ao mesmo mar que é ato solene.  Um frente a frente. Um lado a lado.  Uma convocatória de vontades.  Um sentar e ficar.  Um estar.  Um conversar.  Um descartar cansaços.  Um apreciar o lugar escolhido. Qual animal a recuperar do estrondo dos dias.

Quem quereria viver num mundo sem árvores?

 E continua  a saga das árvores... ou da falta delas... Mais uma perspetiva! (Produção artística de Mariana a Miserável)

monumentos de raízes no chão e de braços erguidos ao céu

E, assim, continua… anda a árvore de boca em boca, de mão em mão… São assim as árvores: cúmplices e companheiras num aparente mutismo. Por vezes, sob o impulso do vento, esse agitador, sussurram-nos suaves melodias, outras parecem protestar de uma raiva desconhecida, agitando os ramos e as frágeis folhas. São incoerentes as árvores: vestem-se quando o calor se avizinha e despem-se, atirando com fingida displicência a folhagem ao chão, quando o frio ameaça e, depois, se impõe. São assim as árvores: generosas – e gratas - na partilha do fruto, da lenha e da sombra, numa obediência voluntária às necessidades dos homens. Como anciãos experientes e sábios, as árvores falam-nos, sem voz que se oiça, do tempo, do que passou e do que há de vir. São assim as árvores: monumentos de raízes no chão e de braços erguidos ao céu, agradecendo a chuva que as alimenta e o sol que as ilumina e revigora. (Foto e texto de Lu F., 08/12/2021)

e eu, num ápice de movimentos impulsionados

Encontrei uma árvore à solta, envolvi-a. Algures no seu tronco, apareceu escrito «Não estou perdida e vim parar às tuas mãos para que me olhes e me compreendas». É este o espírito da cadeia que é também um desafio para quem o quiser acolher.  E alguém disse:  - Apresento aqui a minha perspetiva – a da dança, como sempre! Era apenas uma árvore, mas de uma beleza extraordinária e singular. Estava ali... do outro lado da janela, lá fora. E eu, num ápice de movimentos impulsionados, fiquei a olhar para ela. Vislumbrei-a! Tinha histórias nos seus ramos e folhagens verdes. Era tempo, eras e dinastias sem fim. Contou-me segredos. E dançou suavemente ao sabor e ritmo do vento. E eu, apenas imaginei e divaguei naquela fração de tempo. Desejei escrever. A folha branca de linhas e a minha caneta dançaram. Senti o prazer da escrita e tive vontade de não mais parar. Desejei e sonhei ser POETA! (foto e texto de Carla Tavares)

Se soubesse como se sentem as folhas que vão ao chão. Nada quietas.

 Se encontrar uma árvore à solta, envolva-a. Provavelmente, algures no seu tronco, aparecerá escrito «Não estou perdida e vim parar às tuas mãos para que me olhes e me compreendas». É este o espírito da cadeia que agora inicio que é também um desafio para quem o quiser acolher.  Apresento aqui a minha perspetiva – poética, como sempre.  Eram as seis e um assobio melodioso aflora à minha janela. Meio surda, meio zonza, subo devagarinho a persiana para verificar a cor da manhã que insistia este despertar, muito antes da hora marcada. Ali estava. Manhã cinza. Apagada. Tudo molhado. Uma completa neblina. Não havia dúvida. Era ele sem sombra de dúvida. Revolto e fazendo barulho por tudo e por nada. Uma choradeira completa em tudo à volta.  O meu novo pátio com o diospireiro ao centro. Despido. Embaraçadamente despido. Os frutos à mostra. As folhas no chão. Nada quietas. Arrastavam-se ao som do cúmplice vento que as envolvia, tentando à pressa esconder as provas do crime. Em voz de falsete,

Mesmo muito mau!

Havia um homem mau.  Mesmo muito mau! Porque incapaz de ser bom. Mas que fazia sempre bem aos maus e aos bons  sem qualquer distinção…

o quente que se procura sempre depois do gelo da rua

por entre os transeuntes vagabundos nas praças há uma escuridão a nascer entre os meus passos prolonga-se a estadia ao frio na quase noite para acolher com redobrado prazer a chama tua o quente que se procura sempre depois do gelo da rua (fotografia de Istvan Kollath)

a luz da árvore quando cresce

Imagina que me conheces por dentro. E consegues ver o mundo de fora com os meus olhos. Não há feridas nem sendas nem pedras. Acredita! Esse mundo que vejo é bonito!