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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2019

Não me interrompas na utilidade da minha distração!!!

Penso ter passado agora a fase da atenção porque me ausento imenso! Sinto recém a chegada fase das distrações: um olhar preso à chuva da janela o estalar em ternura por chegar a destino errado o tempo contado em cada romã estilhaçada o esticar-me lentamente nesta luz a mão distraída em teu peito E passar assim tão leve pela avenida… Agora entendo por que motivo são perfeitas as estadias daqueles velhos que nas mesas daquela praça jogam sem pressas às cartas Portanto, quando me vires parada… Não me interrompas na utilidade da minha distração!!! Mónica Costa (foto de Artur Pastor)

Ócio

No contexto das nossas profissões fazemos E alguns fazem-no bem Outros nem por isso E outros ainda bem demais E vamos ocupando o tempo de forma útil (ou supostamente útil) Mas aos poucos (e se o tempo for todo tomado disso apenas) Vamo-nos aniquilando Porque a pessoa que somos na nossa essência Precisa do ócio (mais do que o negócio) Uma ociosidade generosa Um desprendimento para apreciar a nossa vulnerabilidade Um sair do coma, do frenético lufa-lufa Um humilde e silencioso recuo. ( já que estamos em tempo de férias, nada melhor do que ler «A apologia do Ócio» de Robert Louis Stevenson) Mónica Costa (pintura de Claude Monet)

Nada de likes, nada de partilhas!

Lembra-se bem da magia que encerrava a ideia de, há uns largos anos, ver as gentes a fazer as malas para irem de férias. E se topasse que seriam férias para destinos longínquos e num período que excedia os dez dias, a sua capacidade imaginativa permitia criar imediatamente cenários extraordinariamente paradisíacos porque nunca constatados in loco . Sempre os supôs magníficos nas vidas dos outros. Via essa gente partir de férias e era como se, à maneira moderna, um like gigantesco lhes abrilhantasse a partida. Já em idade adulta, e numa fase de já completa resignação pela condição de turista de garrafão habituada a imaginar os destinos paradisíacos dos outros, sucedeu algo muito curioso. Uma oportunidade única, uma qualquer campanha ou louco desafio publicitário de uma qualquer agência de viagens que decidiu propor o seguinte. Um anúncio desestabilizador, provocante: férias numa ilha paradisíaca com tudo pago durante dezoito dias. Praia de águas cristalinas e areia branquíssima, cab

Distribuição de serviço

Não queria falar de assuntos sérios...mas, sei que nesta altura, muitas escolas se debatem com esta questão. Há algum tempo, opinei sobre a tipologia, incompleta certamente, de Professores ( https://coisassstuff.blogspot.com/2019/05/do-ranking-dentro-das-escolas.html ) nas escolas. Quero acreditar, a sério que quero, que essas tipologias não interferem na atribuição de serviço anual e quero acreditar que há escolas que fugirão a esta caracterização. Assim, encaro o que escrevo de uma forma generalizada salvaguardando as excepções. É tão bom saber atempadamente os níveis, as turmas, os eventuais cargos (aqueles que não se pretendem vitalícios) e demais tarefas a cumprir no ano lectivo que se aproxima (não quero entrar pela temática dos que escolhem as suas, boas, turmas and so on , porque isso lhes digo directamente e ponto). Sabe bem...e, pela primeira vez, em 27/28 anos de serviço, tenho uma noção do que me espera. Até já preparei algumas aulitas, experimentei umas ferramentit

Balanço do ano lectivo by Me

Antes demais fica a vontade amigável de entenderem que, nas redes sociais, também somos Professores. Perceberam?! Na minha opinião, e vale o que vale, este ano foi caótico, cansativo e feito em modo de piloto automático. Caótico, uma vez que o início foi daqueles bombásticos...Bombas! ... e estou a falar o que experienciei, a Cidadania e Desenvolvimento, opção semestral; o 54 e o 55; as Aprendizagens Essenciais, o Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória, ..., que acarretaram um esforço primariamente burocrático, secundado por uma mão cheia de criatividade de desenrascanço. O pseudo-descongelamento com anexo de faseamento, aulas assistidas, horas de formação (Ó balha-me a Santa!), Planos e Projectos inter/transdisciplinares.  Foi intervenção cirúrgica constante!...que, na maioria das vezes, colocou o barómetro de stress em níveis perigosos. Cansativo, porque perante dúvidas, novas surgiam...género palavras-cruzadas com definições em cirílico (deixem-se de coisas, n

Gota

Sentada, sentiu correr na cara. Traçou o seu caminho, entre rugas e sucalcos, que as marcas do tempo desenhara. Não sabia o porquê. Simplesmente sentiu. Com a mão, tentou limpá-la...mas, cansada, focou o olhar no horizonte. O que quereria a Gota? Imaginou dragões e fadas. Seres do seu fantástico ...a Gota continuava o seu caminho. Lembrou que chuvera. Seria resquício ou quimera? Na aurora despontada, a Gota trilhava pela pele envelhecida. ...não era melancolia...não era saudade... Simplesmente era. No momento do acordar, a Gota não era chuva. Era lágrima. Lágrima que de mansinho a avisava da tristeza. A Gota transformou-se em rio. Rebelde, impetuoso, infindável ...qual mar a que tudo aflui. Era a Gota da Consciência. https://image.freepik.com/fotos-gratis/auto-pintura-run-brilhar-chuva-molhado-gota-de-chuva_121-80156.jpg

A velha e o pessegueiro

Cada um com a sua sentença. Era isso que os meus olhos carregavam naquele dia, com toda a certeza. Era isso que eu enxergava nos olhos dos outros que se cruzavam comigo. Talvez se o dia desse em rentável… talvez pudesse pensar: cada um na sua alegria! Mas, realmente, tinham sido dias difíceis e a palavra que me ocorria, quase sempre, talvez da forma mais injusta, era sentença. Palavra triste, pesada, escura, implacável. E foi neste estado que decidi circular. Escolhi de propósito uma rua calma, verde e silenciosa. Podia ser que a natureza me sorrisse e me dissesse: cada um com a sua alegria!  Bem, de repente, avisto um magnífico quintal. Daqueles quintais que não são hortas nem jardins. São quadrados de terra caseira e intimista onde se cruzam couve galega com rosas ou se alinham carreiros de alfaces com canteiros de jarros. Lá ao fundo um tanque tosco de pedra que exibia claros sinais de abandono e que, já há muito, não via água nem sabão. E qual ponto luminoso, no meio do quinta

Não, vou ficar!

João olha o mar.  Está sozinho perante a imensidão do oceano. Veio para refletir. Pensar na vida. E respira. Nunca esta ação deste sujeito poderá ser interrompida por qualquer virgulazinha intrometida. A não ser que….  …pois…. aconteceu o que João não desejava! - João, olha o mar! (Aqui está! O João, o mar e a mãe do João).  A mãe do João que daqui a nada estará a recomendar-lhe: «João, recua! Ainda te afogas!» Ela não entende que o rapaz tem quase vinte anos e precisa de observar o mar a sós. O certo é que a virgulazinha decidiu intrometer-se entre este sujeito e o puro ato de contemplação. E lá se foi o ato contemplativo!  Ai! A vírgula! Esse reparo pequeníssimo e pendurado na linha da frase a tentar resistir, fazendo-nos lembrar que os pequenos pormenores existem e marcam a diferença sem chamar a atenção. Às vezes, até nos esquecemos que ela existe ou colocamo-la num lugar inadequado. Ela lá vive angustiada mas sobrevive. Como agora…devia ter aparecido antes da palavra «m

Demência Educativa

Não me vou queixar, nem choramingar (talvez!). Um ano que iniciou com "novidades" redundantes, de burocracias redobradas, com resmas de preparação bullseye . Um ano que termina numa azáfama formigueira, surreal, atropelando cérebros cansados e já sem discernimento. Faço. Não faço. Peço. Não Peço. Que se lixe! Um próximo ano que se iniciará com mais burlescos apressados e sem qualquer sentido de outcome . Muitos estrangeirismos, há que estar na moda, mostrar "progresso", "evolução"... ou quiçá, influência de interculturalidade fictícia, de necessidade de se encaixar no discurso europeu, de posar para a fotografia parlamentar. Afinal somos europeístas! Sou filha de interculturalidade europeia desde a década de 70 do século passado. Não preciso de ler estudos, teses e afins. A vivência é o melhor coaching of life . Daí ter a noção da implosão da fantástica fantasia que se quer aplicar, por força da Lei. É uma questão de mentalidade, de sangue, de

Flor

Flor não é nome meu. Flor é o meu ser. Bela, vermelho acetinado, qual gota de sangue. Ao anoitecer, aconchego-me numa concha intimista, quente e envolvente. Ao amanhecer, desabrocho ao sabor do sol,  embriagada pela carícia suave de lábios etéreos. Um sopro leve e danço ao som de colibris multicoloridos. Flor não é nome meu. Flor é o meu ser. Espreguiço-me, bamboleando nas gotas de água pura que me banham o ser. Vivo, abraçando toda a seiva que me percorre as veias. Sou bela, vermelho acetinado. Flor não é nome meu. Flor é o meu ser. Murcho, num ciclo que termina. As pétalas vão caindo, caindo, caindo,... Sei que vivi em pleno. Parto para o jardim de flores. Jardim de encontros e reencontros. Flor foi o meu ser. Helena Goulão

Mobilidade por Doença

" O Ministério da Educação reconhece a necessidade de proteção e apoio aos docentes em situações de doença, quer do próprio quer do cônjuge, ou da pessoa que com ele viva em união de facto, descendente ou ascendente que estejam a seu cargo. " Este é um dos excertos consignados no Despacho 9004-A/2016, de 13 de Julho. Tenho a dizer que este é um dos reconhecimentos do ME que não me suscita qualquer dissabor. O que está em causa são situações tremendas, tristes, por vezes, apocalípticas, de vida que, só quem as vive as poderá sentir na sua dimensão. Falo em sentir porque, certamente, não há palavras descritivas para muitas delas. Assim, considero mesquinho muitos comentários que se vão lendo pelas redes sociais quanto à MPD e, já agora, a situações por atestado médico prolongado. Se algo têm em contrário, façam-no nas instâncias devidas. É um direito que nos assiste! " 12 - Por decisão da entidade competente, os docentes a quem seja autorizada a mobilidade por do

E, como é coisa fria, pensei ser o melhor local para afixar um lembrete a quente

Cores verdadeiras, de preferência primárias Viagens de longo curso Aves de rapina, de força Toques de beleza Flores, muitas flores em anúncio Bandas de música a desfilar pelas veias Leituras e teatro a rodos Relva para refrescar os pés Falinhas mansas em mantinha peluda Um sol cansado de tanto brilhar Uma areia quente Luta e energia suficiente Rasgos de coragem e de saudade Um frio amargo e um travo doce ... e sempre as nuvens que restam daquele dia… Não esquecer Viver! (Normalmente, os post-its que figuram na porta do meu frigorífico são amarelinhos da cor do sol e começam assim: «Não esquecer!». E logo a seguir vem uma lista que vai aumentando à medida que a semana decorre: iogurtes, pão, cereais, detergentes, cebolas, pimenta e mais não sei o quê… Hoje coloquei um post-it na porta do meu frigorífico. E, como é coisa fria, pensei ser o melhor local para afixar um lembrete a quente. Hoje, lembrei-me de adequar a lista à cor amarelinha do dito papelucho. É l