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Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2023

Ignoro se um pássaro morto continua o seu voo

Quem te disse que uma decisão a tomar é sempre entre uma coisa certa e uma errada? Quem te disse que a mão que nos estendem é sempre porto seguro? Quem te disse que o caminho andado um dia há de acabar? (o título é um verso de Daniel Faria)

há que dar que fazer ao corpo

há que dar que fazer ao corpo deixá-lo ligar-se, escorrer suor por ali abaixo propor-se roda, fogo, objeto em ascensão há que lhe dar degrau a degrau apesar do peso que o atira ao chão dar-lhe a volta, virá-lo graça, pena, falsete extenuá-lo, dar motivo ao coração para ainda conseguir bater  por dentro das vértebras todas não o deixar esmorecer

Todos somos muitos por dentro

Traz-se homens na cabeça mulheres no peito crianças no ventre velhos na mão os pés arrastam-nos pesados como se fossem vinte de cada lado. Todos somos muitos por dentro. E, no entanto, aparentamos a fragilidade de um só por fora.

eu sei como escapar

as pessoas que são números contas (de subtrair), retornos e préstimos títulos e património, um deve e um haver  pessoas que são sempre de pé atrás cujo valor oscila  de acordo com as flutuações do mercado gente na garantia que não dá ponto sem nó pessoas com a espinha curvada, o sorriso apagado e uma mão cheia de nada são números, não pessoas contabilidade, apenas

ponto de luz

Escutando no vento Tua voz secreta Que me sopra por dentro Deixa-me ser só ser No teu colo eu me entrego Para que me nutras E me envolvas Deixa-me ser só ser Um ponto de luz Que me seduz Aceso na alma Por trás dessa nuvem Ardendo no céu O fogo do sol raie Eternamente quente Liberta-me a mente Um ponto de luz Que me seduz Aceso na alma (Sara Tavares)

tudo arde

Eu sei que sou homem de triste fado porque tu és vermelho tentador de fim de tarde e manhã de branco imaculado  e só me fazes pensar em maldades Tudo arde… mas esse teu rosto em lume brando impedem-me de atingir o patamar do inesperado e tocar esses teus braços que se estiram ao meu lado

Mais, mais, mais

Mais, mais, mais. É assim que o insatisfeito encara a dança. Vem. Só é meia-noite uma vez.

36º espanto

É preciso algum tempo para nos habituarmos.  É preciso que conheças os caminhos que te levam à próxima estação. É preciso que saibas interpretar os horários dos comboios com todos os seus transbordos. É importante saber distinguir as estações dos apeadeiros. É importante poder escolher a melhor hora que te permita uma viagem em assento tranquilo para que possas saborear a música que se desprende do deslizar da carruagem nos carris. É preciso perceber o abrir e fechar de portas e saber ouvir a voz que anuncia a próxima paragem. É preciso aprenderes a sair no sítio certo, mesmo quando as janelas do comboio tateiam a escuridão.  Sei que é preciso tempo para nos habituarmos.  O que me espanta é que, ao fim de trinta e cinco anos de viagens de comboio, consiga ainda encarar o espanto. Preservar a eterna novidade da partida e a ansiedade da chegada. Manter a esperança de desvendar qualquer coisa de brilhante no meio de tanta gente que se arrasta. Ter a certeza de que não há duas viagens igua

nova luz

Espero por ti ansiosamente. Ao fim da tarde. A mesa do café onde te aguardo ganha nova luz. E juro que enquanto espero sob a minha pele te guardo. .

E há aqueles que nasceram para continuar

Há aqueles que nasceram para ficar E há aqueles que nasceram para continuar a fazer a construir a sentir a quebrar, se preciso for a acreditar naquilo que têm e que ninguém lhes pode tirar

Now and then

Há coisas que não precisam de ser ditas Porque  falam  os olhos que se cruzam Falam as mãos que se entrelaçam Fala o arfar que se solta  Fala a pele que se cora E, assim,  as bocas silenciadas por um beijo.

e, em vez de pães, serem rosas

Repara bem. Houve quem conseguisse caminhar nas águas abrisse o mar com as mãos ou multiplicasse os pães e, em vez de pães, serem rosas. Como é  ardilosa a questão de nos cobrir com um pesado: «se houve alguém que conseguiu tu também consegues». Claro que, agora, sabemos bem  que, às vezes, é impossível  e não temos bem a certeza que, alguma vez, alguém tenha conseguido tal proeza mas repara bem agora, já não há nada a fazer, ficou assim determinado,  desde os primórdios,  que temos de saber lidar com este legado tão ambicioso e tão incómodo esta incontornável  necessidade de quereres ser tu  o próximo a ficar na história a caminhar sobre as águas a abrir o mar com as próprias mãos e multiplicar rosas em vez de pães. (obra de René Magritte)