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A mostrar mensagens de setembro, 2021

única medida

A única medida do tempo que me convém é esta: Eu sei que é implacável -  o de fora muda o de dentro enriquece (fotografia de Nina Djaerff)

Será isto o que a poesia tem querido de mim? Será isto que eu quero para ti?

Hoje. Assim, exatamente. Este momento. Um rápido instante de espanto. E ter a sorte de uma janela que, embora em dia menos bom, me atira o olhar para este jardim. Assim. Florido. Hoje. De rompante. E, maravilhada, começo a dar crédito a estes olhos que me desviam do que não interessa e me trazem para o caminho as flores. Hoje sei. É um olhar do pode ser e do que pode vir. Um olhar que se escolhe. Um olhar que faz por ser presente. Assim. Nem mais nem menos.  Será isto o que a poesia tem querido de mim? Será isto que eu quero para ti?  Como diria Alexandre O’Neill, «há uma palavra francesa com a qual posso perfeitamente exprimir o rompante mais presente em tudo o que escrevo: dégonfler. Em português, traduzi-la-ia por desimportantizar, ou em certos momentos, por aliviar, aliviar os outros, e a mim primeiro, da importância que julgamos ter. Só aliviados podemos tirar o ombro da ombreira e partir fraternalmente, ombro a ombro, para melhores dias, que o mesmo é dizer, para dias mais verdad

Oiço a tua voz, dizia, e, dentro de mim

Oiço a tua voz - reconhecê-la-ia ainda que, subitamente, falasses outra língua... Oiço a tua voz, dizia, e, dentro de mim, um vulcão ameaça entrar em erupção para, de seguida, se desfazer num rio de lava. Oiço-a e, por instantes, sou pássaro em sinuoso voo, sou margem venturosa de um rio que, por descuido, extravasa o leito. Sonho-a e, nos meus sonhos, a tua voz, desconhecida, outra, perde-se dos meus dedos e da possibilidade de a recolher límpida e inocente no meu colo. poema da minha amiga Luísa Félix

E é Amor dito à boca cheia

E é Amor dito à boca cheia que vem de dentro sem receio É o fim que dignifica os meios É querer ser Mãe por inteiro É apregoar aos quatro ventos É este o Amor certo esta maravilha que a vida tornou concreto!

pontos fatais

 Já não há nem sequer conserto possível Sou apenas esta meia dúzia de pêlos no nariz e esta verruga no olho direito com personalidade  exibo este incisivo lateral desalinhado e confirmo duas cicatrizes de quedas infantis Sou de uma arquitetura complicadamente maravilhosa duas mãos pequenas que agarram tudo duas coxas volumosas e outras curvas que tais e a língua comprida demais contei, ontem, dezoito sinais ao todo nos sítios mais inusitados  e nem sei como tenho estas duas orelhas tão intactas do tanto que aguento e oiço Por tudo isto e muito mais Nunca mais me chames «meu bem»! Daqui para a frente podes ignorar-me porque tenho atestado médico que justifica todos os meus pontos fatais. (obra de Amedeo Modigliani)

assim

o muito em vez do pouco o não te contentares com metades o saber dar, receber e ficar perto o querer estar e ser para completar o que andou a vida inteira incompleto

O que se passa é

É isto! Tão simples quanto profundo. A natureza, da qual todos nós fazemos parte, é maravilhosa e sempre ali esteve em todo o seu esplendor. Tudo no sítio certo. Nós somos tantas vezes o único elo que se encontra em desalinho. Andamos distraídos ou em guerra uns com os outros. Nem sempre conseguimos ver as coisas certas ou só vemos o que nos apetece. Exclusivamente preocupados com o nosso próprio bem-estar…  O que se passa é que, muitas vezes, fomos nós que quisemos estar isolados de todo este mundo maravilhoso. Mas, um dia, somos chamados. É exatamente assim. Uma revelação. Um espanto! É como se uma poderosa visão nos assaltasse. Há sempre um momento na vida de cada um de nós em que aparece alguém ou acontece algo que nos faz perceber isto. Uma revelação que vem sob a forma de coisa pequenina, mas que atinge proporções gigantescas. Acontece algo que se revela e logo se escapa. Um pormenor sem a mínima importância – é assim que normalmente surge. Disfarçadamente. E fica ali à nossa esp

os princípios do fim

 Já não gosto já não quero Voei sempre para o lado esquerdo a faixa que me destinaram Sempre tive aversão aos exageros aos pactos com santos e curandeiros Nunca corri fora de estrada e nunca bebi até cair Acho que fiz tudo na medida certa mas agora Já não gosto já não quero Porque adoro outro cheiro  O dos princípios do fim e o das manhãs O dos suaves murmúrios e o das tardes O da luz dos candeeiros e das noites de olhos abertos que me fazem gostar e querer de corpo inteiro