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Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2017

Saúde Mental?

É ironia, coincidência ou mesmo assim...quando vais comprar umas couves no mercadozinho do bairro e encontras um panfleto alusivo ao Dia Mundial da Saúde Mental 2017, 10 de Outubro? O mesmo era  promovido pela ULSNE, Unidade Local de Saúde do Nordeste, e pelo projecto Saúde Escolar. «A OMS define saúde mental como: "O estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades, pode fazer face ao stress normal da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir para a comunidade em que se insere."» Não pretendo depreciar estas iniciativas, nada disso. Somente destacar algumas ideias  blasée   que zumbem neste cérebro doente (ou doentio?...estou confusa). Pela citação do panfleto, e fiquemos por Portugal, constato que o país sofre de doença mental. É a ausência de pequenas coisas, género "bom dia", "desculpe", "(muito) obrigada", "faz favor", acompanhado por um sorriso delicado, quando nos movimentamos pela

Andrómeda, Dois Dentes de Ouro

Andrómeda, Dois Dentes de Ouro, trabalha numa prisão como Terapeuta de Grupo. Do sexo feminino, mas dada a Maria-Rapaz , mede 1,70, tem cabelo  branco, liso e escorrido, corpo escanzelado e veste de forma negligente (que se lixem os estereótipos!). Nasceu com dentes de ouro, dois incisivos centrais, que condicionaram a sua vivência. Enquanto embrião, foi desejado mas desiludiu por ser Femina ...Velhos (pre)conceitos, no entanto, ainda tão actuais: rapazolas precisam-se! Por ora, e estando em constante actualização mediante as necessidades contextuais, ela lida com as personagens que se apresentam: - Reclusos - conhecidos por números (não há interesse em saber o nome), provenientes de vários estratos e condenados por crimes vários; - Guardas Prisionais - os bons são os Verdes, os maus os Cinzentos; - Gabinete 14 - local de trabalho na prisão; - Mestre Interior - também conhecido por MI, é o passado, o presente, o futuro; - Colaboradores - todos os anónimos, homónimos, sin

Vale de Curro

Pronta para saltar da cama! ...os primeiros ruídos de actividade ouvem-se e a Menina está pronta! "Ó Vó?...o primo já foi buscar a Boneca?". Perante a anuência da avó, ela salta da cama, corre para a casa de banho, um lavatório esmaltado com balde e apoio para a toalha, um buraco no chão como sanitário, que escoa directamente para a estrumeira. É rápida...o barulho da carroça acelera os afazeres matinais. Corre escada abaixo, abre a porta e...alegria: a Boneca está atrelada à carroça e impaciente para dar uma volta. Não gosta de estar parada nem de festas, mas consente que a Menina lhe faça umas carícias no focinho sedoso, enquanto as orelhas não param de se movimentar. As moscas, apesar da hora, já começam a picar e a Boneca mostra a sua insatisfação fustigando com a cauda o ar inebriante da manhã. Bora! Bora!...toca a carregar a carroça: baldes, enxadas, foices,..., e o farnel. Sobe e não, não quer ir sentada no banco-tábua-de-madeira, preferindo aconchegar-se entre as

Cavalinho Branco

Corrida desenfreada, alegre e expectante... Estava num canto ao fundo da sala, branquinho, rédeas vermelhas, patas engatadas num balancé... Com o coração cheio de alegria, largou a mão do pai e lançou-se tropegamente cambaleante, ainda só tinha 2 anos, em direcção ao baloiço. Montou...hmmm...que bem sabia o blamá, blamá, blamá,...Era rainha e iria conquistar o mundo! Nada podia ser feio e agreste no mundo desta menina.  Não era loira nem tinha olhos azuis-verde-albinados que se fundissem na paisagem branca e, aparentemente, pura de uma Natureza bela e estranha. Sim, estranha. De onde viera nunca tal tinha visto, o Branco.  O Cavalinho cativou-a e ajudou-a a estabelecer contacto com os outros, maioritariamente alvos, entrando nas brincadeiras inocentes dos gaiatos de tenra idade. A comida era diferente mas saborosa. As roupas almofadadas aqueciam nas brincadeiras néveas. Boladas e gargalhadas. Bonecos com nariz-cenoura, olhos-botão, boca-maçã e braços de vassoura... Acabou o

Pacífico vs Passivo

Somos  pacíficos   ou  passivos ? Pacífico, tolerante, amante da paz  versus  passivo, inerte, sem vontade própria. Dizem que somos um povo de brandos costumes , logo pacíficos. Não sei se concorde com esta conotação... Para se ser pacífico tem de se ter noção do que nos rodeia, fazer a leitura individual ou colectiva do que é e, em conformidade opinativa, argumentar em prol de algo respeitando a opinião de outrem, refutando ou concordando construtivamente com o objectivo de alcançar uma conclusão. Passivo, dispensa qualquer atitude e pensamento, por não se coadunar com qualquer tipo de acção. É muito mais simples ser passivo. Esquiva a intrincada tarefa de tomar uma posição, de dialogar, de agir e assumir consequências. Portanto, se me dizem que sou de brandos costumes , parto do princípio que já analisei algo e que, de forma ponderada, tomei uma posição a priori não violenta e assertiva. Podem discordar, estão no vosso direito, mas após vivências várias, creio que somos, essen

18 de Novembro de 2017

Um dia como outro qualquer...diriam alguns. De certa forma, sim,...  no one lives forever . Há os que vivem, os que sobrevivem e os que, vivos, não vivem. É impossível não viver quando se ouvem estes acordes e as dinâmicas, por vezes repetitivas, quiçá o segredo da mística destas melodias cantadas.  Fizemos muitos km juntos. Sim, conduzimos juntos. Gememos, choramos e partimos a garagem juntos. Abanamos a cabeça num movimento pendular ora embalador ora galvanizador. Loucura acompanhada e partilhada. Caminhada unida desde o primeiro encontro. Como demónios do inferno, como serial killers ou como choramingas de amor. Sentimentos do extremo que caracteriza o ser humano. Não acredito em 50&50 ...É tudo ou nada! Os extremos esgotam ou enchem-nos de energia, dão-nos satisfação. Aquela satisfação bruta de que renascemos...ou não. Para renascer é preciso morrer. Pobres aqueles que vão andando...Para onde vão? Este dia abaliza que só vivemos até determinado tempo. Viver-tempo,

Demolição

Demolidor...destruição de uma casa, quiçá, da década de 70 do século XX. Com ela vão histórias de um passado, em que construir uma casa, a minha casa, era um orgulho e um objectivo de vida. Com ela vão os sonhos que, nem sempre, a maioria das vezes sejamos sinceros, não se concretizaram. Por mudança de perspectivas, por inércia, por azares, como se costuma dizer, ..., que nada mais foram que idealizações ou tentativas falhadas. A casa que me deu abrigo, arrumei e decorei à minha maneira, e que, quem a visse, diria "Ó pá, esta fulana deve..." . Pois, deve, mas não foi nem é. A aparência não mostrou o Eu!...mas que aparentou, aparentou. Quem nela entrasse, pensaria, sim porque raramente se admite opinar livremente por-não-parecer-bem, "Ainda é mais desequilibrada do que parece...Coitada!" . Acomodamo-nos no velho sofá, destruído por unhas felinas  e recheado de almofadas e mantas coloridas, com um chá de menta a fumegar. Falam e eu oiço...Falam e vou acenando com

Recluso 269

Andrómeda está inquieta. Sabe que tem algo para fazer, mas não se consegue obrigar a agir. A inquietude já há algum tempo que se manifesta. Sonhos agitados e tenebrosos recordam-lhe o passado que, ironicamente, o Mestre Interior, reescreve de forma cruel e real… Andrómeda sabe que terá de fazer algo… Levanta-se. De que adianta manter-se num limbo em que o Mestre Interior, MI, brinca e manipula a sua razão e emoções? Mais vale tomar um café e fumar um cigarro. O.K., duas toxinas que, e dá jeito a Andrómeda contrariar MI,  já foram medicina e moda. Andrómeda não quer saber. Mas, o mal estava feito, a recordação estava de volta. Fechou os olhos e revive a cena arquivada da adolescência. Casa de banho. Grupo de Femina . Fumo espesso, malcheiroso e sufocante. O ritual iniciático estava em curso. Andrómeda, escanzelada e pálida, onde somente os dois dentes tinham cor, tenta novamente “travar” o fumo do cigarro. Engasga-se e tosse. Os incentivos renovam-se “Tu consegues!”, “Já sabe

Não sei

Não sei porque urge teclar algo que, certamente, não interessa a ninguém. Talvez nem a mim... Não sei porque não me apetece levantar e, no entanto, não durmo. O que durmo atormenta-me mas leva-me a querer abrir os olhos. Posso olhar e não pensar... Não sei porque as pessoas me repulsam, se eu própria tenho repulsa pelo que miro ao espelho. Talvez não fosse má ideia partir tudo o que reflecte o que não quero ver... Não sei porque este sol não me aquece. Já queimou. Já isolou. Já desterrou o que era vida há muito. Talvez com a chuva encontre rebentos de vida...belos e inspiradores de sorrisos. Não sei se viva ou sobreviva. Creio que a questão do sobreviver me atormente...mas viver é cada vez mais tristonho. Não sei se a utilidade de mim ainda seja necessária. Afinal, ninguém é insubstituível....dizem. Não sei se o sentimento esmorecido seja um vazio da "alma". Alma que, dizem, é única. Não sei por que  e quem viver. É cansativo estar sempre perto, disponível, prestável