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Cavalinho Branco

Corrida desenfreada, alegre e expectante...
Estava num canto ao fundo da sala, branquinho, rédeas vermelhas, patas engatadas num balancé...
Com o coração cheio de alegria, largou a mão do pai e lançou-se tropegamente cambaleante, ainda só tinha 2 anos, em direcção ao baloiço.
Montou...hmmm...que bem sabia o blamá, blamá, blamá,...Era rainha e iria conquistar o mundo!
Nada podia ser feio e agreste no mundo desta menina. 
Não era loira nem tinha olhos azuis-verde-albinados que se fundissem na paisagem branca e, aparentemente, pura de uma Natureza bela e estranha. Sim, estranha. De onde viera nunca tal tinha visto, o Branco. 
O Cavalinho cativou-a e ajudou-a a estabelecer contacto com os outros, maioritariamente alvos, entrando nas brincadeiras inocentes dos gaiatos de tenra idade. A comida era diferente mas saborosa. As roupas almofadadas aqueciam nas brincadeiras néveas. Boladas e gargalhadas. Bonecos com nariz-cenoura, olhos-botão, boca-maçã e braços de vassoura... Acabou o recreio e batem-se as botas à entrada da sala, deixando pequenas lagoas pingadas no hall
O Cavalinho Branco sorri do seu canto...Bam! Um repelão sacode a menina que, pela primeira vez, tem de lutar pelo "seu" cavalo. A alma enche-se de uma fúria quente, típica de onde provinha. A ira leva-a a crispar os punhos e a lançar-se contra quem tinha ousado desafiar o seu reinado. Uma mão gigantesca termina com o confronto e o castigo, sim, o castigo, é não poder montar o Cavalinho Branco.
A rainha tinha perdido a sua primeira batalha...Amuada, irada, injustiçada, retira-se para o canto oposto da sala. Nesse dia não há consolo nem alegria. Observa as brincadeiras dos brancos e sente saudades. Saudades do calor e do cheiro a terra quente recentemente tolhida por pingas de água. 
No dia seguinte, esperançada e esquecida da fúria anterior, dirige-se ao Cavalinho Branco. Como sempre, tinha sido a primeira a chegar, correu para o cantinho onde a esperavam os olhos doces e amendoados do seu corcel de batalha. Por ora ele era todo seu e ela era novamente rainha!
Rainha de um mundo imaginário onde não havia espaço para tristezas. Cavalgando em frente, desafiava quem se lhe atravessasse no caminho. O ar frio tinha-lhe rosado o rosto, num colorido brilhante de esperança e satisfação...Bam!...caída no chão ergue os olhos e enfrenta a multidão de rostos brancos, enquanto o Cavalinho vai abrandando a corrida balanceada. O calor, agora já familiar, começa a abraçar todo o seu ser e os punhos voltam a crispar-se...Estava pronta para a luta!

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