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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2022

grandeza dos bichos pequeníssimos

Nos dias da semana, saía para a escola de manhã. Cumpria o ritual! Nada de especial… Mas a tarde… Ai, a tarde! A tarde era um colosso! Não havia aulas. Chegava a casa, atirava com a pasta para um canto, descalçava-me e corria para a rua, para o campo. Que felicidade! Minutos e minutos de pura felicidade! Nem pensava duas vezes! Na terra por entre as formigas, caracóis, minhocas e outros bichos que tais, assentava arraial a tarde inteira naquele quintal, de rabo no chão, joelhos na terra, mãos sujas de felicidade!  Tinha, nessa altura, uns sete, oito anos e eu e os bichos éramos do mesmo tamanho, portanto, confraternizava naturalmente com eles em perfeita comunhão e alegria.  Noutro dia, deu-me para a jardinagem. Depois de pensar duas ou três vezes, atirei com a pasta para um canto (que prazer me deu!), descalcei-me e corri para o pedaço de terra mais próximo (não foi bem correr, digamos que foi mais andar a passo rápido…). Fiz questão de me chafurdar vestida a rigor tal e qual como naq

triste evidência

  Não há paz sem defesa.

O que existe em mim além de mim?

O que existe em mim além de mim? A tua indelével marca que guardo a tua palavra aquela que me lembrava do tudo que em mim existe de formidável

De tudo isto restei eu

Em primeiro lugar, porque é o que eu sinto. Depois porque, hoje, é o dia mundial da Poesia e, finalmente, porque o início desta primavera fica assinalada pela morte deste poeta com 80 anos de vida dedicados aos poemas. O desabafo de Gastão Cruz é também o meu e o de muitas pessoas que fazem, olham, fotografam, sentem, pensam, dizem e escrevem em forma de Poesia: «Os poemas que fiz, só os fiz porque estava pedindo ao corpo aquela espécie de alma que somente a poesia pode dar-lhe.». Cedo nos impõem uns pais, uma terra natal, uma língua, um sexo que rotula. Impõem-nos, desde muito cedo, um credo, um nome e umas quantas vestes que devemos envergar. Mas, à medida que crescemos e envelhecemos, é-nos dada a possibilidade e escolhemos, preferindo e detestando, amando e desprezando… e, como diz alguém, é saber lidar… Podemos resignar-nos à condição imposta ou esbracejar até ao último dia da nossa vida em prol do que mais desejamos, daquilo que nos alimenta a alma e que é muito mais importante d

dias e dias

é o primeiro de todos o que tem mais luz e o mais difícil de obter mas, depois de alcançado,  todos os restantes brotam, rolam escorregadios, por ti afora, sem freio para ver qual deles é o primeiro a chegar ao fim a linha é funda na palma da mão que desenha as linhas do tempo, então

Hoje estamos cá, amanhã logo se vê!

Hoje, faz precisamente dois anos que Portugal parou! Entramos em estado de alerta por causa do novo coronavírus. Diziam os entendidos, que no fundo entendem tanto como nós, que não chegava cá. Viu-se... Chegou e matou. Foram tempos difíceis, psicologicamente, para os mais sensíveis. Lembro-me de ver os noticiários e só se falar em morte.  Em Itália, viam-se filas indianas de caixões.  Ia ficar tudo bem!  Se há frase que me irrita é esta, mas para tudo! Se começa mal, nunca pode acabar bem, acaba diferente e temos de nos adaptar à nova realidade. Viemos para casa, eu dei aulas online, perdi-me em papéis, deu-me vontade de atirar o computador pela janela. Os professores trabalharam 24 horas sobre 24 horas, fizemos piquete. Os enfermeiros e médicos, coitados, deixaram as suas famílias para salvar vidas alheias. Os restantes vieram para casa, tomaram conta dos filhos. Uns receberam apoios, outros aproveitaram-se dos apoios e outros perderam a vergonha e trataram funcionários como lixo, com

Queiramos nós...

Queiramos nós … sermos fortes o suficiente para sonharmos às vezes, não vivermos sempre para nunca nos transformarmos em seres ocos palhaços zarolhos espantalhos loucos cavaleiros do nada! Nunca nos transfigurarmos por causa da voz deslavada nunca vermos o estalar do som da erva seca e fustigada que nunca se aninhe em nós a sombra disfarçada! para nunca nos deixarmos aprisionar pela forma de formas que são pedra desgraçada não consentirmos que nos sequem o coração à custa de esperança acorrentada! para nunca nos paralisarem o gesto com mãos condolentes na curva do ombro Que nunca chegue o tempo de nem sequer dizermos Bom dia!  Que nunca nos transformem em pavio  caminhando com pés de medo em esboço de assombro! Que nunca nos chegue o tempo em que não adianta morrer porque já  morremos…

não digas nada

  já nem a palavra mar é salgada nem a palavra boia nos salva de nada está a palavra esperança tão desorientada andam as palavras tão fartas de nós portanto, vê, sente, faz e toca de resto – não digas nada.