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Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2021

nunca

Pode ser que me sossegue de qualquer maleita Posso livrar-me da dor de dentes da dor das costas Da dor da alma – nunca - Porque me inquieta e encanta! (imagem de Sarah - Jane Szikora)

Não procures no perfume das flores a tempestade das raízes.

Quem sabe ainda vá a tempo de compor novas estrofes como quem arranja uma colcha nova para esta velha cama. Uma última tentativa que me acolha doce nesta metade do poema que, segundo dizem, é a mais agridoce das idades. Mandei arranjar as pernas por precaução  não vá a cama pirar-se a qualquer momento julgando-se jovem outra vez, à custa de tanta atenção e fiz a cama com cuidado como quem se deita nela e dei a pena ao manifesto repousando inteira em versos livres. Ajeito, por último, a almofada à cabeceira na esperança de ter menos olhos que barriga e ponho, na janela, um jarro sem querer das flores a tempestade das raízes sentir tudo isto apenas e só como o barro como quem molda a dança destas novíssimas sílabas. (*O mote foi dado por José Gomes Ferreira)

O dia-passagem para aquilo que ainda é espanto.

 O dia de hoje. O melhor do mundo. Que será ainda melhor amanhã. O dia que nos dá a guerra, mas a paz. O dia que teremos sempre à nossa espera. Minutos que ainda servem, se sentem e insistem. Música e algumas portas entreabertas se tanto. O dia-passagem para aquilo que ainda é espanto.

colocou-se na paz do tempo e demora

Colocou-se na paz do tempo e demora agora já nada disfarça em degustar o travo  - e ouvir o acorde bravo regozija-se nesta nova perspetiva do desastre e adora considerando tão doce a manhã que o acolhe todos os dias em festa Sorri! Não te esqueças! Enganam-se todos aqueles que pensam que tomba aquele cujo voo afinal vira sempre asa!

O rio diz que estamos rolando

Houve alguém que, finalmente, publicitou uma mensagem. De quem a voz? Quem a silencia? Quem a detém e espia? Alguns minutos. Algumas páginas de jornais. Sem grandes alaridos. E assim perpassa a angústia dos tempos atuais. Um desconcerto. Não do mundo, mas de quem perceciona a vida de forma caótica. Traumas, vazios… enfim. É um olhar os prédios que nos rodeiam e ver apenas paredes e janelas fechadas e não o sol de gente decente que as habita. O sol existe, mas a natureza humana insiste em cerrar cortinas para não deixar entrar a luz. O que vale é que há sempre alguém que, de forma quase louca, aos olhos dos reinantes, teima em tocar a campainha destes prédios silenciados. E um toque de campainha no silêncio desta rua instaura de imediato um caos, uma insurreição. Só que, por vezes, por mais corajoso que seja o gesto de avançar, torna-se impotente face ao ouvido impávido de quem insiste em não ouvir, até porque é vencido o cavalo pelo cansaço. Mas tudo corre, a natureza continua o seu cu

não há coisas inertes no horizonte

Oh! Chuva que te agarras tão doce a deslizar neste vidro aqui tão perto do banco onde me sento Quanta suavidade há neste preciso momento! Deixou-se embalar a ela e a mim tão solta esta gota desenfreada sem eira nem beira  nesta nossa tão rua tão dança de alagar e quem a olha e segue, como eu, nesta vidraça sem remédio consola as mãos nesta bendita chávena quente e fica doravante provado que não não há coisas inertes no horizonte… … e que a vida parece pouca quando tanto se sente!

os riscos da nossa verdadeira essência

Uma das maiores traições que podemos cometer é connosco próprios. Fugirmo-nos, deixarmo-nos escapar, botarmo-nos ao abandono. Ir contra aquilo que no mais fundo de nós vai sussurrando como nosso. Aquilo que nos compete e compele, aquilo que nos define e que sempre ali esteve, aguardando-nos pacientemente. A coragem com que conhecemos o sítio de onde viemos. A coragem que levamos gravada na pele, pelos caminhos que palmilhamos e a coragem de sentirmos para onde o nosso desejo aponta. Mais cedo ou mais tarde, o nosso rosto, o nosso olhar, as nossas entranhas nos revelarão a verdade e hão de ser sempre a nossa voz, assomando-se como um grito esclarecedor e purificador. E, nesse preciso momento, assumiremos todos os riscos da nossa verdadeira essência.

ninharia

Noutro dia, folheando um livro, como sempre magnífico, do Miguel Esteves Cardoso, deparei-me com a situação que merece reflexão.  Ora, a reflexão a que acedi foi a seguinte. A língua portuguesa é o que é. Não há nada a fazer. É uma língua riquíssima e que se presta às mais variadas divagações. É só ter paciência e tirar partido das diferentes possibilidades da palavra em português e fazer dela o que se quer. Mas, às vezes, há algumas palavras que chegam até nós tão maltratadas, tão insultadas e incompreendidas que até dói! Tal é o caso de «ninharia», sendo a palavra «ninho» uma palavra tão bela!  Talvez tenha sido o espírito reles de algum mau dicionário que, não sabendo dar valor ao espírito do bom português, a atirou para a página errada e não no seu lugar de origem onde as coisas nascem e crescem.

vai-se o azul, chega o amarelo e castanho

 Há sempre uma voz que soa a derrota e diz o fim do verão é aquela altura do ano que deprime…  Vai-se o sol, chega a nuvem… Vai-se o calor, chega o frio…  Vai-se a esplanada e, que remédio!, um casaco…  Não há mar que nos molhe o pé…  Não há dias compridos…  Vai-se o relaxe, chega o trabalho… Mas hoje, particularmente, está um lindo dia de fim de verão!  E penso.  Não é dia de fim de verão, mas dia de início de um outono e é apenas o primeiro de muitos destes! Altura ideal para dar a volta e repensar o que existe.  Não há sol e chega a nuvem. É verdade!  Mas é nuvem frondosa digna de se lhe botar o olho!!  Foi-se o calor, chega o frio. É verdade!  Mas como é aconchegante esta mantinha que me envolve o pescoço e cobre o meu nariz!!  É tão só o prazer do ninho e um contraste maravilhoso entre o frio de fora e o calor que vai cá dentro.  Vai-se a esplanada. É verdade!  Mas chega o cantinho do café, aquele mesmo cantinho mesmo ali à tua esquina com um chá a ferver à tua espera e onde folhe