Quem sabe ainda vá a tempo
de compor novas estrofes
como quem arranja uma colcha nova
para esta velha cama.
Uma última tentativa que me acolha doce
nesta metade do poema
que, segundo dizem, é a mais agridoce das idades.
Mandei arranjar as pernas por precaução
não vá a cama pirar-se a qualquer momento
julgando-se jovem outra vez, à custa de tanta atenção
e fiz a cama com cuidado como quem se deita nela
e dei a pena ao manifesto repousando inteira em versos livres.
Ajeito, por último, a almofada à cabeceira
na esperança de ter menos olhos que barriga
e ponho, na janela, um jarro
sem querer das flores a tempestade das raízes
sentir tudo isto apenas e só como o barro
como quem molda a dança destas novíssimas sílabas.
(*O mote foi dado por José Gomes Ferreira)
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