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Quando os olhos se habituam

Só te queria dizer que estou bem. Não te preocupes. Os fios do meu cabelo andam sempre em desalinho, conforme já sabes, ganhando vento. Os meus dez dedos… esses andam sempre abertos à espera de um abraço. A cabeça anda no ar (sempre), os braços ao alto em sereno sobressalto. Por vezes, a vida é toda chão, mas logo, logo, sou toda movimento e sou já sem chumbo à espera que me nasçam asas nos pés. E tenho sorte porque há sempre um de repente que me empluma ou um contra repente que me faz escorrer para o desapego. Sou cada vez mais uma nuvem gigante e cada vez menos osso ou carne. É este o desígnio. Não há nada a fazer… Há dias em que passo menos bem, tão precisada que ando de socorro, assim tão enleada, quase vapor, mas subo e subo às alturas do meu ser e viro (não pedra nem caco) mais uma gota já sem noção do espaço. Puxo da garganta palavras de peso que me elevem do chão e fico muda às voltas pelo ar. Tenho quase a certeza que sou bicho, fervendo de alma e inebriado de mar. Uma espécie de loba que virou onda que é excesso de água e que ondula entre o céu e a terra. Sou bondade, regaço de luz. Tenho esta certeza e continuo a gostar de ti. A vida deu-me licença para voar já sem benefício nem favor.




              


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