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em jeito vertical

Abriu-se uma porta gigantesca para um pátio axadrezado. Ditava-se, doravante, uma série de contrastes em sinais claros e escuros que indicavam caminho. 
Pus o pé bem assente no chão, sentindo todos os tremendos ossos que o compõem e preparei-me para a subida. Lá vou em jeito vertical. Até quando? E iam surgindo degraus, um a um em espiral. Eu bem sei que cada um imagina as suas próprias rosas e sei que não há rosas sem espinhos. E era a pensar nisto que iniciava a subida íngreme em escadas finas. E dava à perna nestes degraus infernais! De quando em vez, ía parando para observar, distraída, através de janelinhas minúsculas, a sumptuosidade do Sol e das ondas do Mar Azul que acenavam a sorrir-me sarcásticos lá em baixo. Às vezes afundo, mas, neste dia particular, subia. E subia arfando! Peito insuflado! E a mansidão que me elevava em cada degrau feminino contrastava com o dia violentamente masculino que dita a vida curta e a morte certa. E, por cada degrau, qual malmequer, contava quem bem me quer. Quatrocentos degraus cumpridos no final, mais alguns minutos de sobra de uma escada em caracol (quantas vezes, como diz o poeta, sem corrimão). No pináculo mais alto, um varandim. Absoluto voltado para o mar côncavo que se apresentava brilhando, suavemente devastador. 
E a uma altitude de cinquenta e sete metros acima do nível do mar e, em três breves lampejos de catorze em catorze segundos, julgando-me luz com alcance para uns largos quilómetros, pensei nesta primavera de prata e nos teus olhos quando dizes que nada mais importa!

Mónica Costa




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