Avançar para o conteúdo principal

Que bela lhe apareceu a vida naquele instante!

Diante daquela janela estendiam-se campos e campos verdes. Eram vinhedos e árvores ao alto. Era essa sempre a perspetiva de quem se estendia ao comprido no alpendre e dava com os olhos em linha sempre segura e acreditável.
Mas, naquela tarde, o olhar subiu indisciplinado e ficou fascinado pelo desenho invulgar das nuvens.
O céu estava um espanto em movimento de lento azul e havia uma montanha de branco espantoso que se espraiava em rasgos de dança. 
Foi assim tão fácil! Nada trazia nas mãos e, de repente, ficou de mãos e olhos cheios!
Tudo estava tão tranquilo. Deixou-se, portanto, encantar! 
Foi então que se ergueram três figuras esguias em jeito de bailarinas equilibradas nas pontas dos pés. 
E rodopiavam! Airosas, com vestidos de tule branco leve, leve, levíssimo. 
Eram nuvens dançando com o vento? Ou pernas de mulheres alinhadas em três?!
Puro bailado: rodopiavam e inclinavam-se para recolher em abraços os últimos ares outonais. E por cada movimento, desenhavam-se linhas impalpáveis e inacreditáveis!
E o homem do seu alpendre estava pronto para receber o sorriso que as nuvens nos oferecem, todos os dias, de forma grata.
Este céu esperou uma vida para que este homem conseguisse levantar os olhos por si só. 
Que bela lhe apareceu a vida naquele instante!

Mónica Costa




Comentários