Já há muitos anos visitei uma exposição no Museu de Serralves e, a certa altura, bem no centro da sala de exposições um quadro gigante com meia dúzia de traços atirados para uma tela branca. A minha ignorante visão deu para questionar o porquê de uma obra, aparentemente tão insignificante, figurar ali como o centro do evento.
O guia, de forma assertiva, explicou algo que não compreendi efetivamente. Ali estava o trabalho de alguém experiente que usava a técnica da garatuja descontrolada. Traços que um desprendimento infantil consegue alcançar, mas que a mão de um artista experiente se vê em trabalhos extenuantes para os conseguir registar. Conseguir tais traços tão libertos de expetativas e desejos é admitir que parou o movimento, que se conseguiu escapar ao seu círculo em vertigem. O resultado parece ser um trabalho simples, no entanto, encerra todo um processo dos mais difíceis de toda uma vida. Agora que se aprendeu é preciso desaprender. É preciso pararmos em nós próprios, estarmos quietos à espera de nada. Limpos para receber tudo como novo. Outra vez como se fossemos crianças. Darmo-nos ao luxo de não controlar os traços apesar de tudo o que aprendemos ou nos prende. Simplesmente, assim. Deixar acontecer. Difícil!
Foi nisto que pensei perante uma das esculturas de Francisco Tropa, em exposição na Fundação de Serralves.
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