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sometimes it takes you a long time to sound like yourself *

Miles Davis disse, a certa altura, que por vezes leva muito tempo até podermos “soar” a nós mesmos. Nada mais acertado e poético. Acertado porque levamos uma vida para nos conhecermos e encontrar. Poético por via da metáfora da afinação, como se fôssemos um instrumento musical.

Depois de ler este pensamento muitos outros me assaltam. Por exemplo, pensar quantas vezes desafinamos porque não conseguimos lidar com uma situação. Quantas vezes tocamos fora de tom porque a pauta se torna complexa e difícil de ler… ou ainda, as vezes que destoamos porque algures na orquestra, em que habitualmente tocamos, alguém toca desafinado…

Acredito cada vez mais nessa ideia de evolução por camadas. Há quem prefira tratar por fases, mas eu gosto mais da ideia das camadas, como se, com passar do tempo, fôssemos descascando a cebola até chegar ao seu bolbo, ao fulcro ou à essência daquilo que somos.

Há dias li uma frase que sugeria imaginarmos ter 99 anos, estarmos no nosso “leito de morte”, em que nos seria dada a oportunidade de regressar ao dia de hoje. 

O que faríamos neste momento, agora, hoje…

Dei comigo a pensar que iria fazer exatamente a mesma coisa que tinha programado fazer antes de ler a tal sugestão. Isto porque por vezes até pode parecer que perdemos tempo com isto ou com aquilo, que isto ou aquilo é que deveria ser o nosso foco, mas para que a gente possa “soar” àquilo que verdadeiramente somos, tudo será processo necessário. Nunca ninguém irá valorizar o conforto do calor se não conhecer o desconforto do frio, porque afinal este mundo detém em si um conjunto de emoções e sentimentos que nos permitem descobrir um pouco melhor a nossa afinação.

* Miles Davis

(texto amavelmente cedido por Miguel Pires Cabral)






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