Debaixo do lençolSempre fui escrava da leitura. Os livros fascinavam, e fascinam, o meu
imaginário, formatando quem sou.
“Apaga a luz!” foi castigo em cas e nos colégios que frequentei.
Remédio santo: pilha a funcionar. Escudada por almofadas e o lençol por cima da
cabeça…até dava um ar mais misterioso às peripécias das personagens.
Assim cresci.
Cresci em idade.
Cresci em aventuras.
Cresci com os meus heróis.
Cresci enquanto pessoa.
Nem sempre foi fácil enganar a censura e fintar as regras. Mas,
teimosa e destemida, sempre ousei enfrentar quem se interpunha entre as
histórias e a minha persona.
Eram as intrigas dos western,
do cavaleiro, hábil com o seu revólver, na defesa dos injustiçados.
O índio apache, que lutava pela sobrevivência da tribo contra o “cara
pálida” e a “água de fogo”.
Zeus a disciplinar os filhos e a ditar os destinos dos humanos.
Ícaro que vou mais alto que alturas permitidas.
O assassino que, por mais inteligente e maligno, acabava por ser desmascarado
e castigado.
Merlim, o mágico, nas florestas encantadas, treinando magos e magas.
…
Magia.
Magia era o que se passava por baixo do lençol…e essa ninguém me podia
tirar.
Debaixo do lençol fui feliz.
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