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Elogio da Loucura


Dizem que a primeira impressão que causamos é importante!
Pois vou-vos contar uma história. A do meu encontro imediato de terceiro grau com a personagem Helena. Este nome, dizem, deriva etimologicamente do grego e significa «resplandecente, tocha». Ah! Ah! Ah!
O primeiro contacto foi abrupto, distante, enigmático: ela olhava para todos com ar de quem dominava o plantel (para mim, nem olhava!), tinha pose de professora «sabe tudo», «consegue tudo», «muda tudo». Rosto superprofissional, olhos de águia, atentos, perscrutadores. Cabelo rebelde, brincos estonteantes, roupa colorida! Pensei: « Vai-se dar mal! Vai-se dar mal aqui! Quero-a distante, para complicadinhos, já bastam os que conheci até agora!». Pelo que já averiguei, ela pensou que eu seria sombria, séria demais!
Estava tudo delineado para que houvesse combate. O ringue estava montado: eu era dali  há alguns anos, até já tinha comprado luvas de boxe, aprendi a ser resistente, conseguia argumentar e contra-argumentar (de forma caótica, é certo!). Ela era perita em argumentação e contra-argumentação! Era só falar em Lei e lá vinha ela de lápis em riste, disposta a enumerar cláusula, artigo, alínea, subalíneas, virgulas e pormenores que nem ao Diabo lembravam… Havia sempre assistência faminta por combates… tudo estava preparado!
Ora, como o centro de uma escola são os alunos e nós tínhamos alunos em comum …e os alunos diziam maravilhas da professora Helena de História…e gostavam de História, finalmente! E relacionavam o que eu lhes dizia com a História! E, quando eu os chamava a atenção para a importância da ortografia, eles diziam: «Já parece a nossa professora de História!» … eu pousei as luvas de boxe e iniciei um trabalho de detetive: andei atenta, perscrutadora …e desse longo olhar cuidadoso e curioso, fui-me apercebendo que os alunos tinham razão! Foi uma das melhores professoras que já conheci até hoje! E não é preciso assistir a aulas de professores como a Helena para chegar a esta conclusão:  sente-se, ouve-se, tudo mexe à sua volta, vê-se quem faz e como faz, repara-se na maneira como se envolvem e na forma como escutam, como planificam, como dividem tarefas, mede-se pelo entusiasmo, pela atitude!
E fui-me aproximando (com as luvas de boxe escondidas…)! Lancei umas piadas para ver a reação, mostrei a minha disponibilidade para trabalhar com, aventurei-me com algumas ideias, comecei a dar palpites e sugestões. E foi a primeira sensação de genuíno trabalho de equipa que experimentei naquela escola. Por arrasto, veio a Pessoa: amiga do seu amigo, persistente, inteligente, cismática, lutadora, justa, sincera, um coração de manteiga.  Uma Helena que vive intensamente e, por vezes, está cansada da hipocrisia da gente que se arrasta inútil! Um ser que pragueja e que gesticula (por vezes, de forma insultuosa e direta demais). Mandei desfazer o ringue, entregamos as luvas de boxe à Pires, comunicamos à malta faminta por combates que estava tudo encerrado para obras e mudamos de pouso: café, rissóis, fumarada…
A Helena tem asas de condor, é um astro que flameja, é um enorme bolo de massa folhada com morangos e chantilly! É alegre e macambúzia! E é por causa de pessoas como ela que vale a pena viver! Helena, dizem, vem do grego e significa «resplandecente, tocha»!!!
Tudo errado! A primeira impressão não é, definitivamente, importante!

Mónica Costa



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