Avançar para o conteúdo principal

Andorinha

Quadrúpede sem analogia com a homónima voadora. Teimosa q.b. e ciente da novata que tinha no dorso.
Andrómeda já tinha tido experiências com equídeos. Ainda adolescente treinara num pónei…teimoso. Não ligava nenhuma à cavaleira minúscula. Uma incomodativa miniatura que lhe pesava. Disparava a seu bel-prazer, assim do nada, testando a perícia do ser insignificante que carregava. Era um ver se te havias!... um saco de batatas estaria mais direitinho que Andrómeda.
Nada de novo, portanto, com a Andorinha excepto…o tamanho. Era uma égua bela, tons acastanhados, crina e cauda preta, uma pequena estrela branca na testa, olhos meigos e matreiros que pareciam testar quem se aproximava. A escolha estava feita.
O instrutor avisava para Andrómeda ser forte e destemida. Havia química, havia, mas essa passava pelo prazer que a égua tinha em desautorizar por completo as tentativas da cavaleira em estágio! Belos momentos passaram juntas e, para além da teimosia, partilharam um momento único de acrobacia.
Dia de passeata em grupo pela mata. Expectativas elevadas de uma cavalgada estimulante… Andorinha, como sempre, fazia questão de ser o cão de fila, obedecendo mais aos sinais dados pelo líder que por Andrómeda que, desesperada, tentava acompanhar o ritmo. Uma subida, inclinar o corpo para a frente, fincar bem os joelhos e relaxar o corpo; mãos firmes e rédeas coordenadas. Porreiro…
Andrómeda só via traseiras, de cavalos, de colegas que, de vez em quando, se viravam interrogativamente recebendo, em troca, um sorriso luminoso.
Subida superada e no topo o mundo parecia maior, mais abrangente, infindável. Um pequeno repasto à sombra dos pinheiros e que mais se podia desejar?! O céu.
Toca a montar, descer para regressar aos estábulos!
Encorajada pelo comportamento de Andorinha, Andrómeda pulou-lhe para o dorso e acomodou-se bem na sela. Deu sinal e Andorinha, aquela malandra, que se soltou meigamente. Estava tudo a correr bem…Stop! Paragem abrupta da égua e Andrómeda voou sobre o seu pescoço. Um perfeito mortal à frente! Aterrou atordoada, ainda com as rédeas na mão, ergueu o olhar directamente para o focinho risonho, sim risonho, de Andorinha. Ninguém se riu…atrapalhados com o que acontecera. Raios partam a égua! Do verbo partir, nada partira, excepto o orgulho de cavaleira. Engole e monta novamente! É esse o espírito.
Chagada aos estábulos, tira sela e afins e escova a égua. Entredentes, Andrómeda vai-lhe rogando umas pragas valentes que, em nada, incomodam Andorinha. No final uma recompensa e a despedida.
Em casa, Andrómeda tem a sensação de ter sido gozada. Gozada por uma égua!

Amanhã teria de lhe mostrar quem é que mandava. Era sempre assim. Algo era, no entanto, incontornável: adorava a sua égua teimosa. Tão parecida a ela. Se de outra maneira fosse talvez a empatia não fosse a mesma.




Comentários