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Na Ribeira


A Boneca, cabisbaixa, molengava ao calor debaixo de uma oliveira. Hoje, o dia seria passado na Ribeira.
Pelo trajecto, uma luta de dinossauros…dois lagartos, grandes, enormes, monstruosos, verdes, digladiavam-se com as escamas em riste. Titânico! A poeira em remoinhava pelo ar e Andrómeda, teve dificuldade em desviar o olhar. Não soube quem vencera, pois, em viagem, não havia paragens.
Ajudou na rega, por entre o milho mais alto que ela, na colha de milhém para dar à mula, na preparação do almoço.
O mesmo não era mais que umas batatas cozidas com pele, às quais coube descascar, migadas com tomate e cebola. Sobremesa: pão fresquinho com delicioso queijo de cabra. Os insectos musicavam em volta, numa sinfonia digna doa eleitos. Que repasto!
Toca a lavar a loiça!
Dirige-se à ribeira, acocora-se e, como lhe ensinara a avó, pega em areia e esfrega bem os recipientes de alumínio. Esfrega, esfrega. Tira gordura e restos de comida. Enxagua, enxagua…na boca da nascente de águas cristalinas. Ficam a brilhar.
Só depois tem direito à soneca que, naquele calor de verão, é um luxo de poucos. Escolhe uma árvore bem ramada, prepara a manta e…pumba!...mal se deita, os olhos nem pestanejam.
Acordou, espreguiçou-se e ficou embasbacada a olhar para algo a seu lado. Que nojice era aquela? A avó explicou que era a pele de uma cobra. Que salto!...tinha medo, nojo. Enquanto dormia aquela coisa repugnante tinha feito a muda de pele. Urgh!...
Como que para se limpar do acontecido, pegou na bóia, uma vulgar câmara-de-ar bem insuflada, e dirigiu-se para a enseada.
Splash! Emergiu com a bóia e saboreou a água límpida, fresca, saborosa. Bateu mãos e pés, olhou o céu, as libelinhas, fez bonecos de nuvens. Que felicidade!
À noite dormiu como se não houvesse amanhã. Os braços de Morpheu acarinharam-na e um sorriso embelezou o jovem rosto.

A felicidade pode ser bem pouco e o bem pouco pode ser um dia na Ribeira.


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