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Eu vi a parte final do recto de uma vaca bem de perto e não teve piada

Atrasada. Detesto chegar atrasada!
Já tinha carregado bem no acelerador, algo que não aprecio demasiado, estava com os nervos em franja e sempre a olhar para o relógio do carro.
Pombas!...logo hoje que ia dar prova escrita ao 9º ano. Há dias malfadados, em que os astros decidiram chatear um microscópico mortal: esta pessoa que vos escreve.
Última curva...Pisca à direita e abrandar.
Stop! Alerta! Uma manada de vacas bamboleava-se, com toda a tranquilidade do mundo, na estrada.
Incrédula, travei e olhei em volta à procura do pastor. Enquanto isso, curiosas, algumas delas interessaram-se pelo carro... Uma dá uma lambidela no vidro que ficou asquerosamente embaciado. Outra coça um dos cornos rombos no espelho direito... Socorro!
Encontro, finalmente, o pastor. Encostado indolentemente a um carrasco, saboreando o sol matinal, encontra o meu olhar. Aliviada, faço um gesto para ele afastar as vaquinhas...Qual quê! Parece não me entender ou não querer abdicar da sua zona de conforto...ou, então, acha que a manada tem prioridade sobre o meu fogoso VW.
Aflita, verifico novamente as horas e a fúria começa a crescer. Como iria justificar o atraso?
Quando tomo a decisão de confrontar o senhor, como que antecipadamente castigada pelos deuses,  uma vaca, que tem o traseiro virado para o capô, assume uma postura intimidante...Não! Não!...não posso acreditar.
Lentamente, género guião Manuel de Oliveira (perdoem-me os entusiastas do cineasta), o rabo da vaca começa a alçar-se...O espanto substitui a fúria. A ameaça da queda de um cometa abraça todo o meu ser. Não acredito! Isto não me pode estar a acontecer.
Horas, turma e afins tornam-se conceitos abstractos e, hipnotizada, observo a parte final do recto, vulgo ânus, do quadrúpede.
O rabo, entretanto, atingiu a altitude máxima e...e...e, santíssima, nunca assistira a uma defecação de tal amplitude! O estrondo dos excrementos a cair no capô pareciam bombos. As bostas aterram como OVNIS de dimensão diversa, assemelhando-se a um quadro tenebroso em que os castanhos e os bordeaux alternavam...
Credo! Cristo! Cruzes!
Serviço terminado, o rabo volta à posição normal e, como se de um comando silencioso se tratasse, a manada movimenta-se, abandonando a estrada. O pastor, sim o pastor, continuava a usufruir da bonomia climática sem mostrar qualquer interesse nos heróicos feitos da sua menina.
Quero abrir a porta para o enxovalhar ...mas, ai as horas, acordo para a realidade: estou mesmo atrasada!
Arranco e acelero...Por favor Senhor, vou rezando, ajudai esta pobre!
A velocidade aumenta. Inferno: os dejectos transformam-se em mini-cometas que bombardeiam o vidro da frente. Incrédula, ligo os limpa para brisas, para ter visibilidade...Conseguem imaginar o que aconteceu?
Não tinha água no depósito!
Agora já conseguem imaginar, não conseguem?!
Ainda hoje estou para entender como consegui chegar ao meu local de trabalho...a horas.
A entrada na cidade foi humilhante e os risos acompanharam-me até ao estacionamento. "Que te aconteceu, rapariga?"...sem tempo para explicar, corri para a sala de aula e cumpri com o meu dever.
Moral da história:
1- cuidado com vacas a "pastar" no asfalto;
2- desconfiem de pastores indolentes;
3- nunca se esqueçam de verificar se têm água nos depósitos dos carro;
4- cultivem a paciência e o sentido de humor.
...mas que há dias malfadados, há!








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