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Andar de bicicleta sem mãos e campos de trigo

Fim de semana quente e cheiroso. O Gang dos Portugueses, montados nas suas bikes, conferenciam, desenhando o trajecto do dia.
Uma garota e quatro garotos...sim, é a única daquela faixa etária. Os outros ainda são muito bebés para acompanhar o ritmo enérgico dos Cinco. Os mobiles estão ornamentados com fitas e emplastros manufacturados...É um conjunto colorido e risonho, pois é.
Está decidido: caminho de terra batida, acrobacias e campos de trigo!
Bora lá! Com gritos de guerra e incentivo, o Gang arranca...Sensacional!...ar...aromas...calor. Não é preciso mais para ser feliz!
Chegados ao troço do primeiro desafio, olha-se fixamente o caminho, como se de um touro bravio se tratasse: vamos vencer!
Bora lá! Bora lá!...movimento em massa...acelera, pedala, acelera, pedala,...com intensidade crescente. A velocidade torna-se estonteante e é dado sinal para o "sem mãos"...O vento desgrenha os cabelos, as faces enrubescidas pelo esforço, as mãos peganhentas de suor,... Bora lá!
A garota, destemida quiçá imprudente (qual a novidade!), larga o volante e...Pimba!...o impacto foi tão forte que fica sem ar e inanimada. O Gang pára e rodeia-a, preocupado... "Ó pá, só ela para tentar fazer isto no troço todo esburacado!!"...Facto: à frente via-se um campo minado de crateras. Aventurar o "sem mãos" ali era somente para tontos ou "Pros". Literalmente esmagada no chão, com uma das pernas por baixo da bike, a moça tentava respirar. Devagar, devagarinho, recobra e ergue-se...Ai,ai,ai,...joelhos e mãos esfoladas, mobile com guiador em estado impróprio. Vai haver consequências. Vai, vai.
Destemida, quiçá imprudente, monta a sua bike estropiada. Não quer saber...é preciso chegar ao destino e ultrapassar o desafio!
Decidida, avança aos solavancos até à próxima prova: os campos de trigo. Espectaculares, os caules dourados murmuram suavemente "Serei farinha e pão...serei farinha e pão"... Eiiiiiiiiiiiiiii...ouve-se a cinco vozes. Velocidade máxima, rampa abaixo, colisão espalhafatosa, risos jubilosos.
Sapientes de que haveria consequências, como sempre, o Gang dos Portugueses respirava ufanamente enquanto jaziam na manta de trigo, olhando o céu azul...Olha até sorridente!...que bravos que eram. Imbatíveis!
Lentamente a respiração volta ao normal e a malta recupera da adrenalina vivenciada. Olham-se e, espontaneamente, o riso juvenil enche o ar. Tinha sido espectacular!
Agora chegou a hora de avaliar os danos e especular quais os castigos possíveis a aplicar...O lavrador iria, mais uma vez, fazer queixa...Que se dane!...os adultos são chatos e são.
Para além da culpa colectiva, a garota iria, absolutamente, ter em redobrado: trigo, sol e bicicleta num trapo. Já podem imaginar...
Que importavam os castigos se, durante umas horas, se foi herói ou heroína?


NOTA: Qualquer semelhança com a saga Velocidade Furiosa é pura coincidência. À data, nem se imaginava ainda tal história.


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