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A mostrar mensagens com a etiqueta Mónica Costa

mãos ao alto!

Vou-te dizer que estou quieta e rendida nesta noite que é lugar de paixão lugar - escrita de espontânea combustão Tu, lua, que me vês daí alto tiroteio e apontas a tua arma de luz e ameaças Vou-te dizer - eu estou de mãos ao alto e frágil neste alpendre que é lençol de silêncio e restinho de suavidade doce amparo Não sei se me vale de muito, mas é o único momento de contabilidade segura e faço balanços não de braços cruzados ou mãos nos bolsos eu estou de mangas arregaçadas e de frente para esta rua fui eu que a escolhi e onde tu te vieste encostar Vou-te dizer, lua feiticeira, estou quieta e nua - de nada vale a tua prepotência eu me rendo coração batendo… Mónica Costa

Era um olhar tão cheio… que sorria!

Vou-vos falar do pasmo perante um olhar que me fustigou! E era tal o pasmo! (não o dela, o meu) Era ali debaixo da oliveira que aquela mulher espantava olhar louco que, a esta distância, incendiou (e nós ansiosos por ver a loucura alheia…) Ela, assobiando com o vento, perguntava: - Que casa é esta que me escapa? - Que roupa aquela na corda não estendida? (ela tinha o presente por coisa esquecida!) Aventurei-me mais perto, mas era um olhar abençoado E de olhos a leste e vagabundos imaginava que andava para trás - a tarefa agora era desconstruir! - … e trauteava, trauteava, por entre lábios maculados uma música que a enaltecia suave (e o calor da tarde que me pesava…) Afinal não era a loucura alheia!... Era a minha vida ainda tão vazia que não a entendia debaixo daquela oliveira Eram umas mãos tão cheias de terra! E de flores um coração tão cheio! Era um olhar tão cheio… que sorria! Mónica Costa (foto de Réhahn)

hbjjgfttruuuommdndhtiiiiiiiiii

Nove horas da noite e uma nesgazinha de lua embaciada na janela. A média luz, lá vou eu formulando palavras cobertas do dia que passou rapidamente. E porque continuo sem saber como se constrói um livro, vou-me entretendo com textos dispersos. Começo por colocar a mão a jeito neste lápis tosco, que já vai a meio, e pousá-lo nesta folha já gasta de tantas riscadelas. Ao princípio, julgo sempre as letras separadas e, à medida que as vou juntando em palavras, fico com a sensação de não ter escolhido as melhores. Umas aparecem possantes e triunfais, outras são arrastadas para dentro de um texto sob protesto. É o princípio do prazer do inesperado.  É que isto de juntar consoantes e vogais é como pôr um carro em andamento. Se se pensa demais, confundem-se os pedais. Portanto, para que este carro ande, é necessário, em primeiro lugar, deixar fluir. (De repente, e nem sei porquê, lembrei-me do meu instrutor de condução que me mandava parar o carro bruscamente só para ver como é que eu reagia

movimento relativo

Agora que o verão, dizem, está quase a chegar é que penso na primavera que qualquer dia termina Espantada ando, é como digo, porque nada me faz acreditar que houve outono e inverno pelo meio em surdina e não dei conta da chuva nem do torvelinho de folhas a esvoaçar entendi que andei sempre em verão, em areia fina parece que fiquei parada em lume brando naquele mar! Se a isto chamam movimento relativo Deixem-me em eterna energia positiva que permite não perceber o outono nem o inverno e levitar em felicidade eficaz e inofensiva… Mónica Costa

em jeito vertical

Abriu-se uma porta gigantesca para um pátio axadrezado. Ditava-se, doravante, uma série de contrastes em sinais claros e escuros que indicavam caminho.  Pus o pé bem assente no chão, sentindo todos os tremendos ossos que o compõem e preparei-me para a subida. Lá vou em jeito vertical. Até quando? E iam surgindo degraus, um a um em espiral. Eu bem sei que cada um imagina as suas próprias rosas e sei que não há rosas sem espinhos. E era a pensar nisto que iniciava a subida íngreme em escadas finas. E dava à perna nestes degraus infernais! De quando em vez, ía parando para observar, distraída, através de janelinhas minúsculas, a sumptuosidade do Sol e das ondas do Mar Azul que acenavam a sorrir-me sarcásticos lá em baixo. Às vezes afundo, mas, neste dia particular, subia. E subia arfando! Peito insuflado! E a mansidão que me elevava em cada degrau feminino contrastava com o dia violentamente masculino que dita a vida curta e a morte certa. E, por cada degrau, qual malmequer, contava qu

Uma leveza tão grande de tamanho!

Quando era pequena muito pequena pequena de tamanho brincava às escapadelas encostava-me a uma parede quente de tardes quentes e ía escorregando por ela abaixo até assentar o traseiro no chão ali ficava de pernas abertas e estendidas atirava os chinelos para longe fechava os olhos colocava as mãos a selá-los e ficava desse jeito tapada do mundo! Ninguém me via porque eu não via ninguém! E aquela lógica era interessantíssima! Era deste modo que eu escapava quando queria tudo escuro, mas limpo catarse momentânea apagão natural assim descalça e sincera comigo mesma ficava quieta no silêncio de mim e esquecia o tremer de tudo Uma leveza tão grande de tamanho! Pudesse eu agora esvaziar-me tão facilmente de tudo… Mónica Costa (foto de Robert Doisneau)

Do "ranking" dentro das escolas...

Considerando hilariante a indignação de Nuno Melo sobre o ranking de eurodeputados ( "é uma fraude, uma treta"), redijo esta pequen a exposiçã o. Todos nós, Professores, temos consciência que dentro das escolas, de forma  "natural", a distribuição de serviço está intimamente ligada ao status quo vigente com as suas vicissitudes seculares e hereditárias fossilizadas. Não há "...cidas" que os consiga exterminar! Situação que se agravou com as medidas "pedagógico-funcionais" implementadas pelo Sr. Inominável, assistido pela sua meretriz Srª Inominável, lá para os idos de 2004/2005. Não pretendo, de forma alguma, ser ofensiva ou subversiva. Os "lambúzi@s sorridentes"... ...sorridentes, qual anúncio Colgate, que circulam pelo espaço como Afrodites de linhagem pura. Aparentam competência q.b., mas que nunca sabem de nada a não ser da vida dos outros a qual fazem questão de partilhar com as Entidades Competentes. Os "lambúzi@s sor

manobras deliciosas

Ela anda armada em escritora e anota todos os dias qualquer coisa engraçadita em folha colorida para sair impune das desgraças da vida de manhã, mal se levanta, ensaia uns passos de dança toda a tarde fica extenuada de aliterações e outras alegrias embrenha-se na noite, refúgio dos momentos e seus balanços anda armada em atleta e corre desalmadamente todos os dias atira a matar sempre que pousa o seu rosto em doce descanso tomando o gosto das palavras mais belas que, por magia, aparecem combinadas em suave e doce remanso Ela anda distraída! … e parece que se rendeu às manobras deliciosas da poesia… Mónica Costa

Atirei-o à terra como quem atira uma semente que quer ver crescer!

Há pensamentos que nos assolam. Pobres surpresas que nos surgem e que vêm derrubar as mais fundamentais e lógicas teorias.  Que raio de ternura pode existir num pássaro?! Um pobre pássaro que conseguiu viver enjaulado durante treze, catorze anos (?). Viveu tanto tempo! E não estamos a falar daquele tipo de animal que nem um cão que espera ansiosamente a chegada do dono a dar sinais de fidelidade e obediência.  Não! Estamos perante um fenómeno simples: aquele tipo de ser que se desfaz em trinados ao sol a seu bel-prazer e lá está na vida dele, à espera que lhe satisfaçam os prazeres imediatos: alpista, água limpa e uma alface fresquinha de vez em quando. Assim… só isto! Um raio de pássaro é o que é! … que só por ter estado presente durante treze ou catorze anos seguidos é digno de um texto num qualquer blogue. Ainda por cima, escolheu um dia tão emblemático para morrer - o dia do trabalhador! Ele que nunca fez nada na vida a não ser encantar-me!  Atirei-o à terra como quem atira um

Não quero ir para a escola...

Talvez se insira na rábula, bem conhecida, de "...mas tens de ir. És o Professor.", mas, prestes a sair de casa, é o que sinto. Já lá vão os anos em que, acordada antes do despertador, ruminava sobre abordagens fixes das matérias do dia. Hoje, fico com o acordar antes do despertador a pensar "Pombas!...quantos dias é que faltam para o final?". Não significa que me considere pior profissional. Aliás, creio que, cada vez mais, alcanço o patamar de "Excelente Profissional"...sem direito a créditos, como é óbvio! Isso é para os Outros, os que brilham nas fotos de grupo, de sorrisos vitoriosos (não sei bem do quê) e glamorosos, à Colgate, nova pasta anti-corrosão. Excelência por ainda andar por cá! Bem, poderia mudar de vida, poderia, ...mas isso seria admitir a vitória do "sistema" e a derrota do caminho percorrido. Assim, encorajada por cliches bonitos e de inspiração q.b., lá vou desempenhando as tarefas, sim virei tarefeira, consignadas no hor

Ah?!!

Se em vez de nos fustigarmos com antíteses que tudo confundem Ou nos iludirmos com suavíssimos eufemismos Se em vez de nos embebedarmos com sinestesias que tudo misturam Ou nos enaltecermos com exageradas apóstrofes Que tal ficarmos pelas vaporosas interrogações retóricas? Mónica Costa (desenho a esferográfica de David Perez)

A caixa de Pandora

Eu conheço um pintor fantástico, cujo nome não revelo aqui por não lhe ter pedido autorização, que costuma, a par das imagens do resultado das suas obras, publicitar imagens de todo o contexto onde produz a sua arte. São fotos onde se enxerga as fases do processo de trabalho, os materiais utilizados nas diversas fases, o raio de sol que entra pela janela adentro e o gato que se espreguiça no sofá e que assiste feliz às movimentações do dono. E daquele ambiente surge um trabalho verdadeiro tão difícil e tão belo como um parto natural. E eu sei bem do que estou a falar porque já passei por dois fantásticos partos naturais. É tal e qual como dizia uma cronista que muito aprecio e cujo nome não revelo para que a curiosidade possa provocar uma pesquisa. Ela dizia que, para se criar algo de forma verdadeira, é preciso escolher um sítio vulnerável. E é de vulnerabilidades de que vos vou falar de seguida. Quase que foi declarado estado de sítio há uns dias. Um pequeno caos! E estava eu numa

conversinha da treta!

Para os sujeitos mais calados e introvertidos, esta coisinha irritante das conversinhas só veio atrapalhar. São os sujeitos de olhos fixos e vagos! Há mesmo os que se recusam a comentar qualquer tipo do que consideram apenas ser ruídinho insuportável, acrescentando-lhe apenas uma nesga de olho, um revirar de olhos com ar incomodativo, abanando ao mesmo tempo a cabeça em jeito de reprovação. E isto, já vos digo, é extremamente complicadinho de se fazer! Exige uma sincronia de movimentos muito rápidos para resultar em eficácia! E é tanto o desprezo pela conversinha irritante dos outros que  continuam formulando palavras interiores, só as deles, fechadas a sete chaves! Para estes seres especiais, as conversas são o início de um pequeno caos. Revelam interioridades, aparecem desordenadas e puras, tão verdadeiras que até assusta. Deve ser por isso que há pessoas que se revelam pouco e não querem que as descubram como tal. Pensam-se diferentes dos tais incomodativos: os palradores, uns exag

Avança!

Que ingratos somos!!! Sempre em sinal vermelho. Entardece e nós com aquele sentimento de mãos vazias e com pés de quem se aventura em caminho de lama que nos impede a pressa. Hoje deu em chover! E nós enclausurados em carros de fogo que nem a chuva apaga. Um sinal intermitente para que hesitemos. Avançamos ou desistimos? Filas de espera ansiosa e sempre em protesto. E o sinal que quase fez questão de se entornar de verde no preciso momento em que a lama impede o arranque. Parece que temos a espinha ensanguentada e os cotovelos entediados cravados nas janelas dos carros. Andamos fartos dos vidros onde se esborracham os mosquitos. Andamos em monossílabos de rima em ento, lento movimento de desalento. Sempre o mesmo cenário. A nuca do individuo do carro da frente, o rosto de trás macilento e os olhos cansados que alguém enxerga no espelho retrovisor. Colocamos em todos os sinais de trânsito verbos de estado e não de ação. Saímos dos centros caóticos e dirigimo-nos tristemente para o luga

está o caldo entornado...

Houve um tempo em que acreditava que entre as palavras e a realidade ía uma distância considerável. Aprendera que as palavras são usadas para nos comunicarmos na realidade. Mas como era difícil a comunicação! Nem sempre se achavam as palavras exatas para traduzir a realidade. Nem sempre se usufruía de um leque vocabular alargado que nos permitisse traduzir tudo o que realmente se queria traduzir. E depois havia essa tendência para a ingenuidade - não se media as palavras! E havia também essa sombra de ser mulher que é a competência máxima no que toca a sentidos figurados. E se à ideia de significado, se lhe acrescentasse a de significante, estava o caldo entornado! Fazia constantes revisões sintáticas e consultava constantemente o dicionário à procura do sentido verdadeiro. Então, o tempo foi correndo (que é expressão metafórica que não vem no dicionário!) e eu, correndo atrás dele, tantas vezes sem tempo, fui aldrabando o sistema da comunicação. Encurtei as frases (apesar de

Um tempo pelo 102º

Ontem o tempo fez eco no meu cérebro. Condensado. Atrofiado. Indeciso e, sobretudo, nublado e pesado. O dia começara cedo, como sempre. As horas foram passando, entre "Stôra, o que vamos dar hoje?", "O X está a faltar. Magoou-se em EF!", "Diga lá, vai sentir saudades nossas, não é?", ...tudo preceitos e novidades que a miudagem considera pertinente, e de importância tipo vida ou morte. O tempo arrasta-se e chega a hora daquela turma, difícil e de humores voláteis, em que a tua resistência é testada. Não sei se há limite ou se tenho limites...Limito-me a entrar em piloto automático, esperançada que a experiência condicione a reacção correcta, no momento certo. Há muito que confio neste meu GPS. Poderão pensar que parei no tempo. Pois bem, não creio que assim seja. Fui refinando posturas e abordagens...afinal a miudagem continua a Vox Populi de gerações de progenitores que me passaram pelas mãos. Vivem dramas que, apesar de mudam-se os tempos , não muda

desapareci

como era urgente, cheguei cedo, mas tão cedo muito antes da hora marcada ainda a rua estava deserta e as janelas estavam fechadas o dia prometia, mas nem calor nem nada de nada e, como dizia, esta urgência instalada! daquele tipo de urgência sem cheiro a hospital ou doença uma espécie de urgência que torna o dia mais secreto e íntimo e que nos faz lembrar que com muito pouco se constrói a confiança e havia uma janela fechada onde tu ainda dormias e eu, ali, especado de forma urgente, e em ti a esperança de repente, e por magia, aparecias! e de lá para cá, a minha vida tem sido estes instantes em que apareces e desapareces, caminhando ao meu lado cadência de onda tombando em areal branco branco a estender-se pelo azul do horizonte o nosso olhar nos pontinhos luminosos fixado e aquela água tão azul e o silêncio aquele céu tão sereno a alegrar-nos cada manhã um sol quente em nossos braços de um e de outro os lábios que não medem a distância Mónica Costa (pintura de P

Semeador de estrelas

Quando era miúda, via muitos filmes e as pessoas grandes, à minha volta, faziam questão de afirmar que eu via e fazia muitos filmes. E tentavam provar constantemente que a vida nada tem de filme, pelo menos com aqueles cujo final é feliz. Demolidora e eficaz estratégia?! De facto, tiveram alguma razão. A vida não é um filme. Mas o mais controverso é que os filmes são o fruto da vida. É nela que eles se inspiram.  E há um pedaço de caminho onde os candeeiros da rua iluminam os passos da gente que passa que me faz lembrar quase sempre um filme que vi há uns anos. E, numa espécie de vento, a única árvore que ali persiste, verga-se quase sempre com a ventania, mas nunca quebrou. É uma imagem fantástica que me faz acreditar na nossa capacidade de final feliz, mesmo quando insistem na anunciada infelicidade óbvia.  Mónica Costa (escultura semeador de estrelas na Lituânia)

Medo

Queres falar do medo?!  Andamos por séculos e séculos errando e por medo encaixamo-nos em certezas idiotas Foram-nos convencendo que talvez se nos deixássemos ficar quietinhos no nosso canto talvez pudéssemos ter acesso a vidas de paz talvez Todos nos olhamos desgraçados na nossa bondade E somos todos tão boas pessoas que até dói! Vamos vivendo a medo e rimando rimas maioritariamente emparelhadas, às vezes em esquemas cruzados mas sempre em rima. Não há lugar para versos soltos. E, segurando o medo, armadilhamo-nos a tremer Pela certeza do pó Capa dura canto negro catana exímia voz trémula E seguimos viagem em círculos viciosos Lutamos contra as paredes da casa as curvas da estrada o rio que desce as escadas íngremes o muro que se impõe a raiva que guardamos nos sacos em iminente e medrosa reação Mas um dia um golpe de asa um sopro um movimento brusco nos abala… Mónica Costa (gravura de Edward Hopper)

?!...

Ficou a cozinha arrumada e fui passear a tarde E em vez do cão na trela, atrelei meus pensamentos Mal bateu a porta de casa e encarando o sol de frente Dei comigo a lembrar-me de quem com uma flor me acende as narinas e com uma nuvem me enche por dentro e, então, olhava para cima e eras azul olhava o chão que pisava e eras verde mirava as águas do rio e eras de prata olhava as folhas das árvores e eras carmim. Ó deuses da natureza, que me vedes O problema está nos meus olhos ou naquela que me sabe a cor? Mónica Costa