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conversinha da treta!

Para os sujeitos mais calados e introvertidos, esta coisinha irritante das conversinhas só veio atrapalhar. São os sujeitos de olhos fixos e vagos! Há mesmo os que se recusam a comentar qualquer tipo do que consideram apenas ser ruídinho insuportável, acrescentando-lhe apenas uma nesga de olho, um revirar de olhos com ar incomodativo, abanando ao mesmo tempo a cabeça em jeito de reprovação. E isto, já vos digo, é extremamente complicadinho de se fazer! Exige uma sincronia de movimentos muito rápidos para resultar em eficácia! E é tanto o desprezo pela conversinha irritante dos outros que  continuam formulando palavras interiores, só as deles, fechadas a sete chaves! Para estes seres especiais, as conversas são o início de um pequeno caos. Revelam interioridades, aparecem desordenadas e puras, tão verdadeiras que até assusta. Deve ser por isso que há pessoas que se revelam pouco e não querem que as descubram como tal. Pensam-se diferentes dos tais incomodativos: os palradores, uns exagerados, os que desestabilizam, os que fazem barulho, que se lembram desta coisa fantasticamente inconveniente que é partilhar e dar-se a conhecer. Então, em vez de se sentarem num banco, simplesmente admitindo que somos por natureza seres imperfeitos à procura uns dos outros, vagueiam à procura de um banquinho isolado onde se possam silenciar à vontade. Mal eles sabem que só se silenciam quando partilham o seu silêncio. Por dentro, permanecem inseguros, as ideias não param sossegadas, juntam-se em tais congressos de atropelos e vão-se enredando sem qualquer outra perspetiva que não seja a do próprio que as aprisiona e limita. 
Pois fiquem sabendo, ó seres especiais de olhos fixos e vagos, que as pessoas só são pessoas nas mesas dos cafés onde se conversa, nas paragens de autocarros onde se fala do tempo, nas lojas onde se compra a fruta e o pão e se registam as novidades do dia, são as portas de espera apalavrada, os corredores de hospital em ansiedades partilhadas, são os bancos de cinema com sussurros à mistura. Só somos casa com pessoas onde se partilham as angústias do dia e se aninham em conversas suaves até adormecerem. São os nervos, são as fúrias, os êxtases, os atropelos, os tiques, os espantos, os sorrisos de uns para outros, tudo regado de uma palavrita de consolo. Só assim nos saciamos. Toda uma conversa olho a olho, admirando a curva do lábio, do deslizar dos dedos que se vão enrolando nos cabelos a acompanhar o diálogo. Conversa de sentir cheiro, de botar respiração, de preencher os espaços vazios. Viva a conversa!

Mónica Costa
(foto de Francisco Frade)




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