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Medo

Queres falar do medo?! 
Andamos por séculos e séculos errando e por medo
encaixamo-nos em certezas idiotas
Foram-nos convencendo que talvez
se nos deixássemos ficar quietinhos no nosso canto talvez
pudéssemos ter acesso a vidas de paz talvez
Todos nos olhamos desgraçados na nossa bondade
E somos todos tão boas pessoas que até dói!
Vamos vivendo a medo e rimando
rimas maioritariamente emparelhadas, às vezes em esquemas cruzados
mas sempre em rima. Não há lugar para versos soltos.
E, segurando o medo, armadilhamo-nos a tremer
Pela certeza do pó
Capa dura
canto negro
catana exímia
voz trémula
E seguimos viagem em círculos viciosos
Lutamos contra
as paredes da casa
as curvas da estrada
o rio que desce
as escadas íngremes
o muro que se impõe
a raiva que guardamos nos sacos
em iminente e medrosa reação

Mas um dia
um golpe de asa
um sopro
um movimento brusco
nos abala…

Mónica Costa
(gravura de Edward Hopper)



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