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O limão que era ladrão

Dormitava atenta. O vendaval açoitava a casa e provocava ruídos suspeitos.
O cansaço era muito, mas os medos impunham-se numa tempestade de emoções que não permitiam sono REM. Era superficial, esgotante.
Para acalmar os sentidos, passou o dia em revista. Tinha sido rotineiro…ah! Excepção à rapaziada que combinara uma tainada à qual ainda teria de arranjar desculpas para ir.
As aulas tinham passado numa monotonia agoniante. Professores monocórdicos, sem energia ou palavras apelativas. Os minutos gatinhavam no relógio e o toque de saída parecia uma miragem longínqua. Arre, que tormento!
Trimmmmm…chegara ao fim. A tarde era de esplanada, conversa e risota até à chegada do autocarro…Pum! Pum! Pum! Que susto. Os pensamentos estacaram com uma travagem brusca. Pum! Pum! Pum! Seria o Cornuto? O Inominável?... Interrogações que acompanhavam a batida acelerada do coração. Pum! Pum! Pum!
Suores frios escorriam pela cara. O corpo, tenso, tremia. Coragem. Era preciso coragem para enfrentar o Demo! Invocar todos os talismãs e protectores sobrenaturais. A luta seria renhida.
Levanta-se,  tremendo e receosa… Pum! Pum! Pum!
Abre a janela, espreita… Pum! Pum! Pum! Não vê nada suspeito. O coração bate, bate, sente-o na boca. Que loucura!
Olha atenta. Pum! Pum! Pum!...o primeiro impulso é retroceder, mas obriga-se a enfrentar o perigo.
Não muito longe, o limoeiro, ao sabor da tempestade, chicoteava a casa. O limoeiro! Não era demo nem demónio. Eram limões que embatiam nas janelas!
Certificou-se
Aquietou-se.
Recolheu-se, rindo aliviada dos seus temores. Mas fora corajosa, não fora?!
Aconchegada na cama, aproveitou o ritmo das batidas para se embalar. Pum! Pum! Pum!

Sonhou em torno de um limão que, afinal não era ladrão.

http://www.gallerywarhol.com/andy-warhol-space-fruit-lemons-1978-FS-II.196.htm

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