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Como aumentar os seus rendimentos aos 11 anos de idade...

Parece um título de exploração de trabalho infantil. Nada disso. Era uma vez uma garota que, como não tinha mesada e já tinha estragado o orifício do porquinho de poupanças para sacar alguma moeda, queria ganhar uns pfennigs . Andava no 5º (ou seria no 6º)  ano, gostava de desenhar e de gomas. Um dia, no recreio, um grupo de colegas perguntou "Ena. Onde é que arranjaste estes desenhos?" "Fui eu que os desenhei." ...e começou, assim, o meu pequeno negócio. Desenhos coloridos e exclusivos eram mais caros. Desenhos monocromáticos e repetidos eram mais baratos. Não se riam. Mesmo que não tivesse grande "jeito" para a arte, certamente que o tinha para o negócio. Palavra passa palavra e, em vez de horas de estudo, investi em horas de desenho. Compensou? Bem, digamos que em termos de resultados escolares mantive um balanço mediano, compensado pelo incrível income de dinheiro. Era "chapa ganha, chapa gasta"...afinal havia uma infinidade de doça

Kindergarten - Dia de Caminhada

Wandertag ...Que alegria! A noite foi longa. O sono irrequieto. A impaciência para que, finalmente, amanhecesse. Nas vésperas, o Rucksack foi recheado com o essencial: sandes de queijo, uma banana, água e pequenos pacotes de leite. Ah, não esquecer a pequena navalha e uma cesta para os cogumelos! O tempo estava um pouco enevoado...nada que preocupasse a garotada. À porta do infantário já uma multidão de pequenos entusiastas, agitados e sorridentes, aguardavam que o grupo se completasse. A Schwester  Bergunda e Claudia, organizavam as parelhas de caminhada...Recordavam-se as recomendações: seguir ordeiramente nas filas designadas; mochilas bem apertadas às costas; verificação do calçado (tinha de ter trilho resistente!); não fazer barulhos na floresta; não brincar com as navalhas; guardar o lixo num saquinho; ... A lista, tantas vezes recitada, era objectiva e para cumprir. Emparelhados, a criançada iniciou o percurso...Cumprimentava-se os transeuntes " Guten Morgen !" e

A minha prof de História

Lembro-me de poucos. Aliás, como anti-prof assumida, nem queria saber de profs! Até ao 9º ano do ensino unificado, vegetei pelas escolas e conteúdos portugueses como um zombie em piloto automático. A campainha e os gatafunhos cinzelados nas carteiras de madeira individuais eram o meu único interesse dentro da sala de aula, no fundo da sala, obviamente. Tenho, no entanto, de destacar um...Aquele pelo qual nutria um ódio de estimação profundo: o prof de Biologia! Velho, arrogante, ignorante, pedante e mais alguns "antes" que já não me alembra muito bem. Criatura desprezível que me levou ao empenho máximo de obter nível 1 no final dos períodos. Nunca o consegui!...a malvadez do prof limitou-se sempre, e por mais que me esforçasse em escrever porcarias nos testes e em responder "Não sei!" nos interrogatórios iniciais de aula, na atribuição do 2. Que insulto aos meus esforços! Foi ele que orientou a escolha de área para o secundário...O tal ódio foi factor de selecç

Leituras Não Tão Infantis Quanto Se Imagina

Em casa não se compravam livros. O moto era " Estudar para ser alguém na vida ". O que fazer então? O calhamaço sagrado...A Bíblia. Grosso, folhas delicadas e finas com letrinhas pequenas: daria para me entreter durante algum tempo. Que maravilhosa aventura...O Antigo Testamento estava recheado de fábulas deliciosas que devorava sempre que me era permitido. As personagens tinham todos os ingredientes para me transportarem para o mundo da fantasia, onde o bem combate o mal , onde eu escolhia lados, valores e desenlaces. Adão e Eva, Abraão, Abel, Caim, David, Golias, Sansão, Moisés, Noé,... Fui todas elas! Os enredos dramáticos mantinham-me acordada, não só pela noite dentro, mas ao longo dos dias. Era a abstracção perfeita para um mundo que não entendia (será que hoje entendo???) e no qual não me encaixava. Obviamente que era Guerreira dos Justos, outra opção não havia. No Novo Testamento, as paixões e o sofrimento, completaram a viagem fantástica dos Homens. Barrabás, E

"O Cadeira de Rodas"

Levantar custou. Aliás, o acordar já tinha sido angustiante...Só de pensar em mais um dia na Porzellanfabrik , deixou a Teenager em pânico. Odiava!...odiava a secção dos fornos, uma das mais rudes e esgotantes da cadeia de produção. Esse ano, sim, porque o mês de Agosto era para trabalhar e ganhar um dinheirito, e após ter já percorrido outras secções, era o inferno. O calor intenso à saída dos fornos, os carros recheados de vários tipos de porcelanas que era necessário separar e empilhar nas respectivas paletes, as cadeias rolantes que as transportavam até...até à Jovem. O barulho era ensurdecedor e monótono. Não havia sorrisos...era preciso trabalhar em akord, vulgo conhecido por "quanto mais trabalhas, mais ganhas". O ritmo podia tornar-se alucinante e,se não houvesse empatia entre os trabalhadores, esse ritmo transformava-se no Reino de Hades. Desanimada, mas igualmente revoltada, chegou ao seu posto de trabalho. Ele já a esperava, com um sorriso de escárnio desenha

Kindergarten - O Cemitério de Pássaros

Pequenos narizes colados ao vidro das portadas e olhos bem abertos. Lá fora, o recreio estava belo. Embelezado pela neve colorida e texturizada dos bonecos de tamanhos e feitios vários, das bolas não propriamente geométricas (quem queria saber dessas coisas!!), enroladas mediante as forças de cada qual  e pelas estalactites de gelo penduradas em tudo quanto era recanto e encanto. Nas árvores entreviam-se as pequenas casotas de passarinhos: um telhado em V invertido, um buraquinho redondo, tudo aconchegado com algodão e palhas ... o alimento, em plataforma ou em cacho, parecia favos de mel. Mas não, não era mel...eram sementes que tinham sido trazidos de casa para ajudar estes voadores, chilreadores, cantadores,..., a sobreviver ao inverno. Pequenos flocos começaram a cair...e a espera continuava. A condensação da respiração das pequenas bocas começava a embaciar os vidros. Não há problema!...desenham-se umas bonecadas com os dedos até vir o raspanete das Educadoras. Era tão bom, tã

Exorcismo de uma Rebelde

Não sei se este será o título mais adequado... Vamos à história. Era uma vez, mais, mês de Agosto. Mês de férias, de festas populares, de aldeias reavivadas pelo regresso dos seus emigrantes,..., e regresso dos pais e irmã da Jovem. Ansiosamente, mas igualmente temerosa, esperava ao cimo da barreira, escondida pelos pinheiros e olhar perdido na estrada na qual surgiria o carro com a bagagem a encimar o tejadilho. Tiiiiiiiiiii! Tiiiiiiiiiiiiiiiii! Tiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!...eram as buzinadelas que assinalavam a vinda gloriosa dos pais trabalhadores e da irmã, que mal conhecia. Sobressalto...Chegaram! Estaria lavada, bem composta, perfeita para eles? A Jovem refuta a sua insegurança e aproxima-se do grupo, que entretanto se formara e abraçava. "Olá!...tens-te portado bem?" e braços que a envolvem, por pouco tempo parece à Jovem, apertam-lhe ligeiramente o corpo. Ah, que saudade. Saudade de um abraço profundo, caloroso, aconchegante, protector. Invejosamente aprecia a irmã.

Otária, Tótó, Trouxa

Dizem que com a experiência se aprende. Pois...dizem. Cá para mim, sou seguidora teimosa do "otaritarismo", "tótóísmo", "trouxismo". Passo a, tentar, contextualizar. "Tem calma!" "Não vale a pena chateares-te!" "Ninguém muda nada!" "Deixa lá!" "Pára de refilar, reclamar!" "Sei que tens razão, mas..." "De que adianta andares com essas coisas?" ...ou seja, cala, come e vegeta...ou então, não ouças, não vejas, não comentes. É aqui que sou seguidora da "trilogia do bobo", porque, certamente com as melhores das intenções, te advertem de que não és ninguém e que, por mais que reivindiques aquilo que consideras justo (já pareço os meus Gandalfos "Mas isso não é justo!!") são causas perdidas, impossíveis de superar. O.K., podemos equacionar o que consideramos justo. A nossa humanidade assenta em parâmetros que, fisosofica e supostamente, nos distinguem no reino an

Colchão de Palha

Baseada numa experiência real...Nada a ver com a História da Ervilha! Dia de mudar a palha ao colchão. Azáfama ruidosa, janelas escancaradas, potes de água a ferver para lavar as pedradrias com soda,..., e colchões esventrados, prontos para serem lavados e perfumados com alfazema. As camas de ferro estão nuas e os crucifixos que as encimam, balançam ao sabor da brisa quente de verão. Hmmmm, cheirinhos bons! Inspira profundamente os aromas de sabão e alfazema. De joelhos, apoiados num resguardo de madeira que se vai arrastando, esfregam-se vigorosamente os chãos e as escadarias de granito. Sacode-se o pó dos naprons rendilhados. A Menina observa e, de vez em quando, traz o que lhe é solicitado, pedindo que também a deixem partilhar da actividade comum. "Tem calma, depois ajudas a encher os colchões.". Eia, alegria! Após o almoço tudo brilha, como se a casa tivesse renascido. Os tecidos secaram ao sol, estendidos sobre as giestas e arbustos rasteiros. Palha nova, fofinha