Baseada numa experiência real...Nada a ver com a História da Ervilha!
Dia de mudar a palha ao colchão.
Azáfama ruidosa, janelas escancaradas, potes de água a ferver para lavar as pedradrias com soda,..., e colchões esventrados, prontos para serem lavados e perfumados com alfazema.
As camas de ferro estão nuas e os crucifixos que as encimam, balançam ao sabor da brisa quente de verão.
Hmmmm, cheirinhos bons! Inspira profundamente os aromas de sabão e alfazema.
De joelhos, apoiados num resguardo de madeira que se vai arrastando, esfregam-se vigorosamente os chãos e as escadarias de granito. Sacode-se o pó dos naprons rendilhados.
A Menina observa e, de vez em quando, traz o que lhe é solicitado, pedindo que também a deixem partilhar da actividade comum. "Tem calma, depois ajudas a encher os colchões.". Eia, alegria!
Após o almoço tudo brilha, como se a casa tivesse renascido. Os tecidos secaram ao sol, estendidos sobre as giestas e arbustos rasteiros. Palha nova, fofinha e cheirosa amontoada, pronta para rechear os colchões...A primeira noite desta dormida é sempre a melhor!
"Vá, anda lá. Ajuda aqui a avó a preparar a cama.". Eia, alegria!
O tecido já está estendido sobre a cama de ferro...pelo corte lateral, vai-se enfiando montinhos de palha. Tudo tem um saber: é uma camada sobre a outra, uniformemente para não haver covas. Afinal era o colchão novo...o colchão que seria o resguardo outonal e protecção do inverno rigoroso.
Ao final da tarde tudo ficou pronto.
A Santinha parecia ter vida sobre o napron branco bem lavadinho e engomado.
O Crucifixo já não balançava, mostrando-se orgulhosamente hirto sobre a cabeceira da cama.
O ferro brilhava após a esfrega que levara.
O chão cheirava a madeira renovada e, ups, nalguns sítios ainda se escorregava...
...mas a maior beleza era aquele colchão. Fofinho, cheio,..., parecendo a barriga recheada de um peru.
A Menina, contrariamente ao habitual, ansiava poder ir para a cama.
À porta das casas, as comadres conversavam, relaxando, por fim, os músculos de tão árduo trabalho. Os risos iam-se ouvindo, sinal de que, por hoje, as tarefas de mulherio estavam terminadas.
O jantar foram os rebuscos do almoço, pão, queijos e enchidos. Tudo acompanhado por um vinhito bem merecido.
A impaciência agitava a Menina, que não parava de olhar para a avó..."Raios, rapariga. Já tens sono?". Perante a anuência enérgica da moçoila, lá se obteve o sinal de ida. "Boa noite e que Deus te dê bons sonhos."
...eia, eia, alegria!
Rápida como uma lebre acossada, camisa de flanela e...upa!...o tão ansiado momento: o salto!
Pumba!...aterrou em cima da barriga de palha. Maravilha. Aconchegou-se e começou a fazer a sua covinha, aquela que seria a toquinha para dormir nos próximos tempos.
A picada acorda-a e olha desnorteada à sua volta. Estranho. Algo não estava bem.Todos dormem...
O que se passa? Coça-se na perna e vê que tem uma marca profunda, como se um rato a tivesse mordiscado. Pombas!...um caule mal-acamado na sua covinha.
Acordar a avó? Má opção. Levaria ralhete e quiçá um tabefe após um dia tão exaustivo.
Lentamente, para evitar barulhos, a Menina sai da cama (irra, que frio...o verão está a chegar ao fim!!) e mete as mãos na palha. Procura, apalpando, o desgraçado que a incomodou. Ah, aqui estás, maldito. Pega no caule e puxa. Ups...muita força!...um punhado de palha segue o puxão. Agora é que eram elas! Tinha de resolver o assunto ou, ou,..., bem, era melhor nem pensar.
Pegou nas entranhas palhosas e, freneticamente, empurrou, empurrou, até conseguir devolver o conteúdo ao colchão. A manhã aproximava-se e a noite, que tão mimosa se aparentara, tornara-se um pesadelo: disfarçar a asneira, fingir que dormia e apertar os lábios para não chorar de frustração. Maldição!
Levanta-se mal disposta..."Ó rapariga, parece que dormiste num colchão de espinhos!"...é a saudação matinal. Entredentes resmunga algo que só a ela é perceptível. "Rabugenta. Que mau feitio!"...
Arre!... não bastara ter uma noite de ouriço e ainda tinha de levar com estes miminhos. Saltou do banco, não esperou pela torrada na brasa, e correu para a ribeirinha. Acalmaria quando estivesse sozinha a olhar para a água.
Como era possível a outra ter sentido uma ervilha? ...histórias de princesas que em nada correspondiam à realidade. A Menina somente queria dormir no seu novo colchão de palha!
Dia de mudar a palha ao colchão.
Azáfama ruidosa, janelas escancaradas, potes de água a ferver para lavar as pedradrias com soda,..., e colchões esventrados, prontos para serem lavados e perfumados com alfazema.
As camas de ferro estão nuas e os crucifixos que as encimam, balançam ao sabor da brisa quente de verão.
Hmmmm, cheirinhos bons! Inspira profundamente os aromas de sabão e alfazema.
De joelhos, apoiados num resguardo de madeira que se vai arrastando, esfregam-se vigorosamente os chãos e as escadarias de granito. Sacode-se o pó dos naprons rendilhados.
A Menina observa e, de vez em quando, traz o que lhe é solicitado, pedindo que também a deixem partilhar da actividade comum. "Tem calma, depois ajudas a encher os colchões.". Eia, alegria!
Após o almoço tudo brilha, como se a casa tivesse renascido. Os tecidos secaram ao sol, estendidos sobre as giestas e arbustos rasteiros. Palha nova, fofinha e cheirosa amontoada, pronta para rechear os colchões...A primeira noite desta dormida é sempre a melhor!
"Vá, anda lá. Ajuda aqui a avó a preparar a cama.". Eia, alegria!
O tecido já está estendido sobre a cama de ferro...pelo corte lateral, vai-se enfiando montinhos de palha. Tudo tem um saber: é uma camada sobre a outra, uniformemente para não haver covas. Afinal era o colchão novo...o colchão que seria o resguardo outonal e protecção do inverno rigoroso.
Ao final da tarde tudo ficou pronto.
A Santinha parecia ter vida sobre o napron branco bem lavadinho e engomado.
O Crucifixo já não balançava, mostrando-se orgulhosamente hirto sobre a cabeceira da cama.
O ferro brilhava após a esfrega que levara.
O chão cheirava a madeira renovada e, ups, nalguns sítios ainda se escorregava...
...mas a maior beleza era aquele colchão. Fofinho, cheio,..., parecendo a barriga recheada de um peru.
A Menina, contrariamente ao habitual, ansiava poder ir para a cama.
À porta das casas, as comadres conversavam, relaxando, por fim, os músculos de tão árduo trabalho. Os risos iam-se ouvindo, sinal de que, por hoje, as tarefas de mulherio estavam terminadas.
O jantar foram os rebuscos do almoço, pão, queijos e enchidos. Tudo acompanhado por um vinhito bem merecido.
A impaciência agitava a Menina, que não parava de olhar para a avó..."Raios, rapariga. Já tens sono?". Perante a anuência enérgica da moçoila, lá se obteve o sinal de ida. "Boa noite e que Deus te dê bons sonhos."
...eia, eia, alegria!
Rápida como uma lebre acossada, camisa de flanela e...upa!...o tão ansiado momento: o salto!
Pumba!...aterrou em cima da barriga de palha. Maravilha. Aconchegou-se e começou a fazer a sua covinha, aquela que seria a toquinha para dormir nos próximos tempos.
A picada acorda-a e olha desnorteada à sua volta. Estranho. Algo não estava bem.Todos dormem...
O que se passa? Coça-se na perna e vê que tem uma marca profunda, como se um rato a tivesse mordiscado. Pombas!...um caule mal-acamado na sua covinha.
Acordar a avó? Má opção. Levaria ralhete e quiçá um tabefe após um dia tão exaustivo.
Lentamente, para evitar barulhos, a Menina sai da cama (irra, que frio...o verão está a chegar ao fim!!) e mete as mãos na palha. Procura, apalpando, o desgraçado que a incomodou. Ah, aqui estás, maldito. Pega no caule e puxa. Ups...muita força!...um punhado de palha segue o puxão. Agora é que eram elas! Tinha de resolver o assunto ou, ou,..., bem, era melhor nem pensar.
Pegou nas entranhas palhosas e, freneticamente, empurrou, empurrou, até conseguir devolver o conteúdo ao colchão. A manhã aproximava-se e a noite, que tão mimosa se aparentara, tornara-se um pesadelo: disfarçar a asneira, fingir que dormia e apertar os lábios para não chorar de frustração. Maldição!
Levanta-se mal disposta..."Ó rapariga, parece que dormiste num colchão de espinhos!"...é a saudação matinal. Entredentes resmunga algo que só a ela é perceptível. "Rabugenta. Que mau feitio!"...
Arre!... não bastara ter uma noite de ouriço e ainda tinha de levar com estes miminhos. Saltou do banco, não esperou pela torrada na brasa, e correu para a ribeirinha. Acalmaria quando estivesse sozinha a olhar para a água.
Como era possível a outra ter sentido uma ervilha? ...histórias de princesas que em nada correspondiam à realidade. A Menina somente queria dormir no seu novo colchão de palha!
Delicioso!
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