Não sei se este será o título mais adequado...
Vamos à história.
Era uma vez, mais, mês de Agosto. Mês de férias, de festas populares, de aldeias reavivadas pelo regresso dos seus emigrantes,..., e regresso dos pais e irmã da Jovem.
Ansiosamente, mas igualmente temerosa, esperava ao cimo da barreira, escondida pelos pinheiros e olhar perdido na estrada na qual surgiria o carro com a bagagem a encimar o tejadilho.
Tiiiiiiiiiii! Tiiiiiiiiiiiiiiiii! Tiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!...eram as buzinadelas que assinalavam a vinda gloriosa dos pais trabalhadores e da irmã, que mal conhecia.
Sobressalto...Chegaram!
Estaria lavada, bem composta, perfeita para eles? A Jovem refuta a sua insegurança e aproxima-se do grupo, que entretanto se formara e abraçava. "Olá!...tens-te portado bem?" e braços que a envolvem, por pouco tempo parece à Jovem, apertam-lhe ligeiramente o corpo. Ah, que saudade. Saudade de um abraço profundo, caloroso, aconchegante, protector.
Invejosamente aprecia a irmã. Escanzelada, silenciosa, pequena que, timidamente, tenta estabelecer uma ligação com a Mais Velha.
Após as boas vindas, toca a arrumar a tralha, arejar a casa, preparar um almoço improvisado e,...ó profunda inquietude, procurar o caixote das guloseimas. Vinham sempre, as guloseimas!...chocolates, gomas e demais doçarias de que a Jovem estava privada ao longo dos meses. "Olha que é para as duas.", ouve-se o aviso.
"Já começam!"...pensa a Jovem. Um esgar de desafio fixa-se na cara escondida por detrás de uma cortina de cabelos. "Quero lá saber. Os chocolates são só para mim!".
Empurrando o caixote para o seu quarto, sim era pesado, senta-se no chão, pega na tesoura para cortar as fitas. Pela porta entreaberta, espreita um rostinho que ela não está pronta a aceitar no seu mundo. "Mana, o pai disse que era para as duas...". Que ousadia!...mas, O.K., era o primeiro dia.
Um para ti, dois para mim, uma para ti, duas para mim, até não restar nada. Já se tinha imposto à pequena privilegiada. Privilegiada, sim. Vivia 11 meses com os pais, enquanto a Jovem estava sujeita aos caprichos dos outros.
Regras!...porra, lá vinham as regras dos 28 dias! Não faças isto. Não sejas assim. Faz o que te mandam. Não respondas aos teus pais. Trata bem a tua irmã. Ajuda a tua mãe nas limpezas. Agradece o que tens. Não digas "não"...a lista é infindável... afinal, era tudo para o seu bem!
A rapariga está mesmo intratável!
Almoço de família e, como se não estivesse presente, discute-se o que poderá ser feito para endireitar a Jovem, irreconhecível, mal educada, resmungona, desobediente e...quiçá possuída?!
É isso. Só pode estar possuída pelo Demo!
"Sabes, ouvi falar num padre, aqui perto, que cura este tipo de coisas."...Pftp, acham que a vão curar.
Combinado o dia, domingo, o carro familiar, acompanhado por mais dois veículos da parentela (era preciso apreciar o fenómeno de perto!!), estaciona no dito-cujo-lugar-de-cura. As portas abrem-se e todos saem do carro. Todos? Não! A Jovem, agarrada ao banco traseiro, recusa-se a sair. Enfurecida, olhos aguados e alma angustiada, apela a que a deixem em paz.
A censura estampada na cara dos adultos é evidente e, perante a perspectiva do escândalo em público, a Jovem é abandonada no carro. Sente uma mãozinha a apertar a sua...Conforto. Obrigada...mas não sou capaz de te retribuir pequena. Não sei como o fazer.
Regressados ao carro, insultos são berrados e castigos prometidos e, mais tarde, aplicados.
A Jovem fecha-se, procura os porquês. É jovem demais para entender. É jovem demais para ser ouvida e levada a sério. Afinal, bastaria um simples abraço para afastar o Demo.
Só a pequena o entendia. Ambas eram crianças e, em linguagem de criança, dizer "Amo-te!" era simples. Olhar. Tocar. Beijar. Abraçar. Exorcismo mágico para quem padece de ausência, de tristeza, de rejeição.
O mês de Agosto chega ao fim e, com ele, as regras. O piloto automático da Jovem volta a accionar-se..."Viverei. Sobreviverei. Ninguém me magoará!". O adeus é rápido, "Vamos lá, que temos de chegar a Vilar Formoso ainda de dia. Porta-te bem e vê, se para o ano, estás mais bem educada. Os pais trabalham tanto. Tudo para te dar, a ti e à tua irmã, um futuro melhor."
O carro desaparece entre os pinheiros e um novo ciclo de lutas se avizinha.
A Jovem corre para o riacho, lugar preferido para exortar as mágoas, questionando porque, mais uma vez, ficára para trás...Sozinha.
A história fica por aqui.
Não sei que outro título podia ter escolhido...
Vamos à história.
Era uma vez, mais, mês de Agosto. Mês de férias, de festas populares, de aldeias reavivadas pelo regresso dos seus emigrantes,..., e regresso dos pais e irmã da Jovem.
Ansiosamente, mas igualmente temerosa, esperava ao cimo da barreira, escondida pelos pinheiros e olhar perdido na estrada na qual surgiria o carro com a bagagem a encimar o tejadilho.
Tiiiiiiiiiii! Tiiiiiiiiiiiiiiiii! Tiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!...eram as buzinadelas que assinalavam a vinda gloriosa dos pais trabalhadores e da irmã, que mal conhecia.
Sobressalto...Chegaram!
Estaria lavada, bem composta, perfeita para eles? A Jovem refuta a sua insegurança e aproxima-se do grupo, que entretanto se formara e abraçava. "Olá!...tens-te portado bem?" e braços que a envolvem, por pouco tempo parece à Jovem, apertam-lhe ligeiramente o corpo. Ah, que saudade. Saudade de um abraço profundo, caloroso, aconchegante, protector.
Invejosamente aprecia a irmã. Escanzelada, silenciosa, pequena que, timidamente, tenta estabelecer uma ligação com a Mais Velha.
Após as boas vindas, toca a arrumar a tralha, arejar a casa, preparar um almoço improvisado e,...ó profunda inquietude, procurar o caixote das guloseimas. Vinham sempre, as guloseimas!...chocolates, gomas e demais doçarias de que a Jovem estava privada ao longo dos meses. "Olha que é para as duas.", ouve-se o aviso.
"Já começam!"...pensa a Jovem. Um esgar de desafio fixa-se na cara escondida por detrás de uma cortina de cabelos. "Quero lá saber. Os chocolates são só para mim!".
Empurrando o caixote para o seu quarto, sim era pesado, senta-se no chão, pega na tesoura para cortar as fitas. Pela porta entreaberta, espreita um rostinho que ela não está pronta a aceitar no seu mundo. "Mana, o pai disse que era para as duas...". Que ousadia!...mas, O.K., era o primeiro dia.
Um para ti, dois para mim, uma para ti, duas para mim, até não restar nada. Já se tinha imposto à pequena privilegiada. Privilegiada, sim. Vivia 11 meses com os pais, enquanto a Jovem estava sujeita aos caprichos dos outros.
Regras!...porra, lá vinham as regras dos 28 dias! Não faças isto. Não sejas assim. Faz o que te mandam. Não respondas aos teus pais. Trata bem a tua irmã. Ajuda a tua mãe nas limpezas. Agradece o que tens. Não digas "não"...a lista é infindável... afinal, era tudo para o seu bem!
A rapariga está mesmo intratável!
Almoço de família e, como se não estivesse presente, discute-se o que poderá ser feito para endireitar a Jovem, irreconhecível, mal educada, resmungona, desobediente e...quiçá possuída?!
É isso. Só pode estar possuída pelo Demo!
"Sabes, ouvi falar num padre, aqui perto, que cura este tipo de coisas."...Pftp, acham que a vão curar.
Combinado o dia, domingo, o carro familiar, acompanhado por mais dois veículos da parentela (era preciso apreciar o fenómeno de perto!!), estaciona no dito-cujo-lugar-de-cura. As portas abrem-se e todos saem do carro. Todos? Não! A Jovem, agarrada ao banco traseiro, recusa-se a sair. Enfurecida, olhos aguados e alma angustiada, apela a que a deixem em paz.
A censura estampada na cara dos adultos é evidente e, perante a perspectiva do escândalo em público, a Jovem é abandonada no carro. Sente uma mãozinha a apertar a sua...Conforto. Obrigada...mas não sou capaz de te retribuir pequena. Não sei como o fazer.
Regressados ao carro, insultos são berrados e castigos prometidos e, mais tarde, aplicados.
A Jovem fecha-se, procura os porquês. É jovem demais para entender. É jovem demais para ser ouvida e levada a sério. Afinal, bastaria um simples abraço para afastar o Demo.
Só a pequena o entendia. Ambas eram crianças e, em linguagem de criança, dizer "Amo-te!" era simples. Olhar. Tocar. Beijar. Abraçar. Exorcismo mágico para quem padece de ausência, de tristeza, de rejeição.
O mês de Agosto chega ao fim e, com ele, as regras. O piloto automático da Jovem volta a accionar-se..."Viverei. Sobreviverei. Ninguém me magoará!". O adeus é rápido, "Vamos lá, que temos de chegar a Vilar Formoso ainda de dia. Porta-te bem e vê, se para o ano, estás mais bem educada. Os pais trabalham tanto. Tudo para te dar, a ti e à tua irmã, um futuro melhor."
O carro desaparece entre os pinheiros e um novo ciclo de lutas se avizinha.
A Jovem corre para o riacho, lugar preferido para exortar as mágoas, questionando porque, mais uma vez, ficára para trás...Sozinha.
A história fica por aqui.
Não sei que outro título podia ter escolhido...
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