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A minha prof de História

Lembro-me de poucos. Aliás, como anti-prof assumida, nem queria saber de profs!
Até ao 9º ano do ensino unificado, vegetei pelas escolas e conteúdos portugueses como um zombie em piloto automático. A campainha e os gatafunhos cinzelados nas carteiras de madeira individuais eram o meu único interesse dentro da sala de aula, no fundo da sala, obviamente.
Tenho, no entanto, de destacar um...Aquele pelo qual nutria um ódio de estimação profundo: o prof de Biologia! Velho, arrogante, ignorante, pedante e mais alguns "antes" que já não me alembra muito bem.
Criatura desprezível que me levou ao empenho máximo de obter nível 1 no final dos períodos. Nunca o consegui!...a malvadez do prof limitou-se sempre, e por mais que me esforçasse em escrever porcarias nos testes e em responder "Não sei!" nos interrogatórios iniciais de aula, na atribuição do 2. Que insulto aos meus esforços!
Foi ele que orientou a escolha de área para o secundário...O tal ódio foi factor de selecção! Parvoíce,visto a esta distância, mas, na altura, era muito importante: não consegui o 1 mas ele também não conseguiu que fosse para a área "dele". Stuff de adolescente e tal, não sei se também o experienciaram.
No 10º ano houve uma espécie de awakening... Continuar os estudos era opção. A opção era continuar a vegetar pela vida fora, sem grandes objectivos e horizontes.
Letras!...bem, não era muito mau. Inglês, Alemão, Português, Relações Internacionais, Antropologia, Introdução ao Jornalismo,Filosofia, ..., e História.
Entrega de teste a História. Choque!...16 valores. Ui?...não terá havido um engano?...e, prontos, começou aí a minha vida de estudante.
Aquela nota transmitiu-me um objectivo: não iria ter notas abaixo desse valor. E assim foi (não vou contabilizar, para efeitos de auto-estima, algumas escorregadelas de preguicite aguda!!)!
Pela primeira vez olhei e vi um, neste caso, uma professora. Reparei que estava sempre muito bem arranjadinha, cabelo penteado ao alto, devidamente "engomado", a sombra verde nos olhos somo imagem de marca. Sentada na cátedra, livro aberto, leituras e exposições que, acabaram por me cativar. Palavras estranhas que anotava e que, a posteriori, procurava no dicionário. Afinal tinha uma meta a atingir!!...manter a fasquia dos 16.
A professora também começou a reparar em mim...que alegria! Era visível. Eu, reles ninguém. Esclarecia dúvidas na aula, que ousadia. Problematizava questões relativamente às políticas da História de Portugal (conteúdo essencial na época). Enfim, adorava ir às aulas. Deve ter sido a única em que nunca "tapei", he,he.
Filtrou-me. Analisou-me. Entendeu...
Cedo começou a entregar-me pequenos recortes de jornal alusivos a achados arqueológicos. Os dados estavam lançados: a Arqueologia seria a minha vida!
Guardo esses recortes, religiosamente, nos compêndios de História. Estão amarelecidos mas direitinhos para me recordar que foi a minha professora de História que decidiu o meu percurso para o ensino universitário.
Creio que todos terão histórias semelhantes...e se não têm é porque perderam algo pelo caminho: a capacidade de empatia, ou não, com os professores que nos formaram.
Entrei em Arqueologia, a minha 1ª opção no boletim de candidatura!
Hoje, e ao abrir a gaveta das recordações, devaneio como seria a minha vida SE a minha Prof de História tivesse sido outra. Mas isso já são outras histórias.

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