Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

O meu trabalho morre de ciúmes da minha preguiça

Que preguiça! Parece que já não tenho forças… O dia é tão longo relativamente à energia que sobra. Nem acredito que consegui chegar às treze horas e trinta minutos deste dia que se adivinha tão longo. Preciso urgentemente de reforçar o meu stock! Pareço barata tonta ou qual WALL.E às turras a tudo o que é sítio. E estou a ser razoável! Ver nada! Fazer nada!  Está prestes a nascer uma tarde amolecida e é preciso que seja um parto abençoado. Estou numa de pesar figos! A cabeça tomba perante a papelada que se anuncia para o outro lado do dia e, com todo o peso idiota e responsável da nossa sociedade feita de horários rígidos de trabalho, começa o leve claudicar que me limita e me diminui à insignificante condição de corpo mole. O único estimulante, neste momento, é o ligeiro barulhinho das pequenas coisas que ainda teimam em se movimentar, como as teclas do computador que alguém cisma em continuar a clicar numa tentativa demoníaca de formiga doentia e irracional. Parece da mais urgente

Inquietações

Mar revolto. Ondas gigantescas. Desenhos de máscaras de Saturno devorando um Filho. Floresta agitada. Árvores que se fustigam. Desenhos de fúrias na Árvore dos Corvos. A terra emana aromas agrestes e violentos. O Colosso, sobranceiro, domina a Humanidade, reportando a sua insignificância. Oh, pequenos seres! A Natureza vibra. O vento assobia. As nuvens choram lágrimas duras, transparentes. Tudo estremece numa agonia profunda de cadáveres em putrefacção. Não é dia de passeio. É dia-noite em que o sol alumia e a tempestade escurece, qual Bruxas Metamorfosis de Goya. Alerta, sentidos! Não te intrometas nas fúrias. Aguarda, resguardada, na Méson del Gallo, que a os elementos se recomponham, se transformem em bonança serena. Alerta, sentidos! cronicasanunciadas.blogspot.pt/2010/07/as-sombras-de-goya.html www.casthalia.com.br/a_mansao/obras/friedrich_corvos.htm pt.wikipedia.org/wiki/El_coloso#/media/File:El_coloso.jpg www.madridiario.es/445731/denise-rue

Mulheres à beira de um ataque de nervos

À porta de entrada da sua mansão, todos os domingos, lá está o retrato implacável da Sogra. Parece que fulmina a gente.  Depois entra-se, tudo impecavelmente arrumado e aparece a própria, em pessoa. Faz questão de salientar que a casa está sempre assim impecável ou não fosse ela quem é!  Dona de casa exímia…                  sempre mulher de botar respeito…                                                altamente especializada em assuntos de vida doméstica. O cabelo demasiadamente ripado compõe a imagem perfeita de uma alcachofra ambulante. Quando nova, lia todos os dias a Crónica Feminina, participou nos mais variados cursos de culinária e costura, foi aluna exemplar de um curso de crochet e até experimentou umas sessões num curso de carpintaria (mulher prevenida…).  E ali mesmo ao lado, já no hall de entrada, a outra, a Nora, a única nora que Deus lhe deu. O pensamento que preenche a cabeça da alcachofra sempre que vê a nora, inquieta e pequenina que nem um rabanete, é «Co

O limão que era ladrão

Dormitava atenta. O vendaval açoitava a casa e provocava ruídos suspeitos. O cansaço era muito, mas os medos impunham-se numa tempestade de emoções que não permitiam sono REM. Era superficial, esgotante. Para acalmar os sentidos, passou o dia em revista. Tinha sido rotineiro…ah! Excepção à rapaziada que combinara uma tainada à qual ainda teria de arranjar desculpas para ir. As aulas tinham passado numa monotonia agoniante. Professores monocórdicos, sem energia ou palavras apelativas. Os minutos gatinhavam no relógio e o toque de saída parecia uma miragem longínqua. Arre, que tormento! Trimmmmm…chegara ao fim. A tarde era de esplanada, conversa e risota até à chegada do autocarro…Pum! Pum! Pum! Que susto. Os pensamentos estacaram com uma travagem brusca. Pum! Pum! Pum! Seria o Cornuto? O Inominável?... Interrogações que acompanhavam a batida acelerada do coração. Pum! Pum! Pum! Suores frios escorriam pela cara. O corpo, tenso, tremia. Coragem. Era preciso coragem para enfrent

Patrão ruim

Tenho patrão ruim. Não me valoriza. Não me estima. Deixa-me ansiosa. Todos os anos…Quando sai o aviso de abertura para os concursos? Quando saem os resultados dos concursos? Onde fiquei colocada? Que níveis vou ter? Etecetera. A partir de Abril, por norma, a ansiedade instala-se e permanece até Setembro. São 5 meses intensos, em que a vontade de parar de “dar aulas”, literalmente DAR, mudar de vida, mandar tudo às favas, são uma constante. Tenho patrão ruim. A malta dá o que tem, por vezes o que não tem, o que pode a custos elevados. Família, amigos, lazeres que são preteridos em função do trabalho que, em última instância, é ingrato e parco em remuneração. Tenho patrão ruim. Após labuta de anos, em Abril não festejo o dito dia 25. Em Abril inicia o meu mal-estar, a agonia lenta que vai até Setembro. É metade do ano lectivo em martírio indeciso, em que o futuro pouco se antevê. Fazem-se cálculos, levantam-se hipóteses…Infelizmente, saber onde vou trabalhar é um concurso,

Uma caixa chamada Respeito

Era uma das aulas numa qualquer sala de aula do nosso Portugal contemporâneo. Eram trinta e uma pessoas encaixadas num quadrado demasiadamente pequeno para tanto desânimo. E um quadro ainda de giz a olhar para todas aquelas almas e todas a maldizer a sorte de estarem ali envolvidas. Era um cenário, é um cenário repetido e o problema é que esta situação repetir-se-á amanhã e depois de amanhã sempre à mesma hora.  Primeiro,  fecha-se uma porta que é o imediato sinal de aprisionamento de corpos e almas,  depois o discurso de teorias e conceitos que já ninguém suporta. E assim se faz a escuridão. Há papéis de cadernos invariavelmente de linhas ou quadradinhos e uns quantos olhares. Uns esbugalhados a tentar manter atenção, outros de pálpebras cerradas, outros ainda animados e apostados em transformar os cadernos em bolinhas de papel que ganham vida própria e, por arrasto, alguma felicidade na penumbra. E o pior de tudo é quando uma das trinta e uma almas presentes nesta sala quadrada de

O Nada

O Nada é aquilo do vazio, do inócuo, do pasmo. O Nada gosta do Vazio. Não precisa de pensar nem de opinar. O Vazio não é prepotente. Gosta de vadiar no Nada. É branco. É preto. É não-cor. O Inócuo gosta do Nada. Não há sequência nem consequência. Tanto faz assim como assado. Andam de mãos dadas por não se atrapalharem nem anulares. Casamento perfeito, este do Nada e do Inócuo. O Pasmo e o Nada nasceram no meso dia, à mesma hora. De jovens brincavam ao vazio. Não cansava, não magoava,…, era inócuo. Quando pensavam, o que é mentira, estavam como antes: pasmados. Os três são primos, o que faz deles família. Juntos fazem história que ninguém lê por não haver registo nem testemunha. Um sem o outro, sente-se perdido…Mas não faz mal, porque sentimentos são inócuos. Existem, pois O Nada, o Vazio e o Pasmo estão sempre presentes no Humano. Não precisam de autorização nem de expressão. Simplesmente estão. E quando o Humano não pretende nada, o Vazio e o Pasmo rapidamente se colam ao

Não saber

Não saber não faz mal. Se tudo soubesses, o que mais te cativaria? Não saber é fenomenal. Dá-te liberdade de não escolher, de seguir em frente, sempre na recta visível. Não precisas de te preocupar com encruzilhadas, voltar à esquerda, à direita. É sempre em frente. Não saber faz bem à alma. Não a perturbas com interrogações trémulas e incertezas trepidantes. É um bem-estar pacífico. Sem grandes alaridos dos sentidos. É sempre em frente. Não saber é estar ao sol. Usufruir do seu calor, beber os raios, sem questionar o porquê. É ser livre. É ser tu sem timidez. Não é egoísmo e falta de interesse. É pura e simplesmente não saber. Não quere saber! Bom dia.

When I was a Young Girl

Tudo parecia diferente. Tudo era diferente. Tudo era enorme e eu pequenina. Olhava e via Gigantes. Ficava maravilhada com o que me rodeava. Era Lilliput e Alice em simultâneo. O ar cheirava a algodão doce. O zumbido de abelhas e zangões orquestravam uma sinfonia em harmonia. Formigas, cigarras, grilos,…, acompanhavam, em coro, a orquestra. Borboletas multicoloridas fundem-se com as cores de flores, morangos e framboesas. Tudo parecia diferente. Tudo era diferente. Tudo era alegria e movimento. Acordar, inspirar, expirar. Viver. Viver em pleno o tempo de pequenina, poder ser livremente, sem grandes chatices. Tic-Tac. Tic-Tac. Tic-Tac. O tempo não pára…mas pequenina continuo, num olhar maravilhoso de criança. Adoro correr, saltar, cair, levantar. Amo os caminhos de terra batida e os campos de texturas diversas. Tem graça perseguir as aves que esvoaçam lá no alto. Reconforta abrir os braços e voar com elas. Para longe. Longe, longe, …, para um lugar que só