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Mensagens

A velha e o pessegueiro

Cada um com a sua sentença. Era isso que os meus olhos carregavam naquele dia, com toda a certeza. Era isso que eu enxergava nos olhos dos outros que se cruzavam comigo. Talvez se o dia desse em rentável… talvez pudesse pensar: cada um na sua alegria! Mas, realmente, tinham sido dias difíceis e a palavra que me ocorria, quase sempre, talvez da forma mais injusta, era sentença. Palavra triste, pesada, escura, implacável. E foi neste estado que decidi circular. Escolhi de propósito uma rua calma, verde e silenciosa. Podia ser que a natureza me sorrisse e me dissesse: cada um com a sua alegria!  Bem, de repente, avisto um magnífico quintal. Daqueles quintais que não são hortas nem jardins. São quadrados de terra caseira e intimista onde se cruzam couve galega com rosas ou se alinham carreiros de alfaces com canteiros de jarros. Lá ao fundo um tanque tosco de pedra que exibia claros sinais de abandono e que, já há muito, não via água nem sabão. E qual ponto luminoso, no meio do quinta

Não, vou ficar!

João olha o mar.  Está sozinho perante a imensidão do oceano. Veio para refletir. Pensar na vida. E respira. Nunca esta ação deste sujeito poderá ser interrompida por qualquer virgulazinha intrometida. A não ser que….  …pois…. aconteceu o que João não desejava! - João, olha o mar! (Aqui está! O João, o mar e a mãe do João).  A mãe do João que daqui a nada estará a recomendar-lhe: «João, recua! Ainda te afogas!» Ela não entende que o rapaz tem quase vinte anos e precisa de observar o mar a sós. O certo é que a virgulazinha decidiu intrometer-se entre este sujeito e o puro ato de contemplação. E lá se foi o ato contemplativo!  Ai! A vírgula! Esse reparo pequeníssimo e pendurado na linha da frase a tentar resistir, fazendo-nos lembrar que os pequenos pormenores existem e marcam a diferença sem chamar a atenção. Às vezes, até nos esquecemos que ela existe ou colocamo-la num lugar inadequado. Ela lá vive angustiada mas sobrevive. Como agora…devia ter aparecido antes da palavra «m

Demência Educativa

Não me vou queixar, nem choramingar (talvez!). Um ano que iniciou com "novidades" redundantes, de burocracias redobradas, com resmas de preparação bullseye . Um ano que termina numa azáfama formigueira, surreal, atropelando cérebros cansados e já sem discernimento. Faço. Não faço. Peço. Não Peço. Que se lixe! Um próximo ano que se iniciará com mais burlescos apressados e sem qualquer sentido de outcome . Muitos estrangeirismos, há que estar na moda, mostrar "progresso", "evolução"... ou quiçá, influência de interculturalidade fictícia, de necessidade de se encaixar no discurso europeu, de posar para a fotografia parlamentar. Afinal somos europeístas! Sou filha de interculturalidade europeia desde a década de 70 do século passado. Não preciso de ler estudos, teses e afins. A vivência é o melhor coaching of life . Daí ter a noção da implosão da fantástica fantasia que se quer aplicar, por força da Lei. É uma questão de mentalidade, de sangue, de

Flor

Flor não é nome meu. Flor é o meu ser. Bela, vermelho acetinado, qual gota de sangue. Ao anoitecer, aconchego-me numa concha intimista, quente e envolvente. Ao amanhecer, desabrocho ao sabor do sol,  embriagada pela carícia suave de lábios etéreos. Um sopro leve e danço ao som de colibris multicoloridos. Flor não é nome meu. Flor é o meu ser. Espreguiço-me, bamboleando nas gotas de água pura que me banham o ser. Vivo, abraçando toda a seiva que me percorre as veias. Sou bela, vermelho acetinado. Flor não é nome meu. Flor é o meu ser. Murcho, num ciclo que termina. As pétalas vão caindo, caindo, caindo,... Sei que vivi em pleno. Parto para o jardim de flores. Jardim de encontros e reencontros. Flor foi o meu ser. Helena Goulão

Mobilidade por Doença

" O Ministério da Educação reconhece a necessidade de proteção e apoio aos docentes em situações de doença, quer do próprio quer do cônjuge, ou da pessoa que com ele viva em união de facto, descendente ou ascendente que estejam a seu cargo. " Este é um dos excertos consignados no Despacho 9004-A/2016, de 13 de Julho. Tenho a dizer que este é um dos reconhecimentos do ME que não me suscita qualquer dissabor. O que está em causa são situações tremendas, tristes, por vezes, apocalípticas, de vida que, só quem as vive as poderá sentir na sua dimensão. Falo em sentir porque, certamente, não há palavras descritivas para muitas delas. Assim, considero mesquinho muitos comentários que se vão lendo pelas redes sociais quanto à MPD e, já agora, a situações por atestado médico prolongado. Se algo têm em contrário, façam-no nas instâncias devidas. É um direito que nos assiste! " 12 - Por decisão da entidade competente, os docentes a quem seja autorizada a mobilidade por do

E, como é coisa fria, pensei ser o melhor local para afixar um lembrete a quente

Cores verdadeiras, de preferência primárias Viagens de longo curso Aves de rapina, de força Toques de beleza Flores, muitas flores em anúncio Bandas de música a desfilar pelas veias Leituras e teatro a rodos Relva para refrescar os pés Falinhas mansas em mantinha peluda Um sol cansado de tanto brilhar Uma areia quente Luta e energia suficiente Rasgos de coragem e de saudade Um frio amargo e um travo doce ... e sempre as nuvens que restam daquele dia… Não esquecer Viver! (Normalmente, os post-its que figuram na porta do meu frigorífico são amarelinhos da cor do sol e começam assim: «Não esquecer!». E logo a seguir vem uma lista que vai aumentando à medida que a semana decorre: iogurtes, pão, cereais, detergentes, cebolas, pimenta e mais não sei o quê… Hoje coloquei um post-it na porta do meu frigorífico. E, como é coisa fria, pensei ser o melhor local para afixar um lembrete a quente. Hoje, lembrei-me de adequar a lista à cor amarelinha do dito papelucho. É l

Aprendizagens da Vida

Não há aprendizagens mais eficazes que as da Vida. A Escola não pode, nem consegue, ser uma Instituição de Solidariedade Social em que, em nome da desigual igualdade de oportunidades, se assassina a aquisição de ferramentas essenciais para um percurso de Vida salutar. Falo do ler, do escrever, do contar, do pensar, do criar. São a base! Essa base há muito que vem sendo desmantelada com reformas educativas com preâmbulos lindos de se ler mas que, ao longo dos seus artigos, inibe qualquer perspectiva de alcançar o objectivo Disney. Como posso, enquanto profissional, encarregada de educação e cidadã ser conivente com tal? A resposta é: não posso! Agora que algo descongelou vou ter, certamente, problemas em ser "avaliada"... Sempre adequei estas reformas à matéria-prima que tinha entre mãos e ao meu entendimento de sucesso. O sucesso nem sempre é sinónimo de níveis 5 ou classificações de 20. O sucesso é teres um início em que te apercebes da garotada que tens entre mão

F E C H A D O

vou pela rua fora estranhando o fecho de todas as lojas letreiro nas portas fixado um nome exato F E C H A D O nome peremptório que põe tudo parado e que anula qualquer ilusão! Mónica Costa

Porquê culpá-la de todo o mal?

Talvez só hoje por já ser tarde e porque o dia quis que ficasse aqui parado tenha olhado para essa tua mão mais os seus cinco dedos adjuntos. É mão que empurra, estremece o mais forte pelas vitórias que paulatinamente vamos conseguindo mas também sei por que razão é mão que puxa, agarra o estilhaçado pela desgraça que surge por vezes num sopro vago! Porquê culpá-la de todo o mal se é ela que nos salva na maioria dos casos? O que dizer da coragem do seu indicador que quando convidado a recolher se põe altivo e severo contra o impostor? E o que dizer do pobre mindinho quase sempre desprezado por ter nascido pequenino e mesmo assim cisma em aparecer? E que tal falar do anelar singelamente moldado pela pesada aliança que promete a felicidade! Ou do afã do polegar que virou escravo neste tempo de teclas que nos ilude em conectividade! Já para não acabar com o dedo do meio que mantém a dignidade de quem quer ser rafeiro Neste mundo de cães de raça! Mónica Costa (f