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Ler é escolher!

Mia Couto, escritor moçambicano, e sempre atento às questões da Literatura como fonte de Humanidade, desenvolveu várias questões interessantes no âmbito de um congresso de Leitura, realizado em Campinas, e cuja intervenção ficou conhecida pelo título «Quebrar armadilhas». 
Uma dessas ideias que me apraz retomar aqui é a questão da Leitura, propriamente dita. Como profissional da Língua Portuguesa e amante incondicional da linguagem literária, sinto uma terrível dor quando um aluno ou um filho, um amigo ou um familiar me diz que não gosta de ler e não lê. Eu costumo responder que, provavelmente, ainda não encontrou o seu livro ideal, mas, para o encontrar, é preciso ter a persistência necessária para ir procurando. E aquilo que mais inquieta é saber que quanto menos se lê, menos se tem capacidade para escolher. É esta uma das ideias constantes nesse discurso de Mia Couto que me cativou.
A palavra «Ler» vem da palavra latina «legere» que quer dizer «escolher». Daí que exista ainda a palavra «eleger»! Portanto, ler é escolher, é ficar a saber para poder escolher com consciência. O problema que se coloca é que há cada vez menos pessoas a ler e, portanto, há cada vez menos pessoas que sabem escolher. Resultado catastrófico: há cada vez mais escolhidos. 
Ao deixarmos de ler, somos surpreendidos por ausências e desfasamentos, conceitos que se nos surgem como inocentes e se constituem como autênticas armadilhas. E isto é assustador! É, neste cenário, que se movimenta a maior parte dos jovens, hoje em dia. E quanto menos se entende, mais se julga. Acreditamos que as armadilhas são os outros, que passamos a encarar como rivais. E afinal, a maior armadilha está dentro de nós.
Ler é penetrar noutras vidas, é ver tudo noutras perspetivas, reacordarmos noutros corpos e noutras vozes. É aprendermos que há uma multiplicidade de hipóteses para encarar a mesma situação. Ler é aprender a sermos visitados por outras sensibilidades. Ler é aprender a ser tolerante face à diferença. Ler é ser solidário.
Como diria o outro, já agora vale a pena ler isto para pensar nisto!

Mónica Costa
(pintura de Edward Hopper)






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