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Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2018

Uma princesa não fuma e um príncipe não se peida

Foi a frase que me veio à cabeça ao ler a manchete de um artigo online , cujo conteúdo não li. Com um título assim, a abóbora que vira carruagem puxada por cavalos lustrosos, perde a graça do imaginário infantil. A Gata Borralheira inalava o fumo das lareiras que acendia e a poeira das porcarias que limpava. O príncipe charmoso, tinha um lacaio que lhe limpava o nobre traseiro com paninhos embebidos em águas perfumadas. Não há nada de romântico na história. Lamento destruir uma das histórias mais rosinhas contadas às meninas pequeninas. Crescem com a crença de que assim e assado é ser donzela e que um príncipe será o seu futuro…até que a vida lhes mostra que nem tudo é rosa. Que as rosas têm espinhos! Há as que aprendem a podar os espinhos e as que ficam com o espinho em gangrena…e lá se vai a história da princesa. As princesas não fumam e os príncipes não se peidam. Não existem princesas nem príncipes de novelas. Ex

Estou só a ver...

Há uma monotonia que nos assiste todos os dias. Uma rotina que nos desconstrói. E, no entanto, quem nos garante que, se nos mudassem as rotinas de todos os dias, nos sentiríamos mais felizes? É e deste paradoxo que nos alimentamos. Todos os dias sem exceção, por rotina ou por prazer. Todos nós, todos os dias, temos momentos, vários momentos de autómatos, levantamo-nos e deitamo-nos em modo de estátuas. E passamos os vários minutos do dia e da noite na eterna questão: Acordei para a vida ou permaneci em dormitório ambulante?  Não há frio na barriga, nem pele de galinha, não há friozinho nem calorzinho que nos chegue, somos feitos de trabalho. E isso chega para nos desconcentrarmos enquanto seres «vivos». Não queremos complicações nem argumentações, pois receamos o esforço da contra argumentação ou, então, (pior!) desconfiamos do interlocutor, poderá não estar à altura da minha passividade que corrói que, afinal, também é a dele. Somos uns seres apáticos por natureza. Gostamos de dias

Ainda sobre a Eurovisão

Antes da world wide web e da internet globalizada, para quem trabalhava fora do seu país, a Eurovisão era um dos momentos altos de reencontro com a pátria. Recordo os momentos, a preto e branco, em frente ao ecrã em que se seguia, entusiasticamente, o desfile de canções e se expectava a representação portuguesa. Sabíamos que nunca ganharíamos. Era um acontecimento musical mas igualmente político. À altura, por norma, estávamos habituados a que uma Alemanha, uma Grã-Bretanha, uma França ganhasse. Mas que era sempre uma festa ouvir a língua portuguesa, ai isso, era. Ao longo dos tempos, e com o desmoronamento do “mundo comunista”, a Eurovisão aqueceu e habituamo-nos ao evento musical de “eu voto no meu vizinho e tu votas em mim”. Nada de especial e as votações deslocaram-se para leste. O ocidente, independentemente da “qualidade” das suas canções, ficava off-board . Esta tendência foi-se esbatendo. Mudam-se os tempos. Mudam-se as vontades. Mudam-se os gostos. Introduz-se o vot

Ser forte

Queira eu … ser forte o suficiente para sonhar às vezes, não viver sempre para nunca me transformar em ser oco palhaço zarolho espantalho louco cavaleiro do nada! Nunca me transfigurar por causa da voz deslavada nunca ver o estalar do som da erva seca e fustigada que nunca se aninhe em mim a sombra disfarçada! para nunca me deixar aprisionar pela forma de formas que são pedra desgraçada não consentir que me sequem o coração à custa de esperança acorrentada! para nunca me paralisarem o gesto com mãos condolentes na curva do ombro Que nunca chegue o tempo de nem sequer dizer Bom dia !  Que nunca me transformem em pavio  caminhando com pés de medo em esboço de assombro! para nunca ter de ficar parado entre a potência e a existência! Que nunca me chegue o tempo em que não adianta morrer porque já se morreu… Mónica Costa

Beleza

As mulheres são peritas em construções lentas de mundos interiores com arranha céus que são verdadeiras ilusões têm boca que é ferida aberta, nunca cicatrizada (já dizia O’Neill) olhos que, vendo fascínio,  lancinam sorriso brando que constrói os alicerces da inocência e do fogo e, quando encostam o corpo, respiram para dentro de gente. Fabricam gestos rápidos de um mover  de olhos que mata em silêncio Oferecem o pescoço para beijos quentes e vão cercando fatalmente para a desgraça! São um edifício labiríntico de reentrâncias e curvas tão reais quanto impossíveis E há sempre uma flor uma sombra magnífica uma nuvem sumptuosa um pôr do sol insuportável que trazem para compor o cenário Fracamente sentem em demasia… são  arquitetas da magia… E anda-se à volta destes seres atormentados que teimam em existir para embelezar o mundo exterior! Mónica Costa (O Pensador de Rodin)

Desafios

“Não consegues!” Este é o motor que move montanhas. Não consegues, o tanas! Perante afirmação tão peremptória, todas as energias se canalizam para provar o contrário. O coração acelera para velocidades máximas. O cérebro explode em estratégias de nano segundos. Os pulmões refrescam a máquina qual fonte de juventude. Operacional a 100%. Não consegues, o tanas! Se soubessem o quão estimulante é ouvir sentença tão blasé e complacente. Dizem-no com o intuito da derrota, da humilhação, da destruição. O desdenho que esconde a sua própria impotência, angústia e medos(s). É sempre mais confortável, fácil, projectar nos outros as suas inseguranças. Não são necessárias muitas palavras ou gestos. O intuito é magoar, pisar,…, baixar ao seu nível. Quão elevada mesquinhez. Não consegues, o tanas! Lufada de ar fresco. Sorriso energético de bomba relógio de alguém que espera pelo desafio. Tudo se consegue. Tudo se é possível. Tudo se alcança. A máquina não é perfeita, mas est

Elo

Escorreguei nua para o mundo colada minha pele com a pele da minha mãe e pequenina fui crescendo pela pele da minha mãe acima depois nua acolhi nova vida colada minha pele com a pele dos meus filhos e pequeninos e frágeis vão crescendo também pela minha pele acima É este o desígnio! Prende-me à Vida um elo forte que alimenta gerações Sinto-me  corpo inundado de pedaços de ti e de ti e de ti Ando pobre por fora mas rica por dentro Ando pensando que não em mim! Aqui estou eu, agora, desnudada, metade de mim filha, a outra metade de mim mãe Saltam da minha boca palavras com carne e palavras de sangue com sangue que sustentam a ternura Lábios de filha prontos para beijos mansos e ternos em pele enrugada ou lábios de mãe para beijos tontos e repenicados em pele jovem e lisa Um braço amparando a fragilidade e o outro a controlar a pujança e a rebeldia Cabem no meu colo o corpo débil e mole da minha mãe o corpo cada vez mais musculado do meu rapaz gigante e o corpo elegan

Este Portugal

Este Portugal de fato e gravata que despreza a sandália e a soquete. Portugal onde todos têm opinião e, no entanto, submissos são. Para onde caminhas tu, ó Portugal? Em garota era o paraíso, em adolescente purgatório te manifestaste, em adulto inferno és. País de grandes esperanças e gentes fortes…Onde escondes os teus valores, épicas aspirações? Quero acreditar. Quero crer. Este Portugal é teu, é meu. Onde estão as alegrias de infância, as contestações juvenis? Adultos sem ambições, corações e noções. Povo submerso na escravidão da liberdade comandada e ditada. Ó Portugal, porque não sorris? Concursos e talk-shows que adormecem enquanto a bola toca e hipnotiza milhares. Heróis do mar, onde pára Noé? Ó gente da terra, onde vos escondeis? Às armas e barões teremos de gritar e a esperança almejar.

Mãe

Saudade eterna. Amor incondicional. Abraço forte. Não te deixarei sem abrigo, sem moral e história. És minha. Sê minha. Deste-me vida. Vi-te nascer. Olhos redondos, botões de azeitona. Tudo mudou. Vivo de ti e para ti. A vida tem mais uma partilha a fazer. Preenchimento da tela pintada de cores vívidas. Ser que me plenifica. Que me faz ter outros propósitos. Ser que me tortura. Que me tira do sério por vezes. Ser que me gerou. Que não me deu escolha. Pura existência, vivência, experiência. Saudade eterna. Amor incondicional.

O meu trabalho morre de ciúmes da minha preguiça

Que preguiça! Parece que já não tenho forças… O dia é tão longo relativamente à energia que sobra. Nem acredito que consegui chegar às treze horas e trinta minutos deste dia que se adivinha tão longo. Preciso urgentemente de reforçar o meu stock! Pareço barata tonta ou qual WALL.E às turras a tudo o que é sítio. E estou a ser razoável! Ver nada! Fazer nada!  Está prestes a nascer uma tarde amolecida e é preciso que seja um parto abençoado. Estou numa de pesar figos! A cabeça tomba perante a papelada que se anuncia para o outro lado do dia e, com todo o peso idiota e responsável da nossa sociedade feita de horários rígidos de trabalho, começa o leve claudicar que me limita e me diminui à insignificante condição de corpo mole. O único estimulante, neste momento, é o ligeiro barulhinho das pequenas coisas que ainda teimam em se movimentar, como as teclas do computador que alguém cisma em continuar a clicar numa tentativa demoníaca de formiga doentia e irracional. Parece da mais urgente