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Mensagens

É este o verdadeiro testemunho de amizade que podemos passar de uns para os outros!!

Um dos mais difíceis empreendimentos nesta vida é saber aceitar! Há situações que não pedimos para acontecer! Há coisas que não nos pertencem, há mundos magníficos a que gostávamos de pertencer ou sítios que gostaríamos de visitar, mas, simplesmente, não é para nós! E há as coisas que sempre foram nossas, mundos magníficos à nossa espera! Há pessoas que vão surgindo na nossa vida: umas ficarão, firmes e seguras – são as nossas pessoas! Outras passam por nós, suaves como o vento ou demolidoras, e vão, seguem o seu caminho!  Haja humildade e sensatez para aceitar! E ter a noção de que tudo no Universo, quando é forçado, não compensa! Mais vale confiar na ordem natural das coisas. Ficarmos felizes com o pouco que temos e saber fazer do pouco muito. É uma tarefa árdua! Gigantesca! Mas se conseguirmos cumprir com o nosso papel neste Universo, acreditando que tudo tem um sentido, em respeito por nós próprios e pelos que nos rodeiam, tudo fica mais fácil!  E não é por acaso que as pessoas aco

Um dia, somos.

Às vezes, é exatamente assim.  É a compaixão do Universo.  É a vida que achavas ser um enorme definitivo. De repente, vai-se transformando num mar de possibilidades. A fuga ao ordinário. É esta a visão!  É poder escolher! Ou não ter alternativa! Às vezes, é exatamente assim.  A nossa natureza terrível à flor da pele.  Um dia, somos. É exatamente assim. Uma revelação.  É como se uma grandiosa visão nos assaltasse. Uma revelação que, no entanto, vem sob a forma de coisa pequenina. Fica ali a remoer… insiste, persiste, desestabiliza, muda tudo.  Tudo no sítio certo? (desenho de Francisco Simões)

não há galo que cante

Reparei, hoje pela manhã, que já não há galo que cante… E as galinhas continuam silenciosas (como sempre). Nem uma cacareja! Não há ovo que se ponha!  A estranheza que se coloca é a seguinte: mesmo assim, ainda há pessoas que conseguem acordar. E não sei o que as move!... mas acordam. E com energia! Mesmo sabendo que, agora, o canto é outro. Talvez seja bom pensar que ainda há gente que acredita e que consegue, rapidamente, arranjar outra música que a levante. É pena é não se poder dar azo à alegria deste tão raro e luxuoso acordar porque anda meio mundo triste. E quando a maioria vai triste, devem estar tristes os felizes. É assim que tem de ser, não há volta a dar. A alegria, já se sabe, é gratidão. E a gratidão é pesada. A tristeza é vingança. E a vingança é doce.  Se demonstras alegria e entusiasmo é porque estás bem e, neste momento, a frase mais adequada é «Tudo vai ficar bem!», mas ainda não está bem. Portanto, tu, que conseguiste arranjar outra música que te sustem, faz de cont

não serem já todos do mesmo tamanho

 Eram quase todos do mesmo tamanho da altura suficiente para não enxergar na totalidade Vinham descalços, pernas ao léu, roupa por engomar sem o menor pingo de preocupação sem saber se era quinta ou sábado… tanto faz Havia apenas dois prazeres dignos de lembrança Contar até dez e ficar de papo para o ar E à noite ouvir de olhos fechados os grilos cantar sem o menor pingo de preocupação reconfortados pelos toques de tambor e os sons do violão Lambiam crostas de pão de milho com marmelada Corriam ao sabor do vento despenteados e chamavam aos cães ursos amestrados Era este o jeito de ser e tão leve ideia esta a de viver! Não precisavam nunca de guarda-chuva e nunca gramavam secas por mais de cinco segundos soltando um Tanto faz! decidido, Eram índios à solta à espera de ser Homens felizes por não saber que um dia tudo acabaria por acabar e haveria males e conflitos por resolver como o de não serem já todos do mesmo tamanho (obra de Apolo Torres)

Assim vai o corpo assim está a alma

Vai a cabeça ao tecido e desliza pelo corpo abaixo o vestido Manga larga roçando os cotovelos e há nos ombros a cor que o sol dourou Vestido leve, leve a abrir na minha perna passo solto, passo descontraído Ancas balançando ao sabor dos dias quentes e sou pele à espera da carícia do vento Assim vai o corpo assim está a alma Preciso apenas deste intervalo O tempo de uma pausa Pois ainda ontem estava o fardo pesado eram peças e peças de roupa aprisionadas às vezes à chuva à espera de melhor fado mas agora vou leve, leve deliciosamente despida pelo tempo Mónica Costa

Ridícula alegria

O quê? Jogar agora?!! Mas tão de repente, pareceu-me ouvir aquelas vozes das crianças vizinhas que vinham chamar-me depois do jantar para, ajoelhadas no passeio, ali mesmo no meio da rua, nos atirarmos a um Jogo da Glória ou a uma Sueca, ainda a noite era uma criança…  Em memória dos bons velhos tempos, lá aceitei o desafio. Estava a noite quente e convidava a um sentar na soleira quente da porta. Queriam que jogasse um Jogo de Damas. Caramba! Há quanto tempo não via eu um tabuleiro de jogos. Estava convencidíssima que já ninguém jogava a uma coisa destas. Ainda se fosse um jogo de Xadrez! Agora, um tão singelo jogo de damas era quase incompreensível. Não é que admire o Jogo de Xadrez, pelo contrário. Se há jogo a que nunca achei piada foi ao Jogo do Xadrez. Sempre o considerei um entretenimento de gente inteligente que se esgota em manobras lógicas numa ponderação demasiadamente calculista. Gente apostada numa concentração e silêncio aterradores, próprios de quem sabe jogar na vida

acho que sou quem gosta de brincadeira

Note-se! É que dou por mim, de quando em vez, a descer as escadas aos pulinhos ou a fazer disparates pequeninos. Acho que sou quem gosta da brincadeira. De atirar os sapatos ao ar e saltar à corda com chinelos. Dou comigo a chafurdar-me com a mangueira e limpar a boca com a palma da mão. Correr para ver quem chega primeiro ou bambolear na cadeira. Como gosto da brincadeira! E que prazer faltar à escola e deixar as tarefas por fazer! Fugir para a praia e estender-me de barriga no chão e fazer castelos na areia. Gosto de vestidos rodados e do verão, de ouvir música e cantarolar e pôr a fita no cabelo para ficar mais bonita. Gosto de trincadelas e abraços, de despentear cabeleiras e de te encher de cócegas. Acho que sou quem gosta da brincadeira. Adoro gelados, petiscos e beliscos. Gosto de rir. Gosto de chorar e provar o salgado das lágrimas. Gosto de cheirinhos e beijos no nariz. Tenho a impressão que não envelheço… Tenho a impressão que estou a ficar menina… (foto de Robert

aos Homens de boa vontade

Aos Homens de boa vontade! Quais? Aos que tentam conservar alguma boa vontade apesar de cansados? Aos que têm a vontade de acreditar na boa vontade apesar das ladaínhas e pragas? Ou aos que, sem vergonha e sem precisar de desculpas, se colocam ao serviço de uma vontade que só a eles lhes pertence? Mónica Costa

E quem os visse de cabeça baixa e espinha curvada...

E quem os visse de cabeça baixa e espinha curvada haveria de pensar que andavam de mal com a vida. E não! Não era nada disso! Naquela altura, era apenas a única forma de estar. Eram uma mistura de bichos e homens que não tinham vista para o horizonte. Enxergavam a meio palmo e mal. O que viam, existia e o que não viam, não existia. Simplesmente assim! Mas tudo muda e, um dia, a espinha endireita-se e avista-se o além. É a terrível e magnífica lei da evolução. Foi assim que ficou esta nossa mania de ver e ver e ver. Até ver coisas que não existem porque, às vezes, à força de não se ver, imagina-se, adivinha-se.  E lembrei-me desta coisa da cabeça baixa por causa desta nossa postura, ultimamente. Quem me vê, há de pensar que ando de mal com a vida e não! Nesta altura, é a única forma de estar. De espinha curvada a enxergar meio palmo e com a ajuda de óculos. Mas esta postura não é de abatimento, é de concentração, atenção a todos os pormenores. Algumas vezes, cansaço, é verdade, mas,