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Mensagens

Maldito seja quem rompeu a luta

Mexendo no baú, descobre-se, por vezes, verdadeiros tesouros.  O meu avô era tipógrafo, não era letrado. Pessoa humilde, alma de poeta! Nos tempos livres, e dando asas à sua imaginação, escrevia.  Aqui vai um poema do meu avô! Nesta Terra de belas tradições Já não sorri a Alma Portuguesa, Numa candura etérea e de beleza, Que vibrava nos lusos corações... Chora co'a Pátria a alma de Camões A glória de um passado de grandeza, Enquanto os homens, numa luta acesa, Procuram saciar as ambições... Oh! Pátria refulgente de outras eras, Terra de heróis, de santos e guerreiros, De aventuras e Lendas e Quimeras!... Desperta, altiva, e o nosso mal escuta! E grita àqueles maus aventureiros: Maldito seja quem rompeu a luta! Texto de Raul da Costa Querido e foto de Eduardo Urculo

Sob pressão

E é, precisamente, quando a perversa lucidez vem que nos sentimos incapazes e sob pressão! É, precisamente, quando a perversa lucidez não convém que surge um súbito reconhecimento idiota de um mundo a sério em formato negociável! É o terror de sabermos o que, afinal, o mundo é! É ver alguém gritar em silêncio: «Quero sair!» É estar um sol magnífico, nunca chover e surgir um impertinente e lancinante remoer: E amanhã? E amanhã? E amanhã? Como será? Porquê eu? Porquê eu? Porquê eu? Somos nós mesmos sob pressão! E é nesse preciso momento de tensão que, abandonando a lucidez, nos lembramos que é tudo uma questão  de cuidar de quem está no limite da noite! Nos lembrarmos que é tudo uma questão de amarmos no nosso próprio sentido cuidando de nós próprios e dos outros! É este o último desafio! É esta a nossa única dança! Mónica Costa

Obrigada!

O meu texto é, hoje, dedicado a todas aquelas pessoas que têm entrado na minha vida de forma especial. Apetece-me! Só porque sim! Às vezes, passam anos e nunca conseguimos ter a coragem de dizer o quão especial é determinada pessoa na nossa vida. E andamos cabisbaixos, macambúzios, a soprar umas meias palavras em modo fantasma. Alguns sussurram entre dentes que já nem acreditam nas pessoas!!  Seria bom que mudássemos de atitude! Todos! Eu sei que para algumas pessoas, por orgulho ou por receio de não se saber escolher as melhores palavras (às vezes, eu sou assim), é difícil assumir essa postura de frontalidade. Outros, por uma questão de erro de educação, não estão habituados a essa frontalidade. Não é uma questão de elogio! Não! É uma questão de frontalidade: «Olha, nunca te disse, mas ficas a saber que o teu sorriso, logo pela manhã, dá-me força para enfrentar este meu dia que vai ser árduo!». E ambos seguem de sorriso leve que torna mais leve o dia!! Fácil, não é? E tão difícil

Don´t worry, be happy!

Quando os casos se tornam graves... começam a faltar as palavras... E, em último caso, uma palavra basta... Costuma o médico dizer com ar sério quando, com ar sério, se pergunta:- É grave, doutor? …ele simplesmente se detém com um ar sério... e culmina com uma expressão de séria tranquilidade: - Há que ter fé...! E quando um homem de ciência solta como única palavra possível a... Fé, o caso é grave!... E é só nessa altura que nós percebemos a gravidade da situação... Portanto, enquanto o caso não for grave, que não nos faltem as palavras!! O melhor a fazer é arranjar forma de nos divertirmos e ir palavreando à exata distância que nos salva daquela porta! Aprender a lidar com a doce ternura do ir acordando devagar e do ir aprendendo a cheirar os odores da manhã! Aprender que, hoje, é nevoeiro denso, mas, amanhã, é sol radiante!!  E é por isso que há sempre dia e há sempre noite! E depois o caminho vai progredindo e há sempre uma música no ar que nos vai envolvendo lentamente ao s

No meio...

Ali no fundo sou eu mesma Ali no fundo é a minha raíz! Ali à frente sou eu mesma, é o mar que ouves Ali à frente é a minha alma! Ali atrás há uma sombra Ali atrás é o meu amor que se afastou Ali em cima sou eu mesma, um silêncio que faz eco e se vai repetindo em nuvens de mil e uma formas No meio de tudo isto, um coração que se agita! Um coração que dança! Mónica Costa

Continuo à espera...

Nunca seria assim que começaria esta pequena narrativa se tudo seguisse o seu percurso normal.  Habitualmente, tudo decorre de uma ação passada. Os escritos partem sempre de algo que nos aconteceu ou vimos acontecer e é assim que tudo se compõe. Mas, desta vez, estou à espera que aconteça alguma coisa. E continuo à espera…há muito tempo que nada acontece. O caso parece complicadíssimo. Está tudo paralisado. Eu adoro sentir as minhas pernas dando largas passadas e absorver o movimento do que me rodeia. No entanto, a neve não cai, o sol não brilha, os pássaros não aparecem, a água não corre, não há vento, não há nuvens. As pessoas estão sentadas e abstraídas a mastigar. Atrever-me-ia mesmo a dizer, a ruminar. Os seus olhares vazios transformam tudo em coisas invisíveis. Não há qualquer motivação. E ninguém parece preocupado com tal situação. Mesmo assistindo a um chão que lhes foge debaixo dos pés. Se nada acontece e ninguém se mexe, qualquer tentativa mais eufórica da minha parte é a

E aquilo que resta é sempre o início de algo feliz!

Hoje! Aula dedicada a provérbios e quadras populares. A sabedoria popular! Miúdos de doze anos a pensar provérbios!! Que aparente disparate! Um dos provérbios vinha a propósito do tempo! E começa uma série de queixas: - Faz chuva, dia cinzento… - Foi-se o verão! - Oh! Que pena! – exclamam todos! - Lá se foi a piscina! - Aulas!! Que seca…! E diz alguém, de dedo em riste:  - «Depois da tempestade, vem a bonança!» E lá se desfiou uma conversa da qual se extraiu uma verdadeira lição – simples e eficaz. - Não nos podemos queixar! Temos de aproveitar o que temos! (Às vezes, é tão reconfortante ouvir a inconsciente ingenuidade otimista das crianças!) Diz a Bruna: - Olhe, professora, está um dia cinzento, um dia de chuva…posso dedicar-lhe umas quadras? E desata a escrever! Aqui fica a lição simples e eficaz! A lembrar que o fim é aquilo que resta. E aquilo que resta é sempre o início de algo feliz! É dia frio e muito cinzento e o que mais se ouve é o som do vento. Não se vê

Ler é escolher!

Mia Couto, escritor moçambicano, e sempre atento às questões da Literatura como fonte de Humanidade, desenvolveu várias questões interessantes no âmbito de um congresso de Leitura, realizado em Campinas, e cuja intervenção ficou conhecida pelo título «Quebrar armadilhas».  Uma dessas ideias que me apraz retomar aqui é a questão da Leitura, propriamente dita. Como profissional da Língua Portuguesa e amante incondicional da linguagem literária, sinto uma terrível dor quando um aluno ou um filho, um amigo ou um familiar me diz que não gosta de ler e não lê. Eu costumo responder que, provavelmente, ainda não encontrou o seu livro ideal, mas, para o encontrar, é preciso ter a persistência necessária para ir procurando. E aquilo que mais inquieta é saber que quanto menos se lê, menos se tem capacidade para escolher. É esta uma das ideias constantes nesse discurso de Mia Couto que me cativou. A palavra «Ler» vem da palavra latina «legere» que quer dizer «escolher». Daí que exista ainda a

Cuidado! Os ouvidos têm paredes!

Ora, de um lado! O protagonista deste lado são todos os que habitam aquela rua. Um rapazito de onze anos que tem uma doença rara e a sua família que sofre. Um grupo de camponeses que se esfalfam a trabalhar e ganham pouco, mas são felizes. Um indivíduo de temperamento depressivo que passa a vida a gritar com os filhos. Uma dona de casa azafamada que se desdobra também em limpezas fora de casa. Uma elegante rapariga que faz torcer o pescoço aos que passam por ela. O merceeiro que decidiu instalar-se na mesma rua que o padeiro para benefício de todos que, assim, já não têm de se deslocar ao centro da vila. Há afazeres domésticos e profissionais que agitam esta gente, há amores e desamores, zangas e disparates, fofocas, exageros e suavidades. As casas foram construídas umas ao lado das outras, contíguas, portanto. São casas rasteiras de muros baixos e sem sebes. Há portões quase sempre abertos e todos se conhecem. À noite, as portas fecham-se e as janelas descem as suas persianas, mas t