Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

Pessimista

Sorriso largo.  Esperança no futuro. Boa onda. Alguém acredita. Está alegremente convicta. Um estado construído (mesmo pensando que não) à custa de alguns suores e lágrimas. Caminho que se vai construindo caminhando, angústia em cada tentativa, orgulho em cada pequena conquista. Processo lento e paciente que enche cada dia de novo fôlego, alimentando a sensação de que, ainda que sob a forma de migalha, se contribui para a melhoria do mundo. E assim se vai sendo feliz. E depois há sempre o outro. O que ali está sempre tão sério, à cabeceira da mesa, queixo apoiado em mãos moles, olhar mortiço, de suor no rosto, apenas por causa do calor que faz nesta sala. E pensa «Tomara eu ter a tua energia!», mas, ao invés do reforço positivo e humildade necessária capaz de dizer «Ainda bem que existem pessoas como tu para que outros, como eu, possam estar parados e sossegados neste olhar mortiço.», dispara com todas as balas de que dispõe: «És uma optimista!» como quem diz «És uma ingénua!». E

Ela vive da ferida aberta que infeta

Ela é a vontade do destino. Uma vida à face da Terra na mais tremenda inutilidade. Se fosse única, não havia problema, mas ela pertence a um grupo dos mais horripilantes e numerosos grupos à face da Terra. Portanto, não há nada a fazer! Não é ela, são elas! São minúsculas, mas propagam-se de forma exímia. São às quinhentas a oitocentas de cada vez. É praga! Não há nada a fazer, só esperar que se cumpra o desígnio.  Elas aí vêm!! São a destruição das nossas arquiteturas mais belas, causam-nos embaraço por se adaptarem de forma exemplar e subtil ao normal funcionamento desta Máquina. Ganham vida própria ao sabor das suas pretensões. Não têm qualquer utilidade, apenas aparecem, são geradas e sobrevivem à custa dos outros.  Esta, que me mira atentamente, é uma arrastadora de moléstias e, por cada maldade, suga-nos o sangue em três tempos e transforma-o em glória. E é,  nesse momento, que muito azul, muito cheia de papo, abominável, sem saída, presa dentro de si e orgulhosa, enclausu

Autoridade

Quando era criança, sentia-me pequena em tudo subalternizada, insegura e alinhada, sem direito a protesto Nós víamos os nossos pais de baixo para cima eram o suporte, a segurança, a responsabilidade, a maturidade Eles lá estavam impávidos e implacáveis nós levantávamos a cabeça, atirávamos o nariz para o teto e eles lá estavam naquele alto, de dedo em riste quase a tocar o céu. Por que será, então, que eu, hoje, detendo, agora mesmo, o papel de madura e responsável de tamanho suficiente para poder chegar ao céu me sinto, na maioria das vezes, ao lado dos meus filhos e nunca acima deles?! Mónica Costa (pintura de Enric Torres-Prat)

Terás os teus 15 minutos de fama

Muitas vezes me interrogo o que leva as gentes a ansiar por protagonismo imediato, efémero, nímio. Várias possibilidades me ocorrem… A inépcia com que nascem e que as leva a trepara por aí, ali, acolá num frenesim tonto e sorriso lerdo como se não houvesse amanhã. Estrebucham semiescamente e lambuzam bovinamente outrem que lhes aparente consignar benefícios. A ausência de beleza estereotipada das sociedades actuais qua as fazem refugiar-se numa ânsia vingadora de que o poder é belo. Para isso se envolvem numa cápsula de pseudo-grandeza de nariz empinado e apinocado, com gola de camisa engomada mas amarelada. O verdadeiro prazer em dominar, pisar o palco da fama por, sem ela, não serem “alguém”. A fama acarreta exposição pública, dinheiro, posição social, amigos,…Um alguém fátuo, momentaneamente satisfatório, muito satisfatório! Poucos serão as gentes que têm o protagonismo de mérito. Aquele que perdurará, será recordado e honrado. Na sociedade actual é mais fácil, mais si

Ele e Ela

E ela chega, como quem não quer nada, e dispara: - Ter poder para desejar com tanta força que se concretiza é o meu maior medo. E ele, assustadíssimo… (fotografia de Robert Frank)

Não

E há precisos momentos em que um Não se impõe! Mas o problema é que um Não é quase sempre uma afronta nunca um reconhecimento ou uma evidência. (obra de Soizick Moiester)

E foi neste estado paranóico que me deixei levar pelo rodopio

Aqui há uns anos, quando o meu gosto era mais refinado, encarava as festas de verão como algo fantástico. As luzes em pisca-pisca eram milhares de sóis dentro e fora de mim, os carrosséis atiravam-me ao ar com dignidade e as músicas psicadélicas, mais as roulottes de farturas gordurosas e açucaradas faziam as nossas delícias enquanto canalhada acneica. Tudo era sinónimo de completo êxtase. Marchava-se em passo solene para o local da romaria e desfilava-se de nariz no ar, inalando o mágico odor a pipocas. Havia sempre uma saída consentida até às tantas da manhã na companhia de vizinhos e amigos. Não havia um único detalhe que estragasse a alegria. Ia-se simplesmente para a festa porque era tradição, porque sim, de cabeça leve. Não havia a regra do pai nem a imposição da mãe, havia uma ausência completa de limites que instauravam a sensação de sermos livres sem o sermos. Havia festa e havia verão e isso chegava. Até parece mentira dito desta forma, mas a fotografia não mente e aquele qu

Dar de caras com o inexplicável

Só vidas facilitadas, serenas, histórias sem um único sobressalto. Ou, então, histórias cómicas, hilariantes, vidas ridículas. Tantas vezes, histórias vazias e vidas preguiçosas.  Acreditando, acreditando apenas e em tudo o que se regista e publica. São os ganapos deste tempo, habituados ao jogo virtual, mas tão crus e nus perante a realidade. Um largo, um jardim e um bando de rapazes bem parecidos, esguios, cortes de cabelo perfeitos, barbinhas rarefeitas, bigodinhos finos, rostos aquilinos, narizes enormes no meio.  Pescoços carregados de fios, fones e mãos abrilhantadas por iphones que os ligam ao mundo. Nem precisam de falar muito uns com os outros, apenas sorriem de quando em vez, comentam depressinha uma ou outra situação visualizada do youtube. Soletram meias palavras, trauteando músicas, misturam nomes de youtubers às suas conversas como se fossem seus irmãos ou amigos de longa data, Wuant, Windoh. E num mundo governado por facebooks , instagrams e twitters não há nada que

Bananas

As bananas são tão difamadas. São um fruto aromático e saboroso. Porque se compara, então, um ser invertebrado a uma banana? É que esses não são aromáticos e muito menos saborosos! Cabe-me, assim, fazer a apologia a este fruto menosprezado. É amarela quando em estado maduro. O invertebrado fica amarelo quando se vê contrariado ou está adoentado porque não quer, não lhe apraz cumprir com as suas obrigações e afins. A banana é vistosa e cheirosa. O invertebrado pode ser vistoso mas, quando “descascado” não passa de um verme infecto em purulências bubónicas que, por si, dão nome maldizente ao cheiroso. A banana é um deleite às papilas gustativas, comestível em várias tipologias de receitas. O invertebrado não tem ponta por onde se lhe pegue. Torce e retorce… Arre que não há quem se lhe chegue! Porque são as bananas tão difamadas? https://i.pinimg.com/originals/3b/f3/07/3bf30757fdc16f767a9e4c2d659c816b.jpg