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Pessimista

Sorriso largo. 
Esperança no futuro. Boa onda. Alguém acredita. Está alegremente convicta. Um estado construído (mesmo pensando que não) à custa de alguns suores e lágrimas. Caminho que se vai construindo caminhando, angústia em cada tentativa, orgulho em cada pequena conquista. Processo lento e paciente que enche cada dia de novo fôlego, alimentando a sensação de que, ainda que sob a forma de migalha, se contribui para a melhoria do mundo. E assim se vai sendo feliz.
E depois há sempre o outro. O que ali está sempre tão sério, à cabeceira da mesa, queixo apoiado em mãos moles, olhar mortiço, de suor no rosto, apenas por causa do calor que faz nesta sala. E pensa «Tomara eu ter a tua energia!», mas, ao invés do reforço positivo e humildade necessária capaz de dizer «Ainda bem que existem pessoas como tu para que outros, como eu, possam estar parados e sossegados neste olhar mortiço.», dispara com todas as balas de que dispõe: «És uma optimista!» como quem diz «És uma ingénua!». E di-lo com atitude masoquista, própria de quem está habituado a sofrer e gosta de fazer sofrer. O seu principal objetivo é deitar por terra a tese de que a força gera alegria e a alegria faz nascer ideias novas. E contrapõe, sistematicamente e com sarcasmo atroz, com a tese, mais do que estatisticamente comprovada, de que muitos são os tristes a querer um mundo triste e é expressamente proibido demonstrar entusiasmo ou qualquer espécie de alegria.
Pois fica aí sentado de cotovelos presos a essa mesa que eu lá continuarei. Há mais caminho para andar. 
Sorriso largo!

Mónica Costa



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