Tema da aula de Geografia.
Calharia a um de nós apresenta-lo individualmente. “Dar a aula”!
Na década de 90 do século XX era uma novidade pedagógica no Liceu de
Castelo Branco…e um pavor para nós, pupilos. Ainda mais com a temível, terrível
professora de Geografia. Excelente professora mas que nos mantinha em sentido.
No corredor reinava o pânico. Serás tu? Tu? Ou tu?
Contrária à sua natureza insegura, tímida, stressada, aqui a vossa
amiga estava estranhamente calma. Não era normal!
Tranquilizava a malta, apoiava os mais nervosos, confortava os necessitados,
… qual irmã de uma congregação perto de si.
Ao toque aparece a mentora, o silêncio aterrador instala-se e entramos
como gado prestes a ser degolado.
Sentamo-nos.
O olhar arguto pousa em todos nós e, invariavelmente, dá-se o fenómeno
da avestruz, baixar o olhar e a cabeça como se invisíveis fôssemos. A boca
abre-se e, sem hesitação, “Helena Goulão, venha ao estrado, se faz favor.”
Nesse momento, e no meio de um suspiro colectivo, o meu mundo parou,
acabou!
Demorei a levantar-me, o corpo não obedecia…e o impacto de encarar,
pela primeira vez, uma multidão de frente foi de tal ordem que perdi a voz.
O meu olhar percorreu todos os colegas que tão bem conhecia mas que,
de repente, eram caras estranhas olhando fixamente para um foco: eu.
Os cartõezinhos com as minhas anotações sobre a Ásia das Monções de
pouco adiantaram. A posição superior onde me encontrava expunha-me de forma
brutal e o tempo não passava e a voz não piava e a prof olhava…”Helena, estamos
à espera. Vamos lá despachar o tema ainda hoje!”.
Terrível.
Lentamente começo a ter a percepção de colegas que me tentam acordar da
minha pasmaceira. Gesticulam, esboçam sorrisos de incentivo, apontam para o
relógio (“Já falta pouco!”),…e, gaguejando, emito os primeiros sons de
articulação pouco perceptível.
Penoso.
Não creio que alguém tenha percebido algo sobre a Ásia das Monções,
mas que ficaram gratos por não terem sido eles, ai isso ficaram.
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