Eu lia e abstraía-me. Diziam-me para ler sem me explicar porquê. E o livro era tão difícil. Mas eu insistia. Olhava-o com cuidado, com vagar, com tempo, escolhendo o melhor lugar. E aos poucos, ía sentindo que o tempo parava e a luz surgia e, da confusão inicial das palavras, surgia uma ideia nítida e começava a compreender. As longas linhas fastidiosas e labirínticas transformavam-se em caminhos por onde outros tinham andado. Aumentava a curiosidade e também queria experimentar. O meu pensamento começava a organizar-se. Sentia a experiência dos outros que me avisavam. E de cada palavra transbordava a terra, o sol, a maresia. O silêncio e a calma. A paz e a vida. A guerra e a dor. Mas também a voz e a alegria. A música. A coragem dos que querem partilhar. E juntavam-se mais palavras, muitas palavras novas que, por serem percebidas, eram sentidas e, portanto, apaixonavam e prendiam.
E aquilo que agora vejo é aquilo que nunca tinha visto porque consigo enxergar sob novas perspetivas. E sei. De cada vez que levantar os olhos deste livro, nada mais será estranho porque é de todos. E, por aí fora, apenas existe o que há muito vive dentro de cada um de nós e que foi transportado para dentro de um Livro.
Dá de ti e lê!
Comentários
Enviar um comentário