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Quietinho...que não me estou a sentir bem...

MULHER - Eu sei que estás impaciente! Terrível até…! Hoje, se queres saber, eu também não estou para amar… 

MULHER - Hoje têm-me dado uns apertos no coração! Ai! Ai!  Não é por nada, mas ando aflita. Ando com faltas de ar, ando cambaleando, cheia de tonturas… é só isso. Pronto, ficas já sabendo que é só isso. 

MULHER - Assim, só te peço uma coisa. Ficas aqui só um bocadinho e seguras a minha mão…não vá eu cair…é que ando com tonturas. É isso, preciso que me dês a mão! Depois vais-te…

MULHER - Vá! Já agora que estás aqui (mesmo que contrariado) apalpa-me o pulso. Só para ver se há vida, não vá o coração parar de repente e eu tombo. 

MULHER - Olha!! Não apertes com tanta força que me esmagas as falanges! Ai! Bem, estás a brincar ou quê?!! Devagarinho, convém ser tudo muito devagarinho…é que eu não me estou a sentir bem… é só isso!

MULHER - E agora?!! O que estás a fazer? A entrelaçar o teu mindinho no meu mindinho? Ui! Isso não é dar a mão! Isso é deixar  a mão em inércia, sem atitude. 

MULHER - Larga tudo! Dá-me a mão, uma mão gigante que acolha a minha mão cada vez mais pequena sob a tua e vamos passeando um pouco. Eu, como tu sabes, não me sinto muito bem para passeios, mas pode ser que uns passitos lentos me façam respirar melhor. 

MULHER - E não precisas de estar tão calado! Diz-me, com franqueza, se não achas que estou a ficar com mãos de velha. Não achas que há pequenos sinais de velhice a aparecer?

MULHER - Claro que sim!!!!!!!!!!! Foi isso que respondeste? Olha, até parece! Estás a dizer que estou a ficar velha!! Por favor! É melhor ficares calado! As minhas mãos são maravilhosas! 

MULHER - É pena é eu estar com tonturas. Não consigo argumentar com coerência! 

MULHER - Agarra-me com as duas mãos! Eu acho que vou cair! E pára de olhar para mim com esses olhinhos… 

MULHER - Quietinho… que eu não me estou a sentir bem…

Mónica Costa
(ilustração de René Gruau)





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